Gabriel Mithá Ribeiro comenta, em seu artigo no Observador,
a entrevista concedida pelo presidente Jair Bolsonaro à imprensa
estrangeira, onde foi questionado por jornalistas de viés esquerdista
sobre a a Amazônia, inclusive de Portugal, governado pelo Partido
Socialista e o Bloco de Esquerda. Como se explica, pergunta o autor, "a
invisibilidade da ameaça ambiental em paragens com governos amigos de
esquerda, alguns deles recordistas em atropelos ambientais, como a China
ou grandes partes de África?":
No café da manhã oferecido pela presidência do Brasil à imprensa
estrangeira, Jair Bolsonaro não hesitou na resposta a um jornalista: «Primeiro, vocês têm que entender que a Amazônia é do Brasil, não é de vocês!» (10min e 20s). A frontalidade revela um saudável confronto entre o patriotismo e o globalismo.
Na conversa dominada pelas parcerias económicas do Brasil, quase
passa despercebida a intervenção de Marta Moreira, a representante de
Portugal no encontro. A jornalista da Lusa começou por colocar uma
questão de esquerda sobre a mobilidade na CPLP e, apenas depois, sobre a
relação de Portugal com o Brasil de Jair Bolsonaro recebendo deste uma
resposta cordial, lacónica e evasiva (31min e 57s), isto é, mais de seis
meses após a tomada de posse do atual presidente do Brasil, governo e
diplomacia portugueses não foram capazes de colocar nada de relevante na
agenda de Brasília.
A situação indicia o naufrágio da proteção dos interesses portugueses
num mundo em que os circuitos económicos mais dinâmicos sofrem uma
transformação estrutural na sua orientação política e diplomática, uma
tendência que se consolidará. Em ciclos de transformação histórica, o
peso das boas relações entre governos e povos torna-se ainda mais
decisivo, com a agravante dos governantes em ascensão se revelarem cada
dia menos condescendentes face à verborreia esquerdista-progressista.
Portugal segue em velocidade de cruzeiro na direção contrária também
por causa da harmonia entre o governo das esquerdas (PS apoiado pelo BE e
PCP) e o presidente da República. Marcelo Rebelo de Sousa faz coro na
incapacidade de lidar com o princípio da realidade, no caso de um mundo
que rompe com os resquícios soviéticos da Guerra Fria. O resultado está
no afunilamento da imagem externa de Portugal no ideário anacrónico das
esquerdas.
Constituindo a Ásia-Pacífico hoje o coração económico do mundo, no
que ainda sobra de relevância estratégica do Atlântico se juntarmos os
EUA, de Donald Trump (2017), o Brasil, de Jair Bolsonaro (2019), e o
Reino Unido, de Boris Johnson (2019) – todos com perspetivas de
continuidade –, e ainda o que mudará na Venezuela, os portugueses estão a
receber uma herança política pesadíssima para o futuro do seu país, e
sem paralelo no passado.
Os sinais não enganam. Se já era preocupante o presidente da
República ter falhado na confirmação da visita de Donald Trump a
Portugal, a oposição do Bloco de Esquerda à simples preparação da visita de Jair Bolsonaro garante
o agravamento dos problemas na próxima legislatura. Preferindo
furtar-se a incómodos pré-eleitorais à custa do sacrifício dos
interesses estratégicos portugueses, o Governo
Socialista não se demarcou da hostilidade do BE tratando a preparação
da visita como especulativa, sem salvaguardar sem tibiezas a honra de um
chefe de estado predisposto a visitar um país amigo.
Certas vozes críticas já se fazem ouvir. Convidar Jair Bolsonaro com tal reserva mental – a imprensa do regime não disfarça
– não ilude a firme predisposição gerada no interior do governo de
instigar todo o tipo de protestos aquando da presença de um chefe de
estado que esse mesmo governo convida. A verdade é que os portugueses
não são inocentes no marasmo antipatriótico em que o seu país se afunda.
Retomando o início do texto, no café da manhã a imprensa
internacional não desperdiçou a oportunidade de revelar o muito que a
comunicação social do Ocidente tem feito para colar a Amazónia a uma
imagem negativa do Brasil, como se os riscos de desmatamento tivessem
nascido no governo de Jair Bolsonaro. Fazem-no não para que se busquem
estratégias racionais, negociadas, justas e sustentáveis no tempo para o
mundo enfrentar os desafios ambientais, mas para atacarem a dignidade e
legitimidade de um governo que não lhes pede licença para ser de
direita.
O ambiente é, inclusive, um campo do debate cívico intelectualmente infantilizado
sobre o qual se espraiam tentações de pedofilia política, a
transformação de crianças e jovens em testas-de-ferro da insanidade
mental de certos adultos. É o que sobressai da ostentação pública de Greta Thunberg,
caso radical de órgãos de soberania, instituições e progenitores que
promovem iniciativas que descartam o dever de proteção da dignidade
inocente dos mais novos.
Para enquadrar o que está em causa, entre 1945 e 1991 a URSS impôs-se
no sistema internacional beneficiando de enormes vantagens políticas,
territoriais, geoestratégicas, económicas ou culturais não porque os
soviéticos tivessem proporcionado ao mundo quaisquer progressos
civilizacionais – em domínios como a liberdade, democracia, justiça,
ciência, tecnologia, economia, música, cinema ou outros –, mas apenas
porque, à exceção dos norte-americanos, conseguiram o monopólio do
controlo do altamente dissuasor armamento atómico ou termonuclear.
Acontece que a Guerra Fria passou à história, assim como mudou o
conteúdo dos eternos receios do fim do mundo, sendo que o núcleo
transitou da ameaça nuclear (século XX) para a ameaça ambiental (século
XXI). Paradoxalmente, Jair Bolsonaro ficará a dever aos seus adversários
– os que mantêm vivos os ideais soviéticos – a abertura de portas para
fazer do seu país uma das primeiras superpotências ambientais da
história, e justamente por causa da Amazónia, o novo tipo de arma
estratégica dissuasora no sistema internacional.
Sem colocar em causa as preocupações ambientais do Brasil, todavia se
a Europa e o Ocidente estão de facto preocupados com os equilíbrios
ambientais do planeta – e devem estar! – podem e devem transformar essa
sua preocupação numa ambição moral propriamente dita que apenas existe
quando se passa das palavras a ações. Está, portanto, em causa um
desafio moral no seu sentido estrito, o de agir por vontade própria
visando o bem comum, o que no caso da Amazónia nem sequer impõe novos
encargos ao Ocidente, humanos, financeiros ou de outra natureza. Os
decisores políticos estão, por isso, confrontados com uma escolha moral
pura e dura.
Quem investe como investe em instituições sem responsabilidade moral
ao apoiar organismos e programas da ONU e de Organizações Não
Governamentais cujos resultados, no último meio século, originaram
disfuncionalidades sempre agravadas nas sociedades e economias mais
frágeis das regiões periféricas, como têm feito os governos do Ocidente
sem exceções, dispõe de margem de manobra de sobra para alocar parte
desses mesmos recursos humanos e financeiros onde eles hoje se
justificam, tendo em conta que a nova ordem mundial se organiza a partir
do primado da proteção dos equilíbrios ambientais.
Importa sublinhar que a moral dos estados apenas existe se implicar
custos quantificáveis e beneficiários identificáveis, os povos, e cujos
resultados resistam à passagem das gerações. É por essa razão que os
recursos financeiros públicos resultantes da cobrança de impostos são
legítimos por serem direcionados para a saúde, educação, assistência
social, justiça, obras públicas, defesa e segurança das populações,
sendo tempo de integrar a proteção ambiental no núcleo duro da ideia de
estado.
Se as pressões internacionais são legítimas, não é menos legítimo que
o governo do Brasil quantifique o rendimento económico que, em cada
ano, obteria com a exploração racional da floresta da Amazónia. Em
troca, os países de facto interessados na preservação dessa reserva
natural podem e devem estar predispostos a compensar financeiramente o
Brasil por não explorar recursos que são em exclusivo seus. O eventual
entendimento pode ainda contemplar programas específicos de reposição
dos desmatamentos das últimas décadas. Além disso, esse programa pode
servir de modelo para intervenções idênticas em África.
Não existem razões para o que está em causa na Amazónia não poder ser
objetivamente identificado, territorialmente delimitado e quantificado
em termos financeiros para poder ser traduzido sem ambiguidades em
compromissos entre o Brasil e poderes nacionais ou supranacionais
estrangeiros, por exemplo, a UE, EUA, Austrália, Nova Zelândia ou
Israel.
Num mundo em que os países se consideram iguais na sua
autorresponsabilidade, este tipo de iniciativas não deve ter subjacente
qualquer ideia de caridade de um grupo de países ricos em relação a um
país menos rico, como acontece com os protocolos liderados pela ONU. Os
últimos foram arrastados para vícios ideológicos e políticos que
alimentam o pior do parasitismo burocrático, os especialistas em sugar
financeiramente certos países sem nada resolver de concreto e de
auto-sustentável no tempo. A via pode passar por acordos bilaterais ou
multilaterais entre países capazes de estabelecer relações de confiança
mútuas entre visando propósitos circunscritos e objetivos, e assentes em
contratos económicos no sentido estrito do termo que apenas se
distingam dos contratos de exploração de outros recursos estratégicos,
como petróleo e gás natural, por serem sustentados em razões morais
favoráveis aos destinos da humanidade.
Também como quaisquer contratos dessa natureza, as decisões internas
são da estrita competência de cada país no âmbito da sua soberania.
Como sublinha Jair Bolsonaro, o resto é do domínio da psicose
ambiental até porque a erosão dos recursos naturais da Amazónia não é
para amanhã. Há ainda a garantia da psicose ambiental desaparecer assim
que a esquerda eventualmente regresse ao governo do Brasil, e sem que
nada de substantivo se altere. É o mesmo princípio que explica a
invisibilidade da ameaça ambiental em paragens com governos amigos de
esquerda, alguns deles recordistas em atropelos ambientais, como a China
no seu território e o que fez em África onde fez desaparecer, em poucas
décadas, partes substanciais das florestas daquele continente.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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