A reforma da Previdência é condição necessária, mas não suficiente, para que o país volte a crescer. Coluna de Carlos Bricikmann:
A reforma da Previdência será votada em breve e deve passar. Talvez
não seja exatamente aquela que o ministro Paulo Guedes queria, mas não é
tão diferente assim. Prometia o Governo que, aprovada a reforma, o país
voltaria a crescer, amparado em imensos investimentos internacionais.
Só que não: a reforma da Previdência é condição necessária, mas não
suficiente, para que o país volte a crescer. Qual investidor gosta de
colocar seu dinheiro num país em que é praticamente impossível fechar
uma empresa, em que o cálculo do pagamento dos impostos leva muito mais
tempo e consome mais recursos do que na maior parte de outras nações, em
que ações trabalhistas nunca param?
Em resumo, a reforma da Previdência abre uma janela de oportunidade
para a retomada do crescimento. Mas não funciona sozinha: é preciso
fazer outras reformas (a tributária, principalmente), mexer na área de
segurança jurídica (hoje, sozinho, um ministro do Supremo adia por
quanto tempo quiser uma transação de bilhões de dólares), criar
condições para que clientes de bancos ganhem pouco quando aplicam e
muito quando devem, isso para dar apenas alguns exemplos. É preciso ter
estabilidade política, para que o mercado saiba quem decide. É preciso
deixar claro que receber ou cobrar propinas não é tolerável. Cadê as
propostas oficiais? Há propostas que são discutidas pelo Congresso, mas
não são as do Governo, e são bombardeadas pelos bolsonaristas. É preciso
botar ordem na casa. Sem isso não se cresce.
Quem é quem
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, assumiu o papel que deveria ser
o do articulador político do Governo, colocou a reforma da Previdência
como prioridade, buscou propostas anteriores (boa parte ainda da
administração de Michel Temer) e está, objetivamente, ajudando
Bolsonaro. Mas é atacado como se estivesse planejando a deposição do
presidente. Os bolsokids, ativos na Internet, procuram desmoralizá-lo —
até de gordo ele já foi acusado. Seu projeto de segurança pública não é o
de Moro? E daí? É o de Alexandre de Moraes, hoje ministro do Supremo. É
pior que o de Moro? Pode ser; mas a pergunta é se a coisa fica melhor
ou pior com a aprovação do projeto. Ao que tudo indica, a segurança
pública pode ganhar. Mas se os “ideólogos” do bolsonarismo (outros os
chamariam de “radicais”) desconfiam de que a lei a ser aprovada é
diferente da proposta pelo presidente, mordem no pescoço.
Metade do ano
O fato é que, hoje, há muitos congressistas profundamente irritados
com o presidente da República e dispostos a derrotá-lo sempre que
possível. Foi o que fizeram com as medidas provisórias, as armas, e que
prometem repetir. Os bolsokids prometem publicamente (e quem falou por
eles foi Eduardo Bolsonaro, o filho 03) que todas as vezes que o
Congresso “não se comportar” jogarão as ruas contra eles. Confiam que os
manifestantes são de total confiança, dispostos a apostar tudo em nome
da verdade oficial.
O lado de Moro
A manifestação de domingo foi pró-Moro. Os filhos do presidente não
trabalharam por ela. Há quem tema que Moro queira o Planalto.
E os militares?
A elegância no trato não é, já se sabe, uma característica do Governo
de Bolsonaro. Aparentemente, tanto ele quanto seus adeptos mais
intransigentes passam boa parte do tempo à procura de inimigos, mesmo
que sejam amigos de décadas, amigos a toda prova. Isso faz com que o
número de inimigos cresça. Bebianno caiu, Santos Cruz caiu, o
general-ministro virou presidente de estatal à venda — e soube das
intenções do presidente pelo jornal. Agora o alvo é o general Augusto
Heleno, amigo de Bolsonaro, que vira alvo do 02, Carluxo, o filho do
presidente. O problema é que militar, por mais simpático que seja, anda
armado e é treinado para comandar. Até quando aceitará provocações e
humilhações? Lembremos que Olavo de Carvalho, lá de sua casa nos Estados
Unidos, já ofendeu com palavrões o general Santos Cruz.
Solidariedade
No caso do ataque ao general Augusto Heleno, dizem que, conversando
com jornalistas, Bolsonaro se disse solidário com ele. Como diria o
próprio Bolsonaro, “talkey”. Mas ficar impassível diante de ofensas
públicas e só se manifestar em particular é a mesma coisa que participar
das ofensas. E, no caso, as ofensas buscaram atingir a boa reputação do
general, já que puseram no Gabinete de Segurança Institucional, que ele
dirige, a culpa do caso do sargento que traficava cocaína. Carluxo
disse também que anda sem seguranças oficiais porque são “subordinados a
algo em que não acreditam”. Bolsonaro se recusou a responder a
perguntas sobre o tema, mas apareceu em companhia do general, uma forma
de mostrar que tem prestígio. E nada falou em defesa do amigo e
ministro: limitou-se a dizer aos repórteres que deveriam procurar o 02 —
como se até agora as opiniões do filho 02 não tenham se confirmado com
as decisões do papai.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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