Maria Cristina Valle, ex-mulher de Bolsonaro. |
Esse tipo de política rasteira e de jornalismo cinzento, de fontes
obscuras, é o pior caminho que se poderia imaginar para a campanha
presidencial, a caminho das urnas eletrônicas, em 7 de outubro.
Prejudica a todos e, mais uma vez, fere a política, a inteligência e a
verdade. Artigo de Vitor Hugo Soares, via Blog do Noblat:
A história mal contada do affair conjugal do candidato Jair Bolsonaro
(PSL) e sua ex-mulher – em reportagem inicial da Folha de S. Paulo – é
lastimável sob inúmeros aspectos, nesta altura do campeonato. Traz de
volta, infelizmente, para os debates da campanha presidencial, episódio
típico do jornalismo perverso e malicioso (para dizer o mínimo) e conduz
o embate político para o terreno baldio dos escândalos de família e das
fofocas. Abrindo espaços – nos jornais, noticiários da TV e discussões
nas redes sociais – que deveriam ser preenchidos por propostas
programáticas de alternativas de saídas para a preocupante crise moral,
política, social e econômica em que o país afunda.
Em lugar disso, mais nitroglicerina pura é distribuída, com fartura,
para os contendores e seus adeptos já ensandecidos. A impressão é de que
nada valeram as lições desastradas de campanhas presidenciais mais
recentes, ou mais remotas. Persiste a rançosa tentação (cultural?) da
política de ponta de rua e dos golpes desferidos abaixo da linha da
cintura de velhas campanhas.
Na hora H, da primeira volta das presidenciais, a imprensa e o debate
político parecem ceder à tentação do submundo das querelas de casais,
envolvendo ex-esposas e filhos. Na verdade, a exemplo do saudoso
compositor e cantor Belchior, “estes casos de família e de dinheiro eu
nunca entendi bem”. Mas sei que, em geral, em tempos de política
misturada com jogo eleitoral e disputas de poder, quase sempre terminam
mal.
O caso da “denúncia” de tentativa de agressão do candidato do PSL – à
frente em todas as pesquisas de primeiro turno -, à sua ex-mulher,
durante litígio pela guarda do filho do casal, é constrangedor. Mal (ou
bem?) comparando, tem características simbólicas de uma segunda facada
em Bolsonaro. Ainda internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo,
depois de esfaqueado no estomago, durante ato de campanha em Juiz de
Fora. Desta vez, um golpe pelas costas.
Não é preciso puxar pela memória para encontrar semelhanças – sob o
ponto de vista da ética na política e do papel da imprensa – deste
triste episódio envolvendo o candidato, sua ex-esposa e filho, com o
caso, no final da campanha presidencial Collor x Lula, em novembro de
1989, quando o atual senador alagoano – com ajuda ativa ou complacente
de setores relevantes da mídia – jogou o então líder sindical, fundador
do PT, sua ex-mulher e sua até então desconhecida filha Lurian no olho
do furacão das discussões no país. Triste episódio para a política e
para a imprensa.
Poderia citar fatos semelhantes, na atual e em campanhas passadas.
Prefiro parar nesses dois exemplos emblematicamente cavernosos..
Acrescento apenas: Maria Cristina Valle, ex-mulher de Bolsonaro, nega
indignada que tenha sofrido agressões do marido, como publicado e diz
não fazer ideia “de como surgiu essa história” do documento do
Itamaraty, segundo o qual teria relatado ameaças do ex-marido. “Numa
separação sempre há tensões, mas jamais falei aquilo. O papel do
Itamaraty é outro ponto nebuloso desta história, a ser esclarecido.
No mais,reafirmo: esse tipo de política rasteira e de jornalismo
cinzento, de fontes obscuras, é o pior caminho que se poderia imaginar
para a campanha presidencial, a caminho das urnas eletrônicas, em 7 de
outubro. Prejudica a todos e, mais uma vez, fere a política, a
inteligência e a verdade. Ou não?
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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