Em artigo
publicado no Observador, João Marques de Almeida critica os professores
Boaventura Sousa Santos (malhado pelo aqui no blog há mais de uma década
por ser contra a ciência e a tecnologia e louvar ditadores) e Francisco
Louçã, que caíram na cantilena "golpista" pregada pelo lulopetismo -
aliás, não abandonam suas ideologias de pretensões totalitárias:
Boaventura
Sousa Santos e Francisco Louçã não têm qualquer dúvida: a investigação
judicial contra Lula é um processo politico. O primeiro define a
operação Lava Jato como uma tentativa de “liquidar, pela via judicial,
não só as conquistas sociais da última década como também as forças
políticas que as tornaram possíveis.” Segundo o Professor Boaventura, as
autoridades judiciais brasileiras tornaram-se instrumentos dos sectores
conservadores brasileiros e do “imperialismo americano” (não há delírio
de Boaventura sem a inclusão dos imperialistas americanos). Francisco
Louçã é igualmente claro: “O objectivo da condenação é evidente … era
necessário impedir a inscrição da candidatura de Lula no registo
eleitoral.”
Os
Professores fazem estas acusações sem apresentarem qualquer evidência,
qualquer prova. O argumento é basicamente o seguinte: um político de
esquerda é acusado e condenado, logo a justiça está ao serviço da
direita. O que os nossos professores omitem é que dezenas de
funcionários judiciais participaram nas investigações sobre Lula, desde
procuradores e agentes da Polícia Federal até juízes, incluindo os do
Supremo Tribunal Federal (muitos deles nomeados por Lula e por Dilma).
Só mesmo mentes delirantes é que acreditam que estas dezenas de pessoas
estejam ao serviço de uma estratégia política. Também não colocam a
interrogação natural: por que razão a direita só usou as instituições
judiciais mais de doze anos depois de Lula e do PT terem subido ao
poder? Obviamente, não têm resposta para esta questão.
A
ligeireza e o tom seguro das acusações de Boaventura e de Louçã mostram,
em primeiro lugar, uma arrogância dos velhos europeus sobre o Brasil.
Como se atrevem, de um modo tão ligeiro, a questionar o estado de
direito no Brasil? Que autoridade têm para o fazer? Só o fazem porque
exploram a imagem do Brasil como um país de terceiro mundo onde é
natural que a justiça seja explorada por interesses políticos. Estão
errados. Desde o início da investigação Lava Jato, as autoridades
judiciais brasileiras têm mostrado um elevado profissionalismo,
independência e capacidade para desmascarar a corrupção política. E a
justiça brasileira não investigou apenas políticos do PT. O PMDB, um
partido de “direita” para Boaventura e para Louçã, tem antigos
ministros, antigos governadores e antigos senadores na prisão, entre
eles o tão detestado Eduardo Cunha, que liderou o processo de
destituição de Dilma no Congresso. O antigo candidato presidencial do
principal partido de centro direita e aspirante a candidato nas eleições
deste ano, Aécio Neves do PSDB, está a ser igualmente investigado, o
que de resto já o terá afastado das presidenciais de Outubro. A verdade é
que a justiça brasileira é um exemplo para muitos países europeus.
Os
delírios de Boaventura e de Louçã também se explicam pelo seu fanatismo
ideológico. Por definição, a esquerda — ou pelo menos a esquerda deles –
não é corrupta. A corrupção é um exclusivo da direita. Por isso, não se
atrevem a discutir de um modo sério os anos de Lula no poder. Desde o
mensalão até ao Lava Jato, as investigações mostram que os governos do
PT foram os mais corruptos da história do Brasil. O PT usou os recursos
da Petrobrás e dos bancos públicos para reforçar o seu poder político,
comprando até os deputados de outros partidos. Essa é a grande verdade
das presidências de Lula. Louçã diz que Lula cometeu um erro ao aliar-se
ao PMDB (sim, o tal partido de “direita”), mas não foi um erro. Lula
não comete erros desses. A aliança entre o PT e o PMDB foi o elemento
central de uma estratégia de poder absoluto dos dois partidos, que
partilharam durante mais de 12 anos os recursos do Brasil. Quando se
aliou ao PMDB, Lula sabia muito bem o que estava a fazer e conhecia os
seus aliados. Lula promoveu uma aliança entre os intelectuais e os
sindicatos de São Paulo com os herdeiros mais sinistros dos velhos
“Coroneis” do Nordeste Brasileiro (o PMDB) para governar o Brasil. Mas
isso não interessa nada a Boaventura, ou é reduzido a um erro por Louçã.
Boaventura
e Louçã revelam ainda uma leitura “romântica” da herança de Lula (o
romantismo e o totalitarismo andaram sempre de mãos dadas). Boaventura
sublinha “as conquistas sociais” e Louçã destaca a luta do PT e de Lula
contra a “extorsão do pecúlio público por elites gananciosas”
(descrevendo involuntariamente o que a aliança entre o PT e o PMDB fez).
É verdade que a pobreza diminuiu durante os anos de Lula na
presidência. Mas convém notar que muitas políticas sociais, como a bolsa
família, começaram com Fernando Henrique Cardoso, e não com o PT. Lula e
o Brasil beneficiaram entre 2002 e 2010 do preço elevado do petróleo e
da venda de matérias primas à China.
Boaventura
e Louça ignoram, obviamente, a aliança entre Lula e as elites
empresariais brasileiras. Ao contrário do que dizem, “as elites
brasileiras” adaptaram-se muito bem a Lula e ao PT. Boaventura e Louçã
gostam muito de números. Deixo-lhes um desafio. Vejam o aumento de
números de bilionários e de milionários no Brasil durante os anos de
Lula, o crescimento da riqueza das elites e o aumento do fosso entre os
mais ricos e a classe média. Vejam também quem foram os amigos do
Presidente Lula, com quem ele privava e com quem organizava os seus
adorados churrascos. Vejam como eram as festas dos principais dirigentes
do PT. Como disse uma jornalista brasileira, “desde que deixou o
Planalto, Lula nunca mais viajou em voo comercial. Passou a usar apenas
aviões privados.“
A
história de Lula tem tanto de simples como de dramático. Um antigo
operário, com carisma e talento politico, usou os recursos públicos do
seu país para reforçar o poder do seu partido e dos seus aliados. Pelo
caminho, deslumbrou-se com a riqueza dos seus novos amigos empresários e
quis ser como eles. Boaventura e Louçã nunca o poderão reconhecer,
porque isso significaria o colapso das ideologias em que acreditam. A
hegemonia política e a apropriação do Estado e dos recursos públicos
acabam fatalmente na corrupção. No Brasil e na Europa.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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