Bolsonaro tomou café da manhã com os presidentes dos outros poderes e todos concordaram em apoiar uma agenda de reformas. Maravilha: concórdia, em nome dos superiores interesses do Brasil (e válida até que ocorra nova troca de insultos). Coluna de Carlos Brickmann:
Não, eles não eram
maioria: mas havia, entre os bolsonaristas que foram às ruas,
estridentes grupos radicais, que pediam o fechamento do Congresso e do
Supremo e insultavam Rodrigo Maia, o articulador das reformas. Bolsonaro
elogiou os manifestantes. E qual foi a consequência de tudo?
O amor é lindo: o
presidente Bolsonaro tomou café da manhã com Rodrigo Maia, presidente da
Câmara, Dias Toffoli, presidente do STF, David Alcolumbre, presidente
do Senado, e todos decidiram apoiar uma agenda conjunta pelas reformas.
Maravilha: concórdia, em nome dos superiores interesses do Brasil (e
válida até que ocorra nova troca de insultos).
Mas que concórdia é
essa? Um ministro do Supremo, a quem cabe julgar a constitucionalidade
do que é votado, não pode fingir que não viu nada de ilegal, se
ilegalidade houver. Ou seja, só apoia por apoiar. A Câmara aprovou a
medida provisória que reduziu o número de ministérios de 29 para 22, e
manteve o Coaf com Guedes, não com Moro. Bolsonaro se conformou (se o
Senado mudar algo, a MP tem de voltar à Câmara, e talvez não haja tempo
de votá-la até dia 3, quando expira e voltam a existir 29 ministérios).
Mas o líder de Bolsonaro no Senado quer o Coaf na Justiça, e luta para
mudar a MP. Ministro de Bolsonaro, Moro também quer que a MP mude. E
ninguém se entende. Alcolumbre não fala, mas presta muita atenção.
Traduzindo, eles concordam apenas em concordar. Talvez funcione. E seja o que Deus quiser.
Centrão sem centrão
Diante das críticas
dos manifestantes ao Centrão, visto como interessado só na Oração de São
Francisco (“é dando que se recebe; é perdoando que se é perdoado”),
Rodrigo Maia, mais Centrão impossível, convidou deputados para formar
uma frente suprapartidária, deixando o Centrão de lado. Entram na lista
desde Kim Kataguiri e Pedro Lupion, do DEM, até Sílvio Costa, do PRB,
partido de Valdemar Costa Neto, e Tábata Amaral, a musa do pessoal de
primeiro mandato, do PDT de Ciro Gomes. Objetivo: montar uma agenda
positiva, seja lá isso o que for. Ou, mais simples, lutar pelas
reformas, ao lado da equipe econômica, que se reunirá frequentemente com
eles. A ver.
Precisa dar certo
A barafunda política
atrapalhou algo que, diante da crise, estava correndo sem obstáculos: as
reformas (já que, sem elas, não haverá investimentos nem a Previdência
conseguirá pagar as aposentadorias). A demora no andamento das propostas
já se reflete pesadamente no prestígio de Bolsonaro entre os
investidores institucionais. A pesquisa da empresa de investimentos, que
busca informações para seus investidores) mostra que a aprovação de
Bolsonaro entre agentes do mercado financeiro caiu de 28% para 14%, de
abril para cá. E 43% dos investidores institucionais avaliaram como ruim
ou péssimo o desempenho do Governo. Em abril, esta era a sensação de
24% dos ouvidos.
Quem melhorou, para
esse nicho específico de investidores institucionais, foi o Congresso:
seu trabalho foi considerado ótimo ou bom por 32% (em abril eram 15%), e
a porcentagem de ruim e péssimo caiu de 40% para 25%. Importante: 80%
confiam na aprovação da reforma da Previdência neste ano. O percentual é
o mesmo desde fevereiro. Espera-se que todas as votações no Congresso
estejam concluídas no quarto trimestre. Mas se acredita que a reforma
poupará R$ 700 bilhões em dois anos, embora a proposta original do
Governo trabalhe com R$ 1,237 trilhão de economia.
Visão de futuro
De acordo com a
pesquisa, se a reforma da Previdência não for aprovada, a Bolsa cairá
20%, para 75 mil pontos, e o dólar subirá 12%, para R$ 4,50. Se a
reforma trouxer metade da economia proposta, a Bolsa subirá 7%, para 100
mil pontos, e o dólar ficará em R$ 3,90. Caso a reforma proposta pelo
Governo passe integralmente, a Bolsa subirá 28%, para 120 mil pontos, e o
câmbio irá para R$ 3,60 por dólar. Espera-se que, em quatro anos, a
venda de ativos do Governo, no processo de privatização, atinja R$ 300
bilhões.
Aliados, mas desafetos
O ministro da
Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, tem um esporte favorito:
falar mal do diretor-geral da Agência Nacional de Transportes
Terrestres, Mário Rodrigues, de quem é desafeto. Diz insistentemente que
a ANTT está fragilizada por ter seu diretor citado em delação premiada,
o que é ruim para a imagem e a credibilidade da agência.
Pois é: quando era
subordinado ao ministro Moreira Franco, igualmente citado em delações,
Tarcísio não se preocupava – tanto que não pediu para sair. Mas agora,
para se livrar do desafeto, pensa até em mudar a estrutura do
Ministério, fundindo a ANTT com a Antaq, Agência Nacional de Transporte
Aquaviário.
O atual Governo
parece copiar o PSDB, um partido de amigos composto 100% por inimigos.
Os aliados do presidente querem exclusividade: não conseguem admitir a
existência de outros aliados e os combatem com fervor.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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