Em relatório entregue ao
STF, a PF informa que não há provas de propina em contratos de Furnas.
As referências nas delações de Delcídio e Yousseff foram assim
resumidas: foi tudo por "ouvir dizer":
A Polícia Federal entregou ontem ao Supremo Tribunal Federal (STF) o relatório do inquérito que investiga se o senador Aécio Neves
(PSDB-MG) recebeu propina referente a contratos de Furnas. A conclusão
da PF é que a apuração, desencadeada a partir de delações premiadas
firmadas na Operação Lava Jato,
não conseguiu provar que Aécio foi beneficiado com dinheiro desviado da
diretoria de Engenharia da estatal durante os governos dos
ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva.
No relatório, a PF afirma que as delações premiadas do ex-senador Delcídio do Amaral (ex-PT-MS), do doleiro Alberto Youssef
e do lobista Fernando Moura, que levaram o inquérito a ser reaberto, em
2016, não apresentaram provas do envolvimento do tucano no esquema de
corrupção na estatal, especialmente em contratos da diretoria de
Engenharia, comandada entre 1996 e 2005 por Dimas Fabiano Toledo.
No documento enviado
ao STF, o delegado da PF Álex Levi Bersan de Rezende, diz que os relatos
de Delcídio e Youssef “teriam chegado ao conhecimento de ambos por
‘ouvir dizer’”. Segundo Rezende, na investigação “restou evidente” que
houve “uma série de irregularidades” em contratos da estatal durante a
gestão de Toledo, mas que “não é possível atestar que Aécio Neves da
Cunha realizou as condutas criminosas que lhe são imputadas, recebendo
propina oriunda de contratos de Furnas, em virtude da influência que
poderia ter exercido sobre Dimas Fabiano Toledo”.
O delegado também
afirma que a investigação a partir das delações não conseguiu reunir
provas de que outros políticos do PSDB, do PP e do PT tenham recebido
dinheiro desviado da estatal do setor elétrico.
Delcídio do Amaral disse em sua delação firmada com a Procuradoria-Geral da República
que teve uma conversa com Lula, no início do governo dele, em que o
petista teria lhe perguntado quem era Dimas Toledo. Segundo Delcídio, o
ex-presidente afirmou que Toledo devia estar “roubando muito” porque
Aécio Neves, então governador de Minas Gerais, o ex-deputado José Janene
e o ex-ministro José Dirceu pediram pela permanência dele no cargo. Em
depoimento no inquérito, Lula negou o conteúdo do diálogo.
No caso de Alberto
Youssef, as revelações dele de que Aécio tinha influência na nomeação de
Dimas Toledo e em função disso receberia propina na estatal, inclusive
na “lista de Furnas”, foram baseadas em conversas do doleiro com Janene,
morto em 2010, e o ex-executivo da empreiteira Bauruense Airton Antonio
Daré, morto em 2011.
O único depoimento
que corroborou as versões de Delcídio e Youssef, conforme o relatório da
Polícia Federal, foi do lobista Fernando Moura que, nas palavras do
delegado Aléx Rezende, “precisa ser avaliado com cautela, por se tratar
de pessoa que já foi desacreditada pela justiça e treve seu acordo de
colaboração premiada revogado por ter mentido em juízo”.
A conclusão do
inquérito da PF é mais uma boa notícia a Aécio Neves desde que ele foi
atingido em cheio pela delação premiada de executivos do Grupo J&F,
que controla a JBS. Um dos principais alvos da Operação Patmos,
deflagrada em maio, o senador recuperou o mandato parlamentar, do qual
havia sido afastado pelo STF, e viu sua irmã, Andrea Neves, e seu primo,
Frederico Pacheco de Medeiros, presos pela PF, serem mandados à prisão
domiciliar por decisão do Supremo.
Diante do relatório da PF, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot,
decidirá se arquiva o inquérito ou se oferece denúncia ao STF. Com a
proximidade do fim do mandato de Janot à frente da PGR, é possível que a
decisão seja tomada por sua sucessora, Raquel Dodge, que toma posse em 18 de setembro.
Defesa
Por meio de nota, o
advogado Alberto Zacharias Toron, que defende Aécio Neves, diz que “após
a realização de inúmeras e detalhadas diligências, incluindo a oitiva
de empresários, políticos de oposição e delatores, durante um ano e três
meses, a Polícia Federal concluiu que inexistem elementos que apontem
para o envolvimento do Senador Aécio Neves em supostas atividades
ilícitas relativas a Furnas”.
Toron ainda afirma
que “estando comprovada a falta de envolvimento do Senador Aécio Neves
com os fatos que lhe foram atribuídos, a Defesa aguarda a remessa dos
autos à PGR e para que, na linha do que concluiu o denso relatório
policial, seja requerido o arquivamento do Inquérito, com sua posterior
homologação”. (Veja.com).
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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