Coluna de Carlos Brickmann, publicada em vários jornais do país:
Os assuntos em debate são da maior importância para o futuro de todos
nós: reforma política, reforma da Previdência, reforma trabalhista.
Mas, para quem os debate, o futuro de todos nós não tem a menor
importância: Suas Excelências só querem saber o que é bom para suas
carreiras. Até que acertem o deles, fingem que debatem o que precisaria
ser debatido a sério.
A reforma política deve buscar um sistema de governo que funcione,
uma campanha eleitoral mais barata, uma representação mais autêntica.
Para que o Governo funcione, é preciso ter menos partidos – mas enquanto
houver abundância de dinheiro público à disposição, mais partidos serão
criados. Fala-se numa campanha eleitoral mais barata, única maneira de
evitar que os candidatos sejam reféns de seus doadores de campanha; e se
imagina o tal “distritão”, que exigirá campanhas mais caras que as
atuais, já que os políticos de agora entram na disputa com tremenda
vantagem. E nem se pensa em representação mais autêntica – nada que
dificulte a vida, por exemplo, de um exibicionista que tatua nos ombros
seu puxa-saquismo.
A reforma da Previdência não levou em conta, até hoje, sua capacidade
de pagamento. Não dá para usar metade do dinheiro pagando aposentadoria
integral a 10% dos aposentados, e a outra metade pagando pouco a 90%.
Falta dinheiro, o Tesouro cobre; e quando acabar o dinheiro do Tesouro? A
reforma vai gerar chiadeira. Mas que se há de fazer, se falta o
dinheiro?
O custo da campanha
Imaginemos que o caro leitor queira se candidatar a deputado por
Minas. É honesto, competente, mas não famoso, como Tiririca; e não tem
um reduto próprio, como o sindicalista Paulinho da Força. Terá de fazer
campanha em 853 municípios, montar uma frota (cada carro com quatro
funcionários, dois motoristas e dois pregadores de cartazes, em dois
turnos), pagando pneus, combustível, seguro, consertos, alimentação e
hospedagem de toda a equipe. Terá de imprimir cartazes anunciando a
candidatura. Precisará de cabos eleitorais, sempre pagos. Pense no
custo. O voto distrital reduziria os gastos. Claro que o desenho dos
distritos vai gerar chiadeira. Quem foi eleito pelo atual sistema não
quer outro que possa lhe causar problemas. Mas ou muda o sistema ou cada
candidato dependerá de doadores incapazes de decepcioná-lo – e bem
capazes de cobrar por isso.
A festa do dinheiro
A próxima campanha já tem, garantidos, R$ 5 bilhões e 400 milhões de
recursos públicos – o seu, o meu, o nosso dinheiro. Há 3,6 bilhões a
dividir pelos partidos; há R$ 1,8 bilhão gastos no pagamento das
emissoras pelo horário “gratuito”. Há ainda o Fundo Partidário: perto de
R$ 1 bilhão por ano, pingando mês a mês no caixa dos partidos. Há
poucos anos, quando o fundo era de pouco mais de um terço do atual, o
presidente de um partido obscuro se queixava de receber “a merreca de R$
100 mil mensais”. Se há dinheiro sobrando, haverá partidos sobrando.
Por que não criar um partido para receber o Fundo Partidário, alugar seu
horário gratuito na TV, oferecer a legenda para algum candidato correto
– ou seja, que pague em dia – se tudo está disponível para isso? Com
dinheiro se faz até uma aliança sincera.
Quem é quem
E, esquecendo todos os fatos acima, é bom lembrar quem é que discute a
reforma política. O maior partido, o PMDB, é dirigido por Romero Jucá; o
PT, por Gleisi Hoffmann; o PP, por Ciro Nogueira – por coincidência, os
três com problemas no Mensalão. Quem preside o PSDB é Aécio Neves, que
acaba de se livrar do inquérito de Furnas. O PTB é controlado por
Roberto Jefferson, que já cumpriu pena por seu papel no Mensalão, e o PR
segue Valdemar Costa Neto, que há pouco deixou a prisão. Difícil, não?
Nuvens passageiras
Política, ensinava o mineiro Magalhães Pinto, é como nuvem: você olha
e ela está de um jeito, olha de novo e ela já mudou. Não vale a pena,
pois, especular, faltando mais de um ano, sobre o candidato do PSDB às
eleições de 2018. Mas pode-se dizer que a guerra Doria x Alckmin existe
mais na torcida de quem não gosta de um ou de outro do que na vida real.
Alckmin e Doria, aparentemente, repetem a dança (que deu certo) da
escolha do primeiro presidente civil da República, após a ditadura
militar: Tancredo e Ulysses posicionados, Franco Montoro à espera, e o
que estivesse em melhor posição no momento da escolha sairia candidato
com o apoio dos demais. Saiu Tancredo e se elegeu com apoio de Montoro e
Ulysses.
A vida como ela é
Diversão garantida hoje, na Câmara dos Deputados: está marcada para
hoje a sessão em que representantes da empresa argentina Pampa Energía
serão ouvidos sobre a compra da Petrobras argentina por US$ 892 milhões,
no último dia do Governo Dilma, e efetivada pelo presidente da empresa,
Aldemir Bendine, hoje preso. O PSDB considera que o preço foi baixo.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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