MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

quarta-feira, 12 de setembro de 2018

O problema não é propriamente Jair Bolsonaro, mas quem vota nele


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Charge do Junião (Arquivo Google)
Clóvis Rossi
Folha

O problema não é Jair Bolsonaro. O problema são os que se dispõem a votar nele e que constituem, segundo o mais recente Datafolha, um terço dos eleitores (no segundo turno). Ou, mais corretamente, o problema é o sinal enviado por essa parcela do eleitorado. Por que o problema não é Bolsonaro? Porque, conforme ensinam os especialistas em sociologia e política, a liquidação da democracia não se dá mais, hoje em dia, pelos tanques e canhões, mas pela erosão lenta, gradual e segura promovida por quem chega ao poder, de farda ou de terno, pelo voto popular.
Venezuela e Nicarágua são os dois exemplos do momento na América Latina. Há outros até na Europa ultracivilizada.
IMPROVÁVEL – Parece altamente improvável, primeiro, que Bolsonaro se eleja, conforme mostraram as simulações de segundo turno no Datafolha. E, se ganhar, é mais improvável ainda que consiga levar adiante o trabalho de demolição da democracia.
Não digo que não queira. É, visivelmente, um autoritário empedernido. O problema é que não terá a colaboração da maioria do Congresso, da maioria dos governadores, da maioria dos partidos e, acima de tudo, enfrentará uma sociedade civil razoavelmente articulada.
Dividida, é verdade, mas naturalmente pouco inclinada a ceder os espaços de liberdade e de participação que foi conquistando. Democracia é oxigênio para a sociedade civil.
EXORCISMO – Mesmo os militares, salvo alguns alucinados, não têm em tese incentivo para estrangular a democracia. O fantasma do comunismo, usado como pretexto para o golpe de 1964, já foi exorcizado.
As elites, que conspiram contra a democracia sempre que sentem seus interesses ameaçados, não têm com que se preocupar. Até o PT deixou de ser aquele partido cuja vitória, em 1989, levaria 800 mil empresários a deixar o país, na famosa frase de Mario Amato, então presidente da Fiesp.
Lula acabou ganhando 13 anos depois e, em seu governo, os empresários nunca ganharam tanto dinheiro, segundo o próprio Lula diria mil e uma vezes. Os 13 anos e algo de governos petistas não tocaram em um só fio de cabelo das elites.
NÃO CONVENCE – O problema, do meu ponto de vista de militante pela democracia, é que ela, nesses seus 33 anos de vigência no Brasil, não conseguiu convencer um terço do eleitorado de que é o pior dos regimes, fora todos os outros, para citar Winston Churchill.
Há uma parcela nada desprezível de brasileiros que prefere o pior dos regimes, uma ditadura, resgatada, pela primeira vez nas oito eleições democráticas, das catacumbas a que havia sido felizmente condenada.
ÀS ESCÂNCARAS – Posso até ver algo de positivo nesse ressurgimento: é melhor que os viúvos e viúvas da ditadura trabalhem à luz do dia, no processo eleitoral, do que conspirem nas sombras, como fizeram nos anos 60, até derrubar o governo e impor 21 anos de trevas.
Mas é importante que os que rejeitam o autoritarismo que Bolsonaro simboliza tomem consciência de que a eleição de 2018 é uma demonstração de que a democracia está capengando. Uma muleta —rejeitar o autoritarismo— não vai bastar. É preciso restabelecer a confiança no modelo democrático, sob pena de que, em algum próximo assalto, ele vá a nocaute.
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