Riscos estão sempre rondando qualquer economia.
Alguns podem ser mais difíceis de se antecipar do que outros, como
uma guerra, um colapso repentino dos mercados financeiros ou um desastre
natural de grandes proporções.
Mas, em determinados casos, há sinais que alertam os economistas para
potenciais ameaças e que permitem fazer previsões no curto e no médio
prazo.
Neste início de 2018, diversos organismos internacionais listaram as
possíveis ameaças à economia mundial. Apesar da previsão de crescimento
de 3,1% para este ano, ainda existem incógnitas e ameaças latentes.
Confira abaixo algumas dos riscos projetados para o ano, de acordo
com especialistas consultados pela BBC Mundo, o serviço em espanhol da
BBC:
José Juan Ruiz, economista-chefe do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID):
– Riscos geopolíticos e de estabilidade das instituições e das regras
globais. Qual será o futuro da Organização Mundial do Comércio e do
Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta)? Haverá uma
escalada das tensões entre EUA e Coreia do Norte, ou entre EUA e China?
Estas são algumas das incertezas que podem prejudicar a economia.
– Queda do crescimento da produtividade, tanto em países
desenvolvidos como emergentes. Hoje a produtividade cresce menos do que
no passado, porque mundo ainda não sabe como utilizar bem as novas
tecnologias nos sistemas produtivos. Outro elemento que influi nessa
dinâmica é o envelhecimento crescente da população, que diminui a faixa
dos economicamente ativos.
– A surpresa da inflação. Há um consenso amplo no mundo de que
estamos em uma fase de inflações estruturalmente baixas, com condições
monetárias muito favoráveis e mercados abundantes que criam riqueza
financeira com pouca volatilidade. Isso provocou uma sincronização da
recuperação econômica. Mas, se a inflação subir nos Estados Unidos (que é
o esperado), pode haver um aumento na taxa de juros e mudanças nesse
cenário.
– Aumento dos níveis de endividamento do setor privado e também dos
próprios países. Com isso, alguns recursos que seriam usados em
investimentos ou em programas sociais terão que ser destinados a pagar a
dívida.
– Há um dilema moral. As empresas precisam apostar no bem comum, e
não apenas nos lucros dos acionistas. Isso é um risco, mas levanta a
questão sobre como as empresas podem ganhar legitimidade perante uma
sociedade cada vez mais cansada do aumento da desigualdade. Eu acredito
que esse debate pode ter um efeito importante.
Alicia Bárcena, secretária-executiva da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal):
– Mudança climática. Este é o maior desafio que estamos enfrentando. O
aquecimento global, os desastres naturais, a escassez de água e a
contaminação podem colocar 122 milhões de pessoas na pobreza extrema,
além das que já estão nessa situação hoje.
– Crescente desigualdade. O aumento da desigualdade de renda e a
polarização social são consequências adversas da hiperglobalização,
especialmente no mundo desenvolvido. Hoje existem oito pessoas que
concentram uma riqueza equivalente à de 50% da população mundial mais
pobre. A desigualdade ameaça a sustentabilidade econômica e social do
atual modelo de desenvolvimento; seus custos ameaçam o bem-estar, o
investimento e a inovação.
– Diminuição da confiança na democracia. Uma cultura baseada em
privilégios transforma as diferenças em desigualdades. Estas tensões
sociais, combinadas com incertezas, têm enfraquecido a confiança pública
nas instituições democráticas.
– Crise do multilateralismo. Os grandes e persistentes desequilíbrios
na conta corrente dos países, juntamente com as mudanças de localização
de empresas e a piora nas condições de trabalho, têm provocado um
ressurgimento do protecionismo em muitos lugares. Isso, combinado com
negociações comerciais ineficientes, enfraquece o sistema de comércio
multilateral internacional.
– Impacto desigual da revolução tecnológica. Mais de 40% da
humanidade continua desconectada, não participa e nem tem voz na nova
economia digital. Assim como as novas tecnologias redefinem os produtos e
o mercado de trabalho, a distribuição desigual e o consumo dessas
tecnologias afetam o crescimento e criam novas desigualdades.
Carlos Arteta, economista líder do Grupo de Perspectivas Globais de Desenvolvimento do Banco Mundial:
– Endurecimento abrupto das condições internacionais de
financiamento. Isso pode acontecer caso os mercados financeiros
reavaliem a velocidade com que os bancos centrais doa países
desenvolvidos normalizam suas políticas monetárias. Por exemplo, se a
inflação nessas economias crescer mais do que o previsto.
– Reajuste muito rápido nos mercados de ações. Este risco tem
aumentado devido a níveis muito altos registrados nas bolsas de valores
mais importantes do mundo, assim como baixas taxas de juros. Essas
condições poderiam mudar rapidamente e gerar tensão financeira.
– Aumento das restrições ao comércio. A ameaça tem crescido diante
das tendências protecionistas de algumas das economias mais importantes
do mundo, como a dos Estados Unidos.
– Crescimento da incerteza na política econômica. Mudanças drásticas
na condução da economia poderiam afetar as decisões de investimento.
– Aumento das tensões geopolíticas. Um endurecimento das tensões na
península coreana ou no Oriente Médio, por exemplo, poderia minar a
confiança e prejudicar a atividade econômica.
R7
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