Nos países civilizados, escreve Augusto Nunes,
os meios de comunicação promovem duelos entre candidatos livremente
escolhidos entre os líderes das pesquisas eleitorais. Já a engessadora
legislação brasileira é, de fato, a mais imbecil do planeta:
A legislação eleitoral brasileira, talvez a mais imbecil do planeta,
ordena que as emissoras convidem para os debates entre candidatos à
Presidência da República todos os inscritos por partidos que tenham um
mínimo de cinco parlamentares no Congresso. Ou se convida a turma toda —
do grupo de elite aos que cambaleiam na zona do rebaixamento — ou não
tem jogo.
Nos países civilizados, emissoras de TV promovem duelos entre os
líderes das pesquisas eleitorais e, eventualmente, estendem o convite a
concorrentes que julgam merecedores da atenção dos votantes. O objetivo é
mostrar aos espectadores como são e o que pensam os candidatos que
podem assumir a chefia do governo. No Brasil, só se houver segundo turno
é possível exibir um confronto entre dois debatedores.
No primeiro turno, um Cabo Daciolo tem de estar presente para que o
evento comece — a menos que a figura que transformou a Bíblia em
programa de governo resolva rezar em lugar incerto e não sabido. Foi o
que fez neste domingo, para não comparecer ao evento organizado em
parceria pela TV Gazeta, pelo Estadão e pela Jovem Pan.
Se pensassem nos eleitores, os candidatos estariam exigindo, em
conjunto, a revogação dessas regras estúpidas. Em vez disso, trataram de
acrescentar às restrições legais mais camisas de força e acabaram
inventando o debate sem debate. Foi o clube dos assessores
especializados em debate sem debate, por exemplo, que limitou tais
eventos a duas horas a duração de encontros do gênero. É também coisa
desse clube a resposta de um minuto e meio, ou a réplica de trinta
segundos, ou a supressão do direito de réplica quando quem pergunta é um
jornalista.
Por que os presidenciáveis rejeitam debates de verdade? Por que não
reivindicam mais tempo para a exposição de ideias, propostas e planos
(em linguagem inteligível, de preferência)? Talvez porque todos prefiram
contar mentiras e desfiar fantasias sem se arriscarem a contestações
incômodas. Talvez porque desconfiem que nada do que têm a dizer precisa
de mais que 90 segundos.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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