MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

sábado, 29 de julho de 2017

Em visita à Ásia, Doria diz que vai chegar o momento de enfrentar Lula


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Doria tenta atrair investimentos para São Paulo
Anna Virginia Balloussier
Folha
João Doria (PSDB) é “candidatíssimo” a presidente. “Do Santos F.C.” Já do Brasil F.C. é outra história. Ainda que mantenha seu discurso de que jamais enfrentaria o aliado Geraldo Alckmin em prévias do PSDB, o prefeito de São Paulo derrapa na oratória de não renunciar ao cargo para concorrer em 2018. É quando fala de seu antagonismo com Lula (PT), a quem acha que falta “suavidade”. “Haverá um momento da disputa em que [rivalizar com o ex-presidente] será inevitável”, diz.
E o estilo Doria? “Doce e duro”, afirma à Folha em café da manhã com frutas, suco de laranja e dois capuccinos, num hotel de luxo em Shenzhen, para onde viajou a convite do governo chinês.
Alckmin disse categoricamente que o sr. não disputará prévias no PSDB com ele. Tem a mesma certeza?
Se houver prévias no PSDB para indicação ao candidato à Presidência, e delas o governador participar, eu não participarei. Não vou disputar com Alckmin, a quem devo respeito, solidariedade e amizade.
Deseja ser presidente?
Do Santos Futebol Clube, sou candidatíssimo.
E do Brasil F.C.?
Tem que combinar com a CBF, né?
Parte do PSDB o vê como o forasteiro que não reza muito pela cartilha do partido. Isso o incomoda?
O PSDB é um partido com grandes cabeças, e todas não têm o mesmo pensamento e nem deveriam ter. É um partido que respeita a democracia, e eu respeito o PSDB.
Sua oratória contra Lula não se restringe a ele, mas aos seguidores. Não teme alienar mais de 30% do eleitorado que se diz disposto a votar nele?
Não escondo minhas posturas, principalmente no antagonismo ao PT. Mesmo que isso contrarie uma parte do eleitorado a favor do Lula, faço questão de ficar do outro lado.
Isso não acirra ânimos num país já tão polarizado?
Quem acirra os ânimos é o PT e o Lula, ele que gosta de fazer isso.
Mas se um não quer, dois não brigam.
Haverá um momento da disputa em que isso será inevitável, por causa do estilo Lula de ser e de fazer campanha. Ele tem uma forma de conduzir principalmente sua vida política que não é suave. Haverá um momento na campanha em que essas circunstâncias serão ainda mais marcadas.
E o estilo Doria é suave?
Doce e duro.
Como pessoa privada, como era sua relação com Lula?
Nunca foi uma relação afetuosa e simpática, mas ele já esteve num almoço no Lide [grupo empresarial de Doria], no primeiro mandato. A minha posição em relação ao Lula, distante e adversa, é antiga, não foi cultivada agora.
O ex-presidente disse que “o Doria tem que se provar. Por enquanto, ele não é nada. É só o João trabalhador que não trabalha”.
Lula tem memória curta e seletiva. Minha primeira prova eu já demonstrei: ganhei a eleição do candidato dele no primeiro turno.
Por falar no ex-prefeito Haddad, sua relação com ele começou amistosa. Agora o sr. vira e mexe o ataca…
Não vou omitir a verdade. Mas tenho respeito pelo ex-prefeito. É uma das raras pessoas honestas no PT.
Se não for a Presidência, especula-se que o sr. concorra ao governo do Estado.
Meu horizonte é continuar sendo um bom prefeito.
José Serra renunciou após jurar que não o faria, e isso o assombra até hoje. Assinaria um documento dizendo que não fará o mesmo?
Você deve ser a 37ª pessoa que me lembra disso, e eu pela 37ª vez volto a dizer: sou prefeito eleito para cumprir quatro anos de mandato.
Pode firmar isso em cartório? Que, mesmo se o “povo quiser”, não sai candidato?
Ainda não tenho a capacidade de ler o futuro, ler o presente já está difícil.
O sr. era comparado a Donald Trump, outro empresário que apresentou um reality, e agora com o francês Emmanuel Macron. Vê elo com algum?
Com Macron, sim. Com Trump, não. Respeito ambos. Mas, se tivesse que fazer uma opção, sem hesitação seria o Macron. Ele tem uma postura mais liberal, é inovador, sintonizado com o mundo digital. Trump radicaliza muito o seu discurso.
O Congresso discute a reforma política. Macron lançou seu próprio partido para virar presidente. Acha que o Brasil ganharia com candidaturas independentes ou de fora do círculo partidário tradicional?
O movimento na França foi democrático e natural. Não estou certo se no Brasil se aplicaria. Mas, dentro daquilo que a democracia permitir, não vejo mal nenhum.
Após ir a Emirados Árabes, Qatar, Coreia do Sul e, agora, China, o sr. viajará a Cingapura. Por que tanta Ásia?
É onde você tem o capital através de fundos, bancos de investimento, fora os investidores direto. E nós vamos em busca de onde o recurso está.
O sr. estima ter conseguido R$ 10 milhões em doações de empresas chinesas como Huawei. E também as convida para disputar parcerias público-privadas (PPPs). Elas não podem: a) se sentir coagidas a doar, para ter chances numa futura licitação, b) serem privilegiadas em relação a concorrentes?
Nem coação nem privilégio: doação. O que nós fazemos é propor, eles têm a opção de aceitar ou não. Não há nenhum tipo de constrangimento em que eles não possam dizer não. Mas eu tenho argumentos que proporcionam razoável chance de sucesso. Eu até aqui não ouvi nenhum não em nenhuma das solicitações que fiz.
Mas se eu sou o prefeito de São Paulo e anuncio uma PPP, chego passando o chapéu, posso fazer a empresa se sentir desconfortável em me negar um pedido.
No mundo do business isso não existe.
A China é um ‘case’ de evolução tecnológica, mas também um país que desrespeita regras básicas da democracia. O sr., que costuma bradar contra “esquerdistas”, se sente à vontade em viajar a convite de um governo sob controle do Partido Comunista?
Não. Na China nós vamos buscar sempre os bons exemplos. O maior parceiro comercial do Brasil, além dos EUA, e exerce um poder de influência na economia do planeta. Você não pode negar nem deixar de estar presente.
Mas até que ponto a evolução chinesa não se deve à falta de transparência de seu governo, por exemplo, em licitações?
Sem querer ser impertinente, pergunta para eles.
Costumam dizer que o sr. é mais marketing do que resultado…
Eu sou marketing e resultado. Tudo que faço é filmado primeiro por um processo de transparência, depois de comunicação. É importante que a população saiba o que seu prefeito faz e pretende fazer. Há os que se sentem incomodados. Eu lamento muito, mas vamos continuar fazendo exatamente o que estamos realizando.
O sr. visitou cidades como Shenzhen, com os mesmos 12 milhões de habitantes que São Paulo e menos da metade de carros. Já sua gestão é acusada de privilegiar o automóvel.
Não vamos fazer um programa contra o automóvel, mas a favor de outras formas de transporte. Queremos estimular bastante no Brasil o uso de ônibus elétricos [populares na China], movidos a baterias que não poluem o meio ambiente nem a sonoridade, são mais eficientes e têm maior durabilidade.
É um tabu mexer no carro do brasileiro? Porque é o que se faz em muitas das grandes cidades do mundo.
Tabu ou não, nós não vamos fazer nenhuma restrição ao automóvel, vamos estimular opções a ele.
O sr. nomeou um secretário que é ex-vice-presidente da Cyrella, uma das construtoras donas do terreno do parque Augusta. Isso não causa desconforto?
Nenhum, é até prova de transparência. Se eu tivesse algum desconforto, não haveria nem razão para nomear [Cláudio Carvalho de Lima, secretário especial de Investimento Social]. Quem não tem nada a atender nem a temer não tem nenhum problema.
Não dá para viver só de doações. Quais as soluções a médio e longo prazo para equilibrar as contas da prefeitura?
Temos R$ 7,5 bilhões num rombo orçamentário, não é uma situação confortável. Mas também [a prefeitura] não está quebrada, está sendo administrada. É possível reduzir despesas e aumentar receitas.
Privatização era um grande tabu, vide a pecha de privateiro colada por anos em FHC. Por que agora seu discurso de vender São Paulo daria certo?
Não se trata de vender São Paulo, mas de apoiar programas de desestatização. Isso é ser moderno, nunca um governo gordo e ineficiente.
Sua visita à Coreia do Sul rendeu a polêmica proposta de mudar o nome do Bom Retiro para Bom Retiro Little Seul.
Não era mudança do nome, era criar, como os americanos usam, um “nickname” [apelido]. Nem faria sentido mudar o nome, aquilo faz parte da memória do bairro, da comunidade judaica que ali se estabeleceu. Era apenas complementarmente, havendo interesse de empresas coreanas em ajudar a revitalizar a área.
Em sete meses no posto, qual o maior erro que cometeu?
Ser prefeito é sempre um aprendizado constante. É preciso ter discernimento e humildade sempre para reconhecer erros e, mais do que isso, reagir rapidamente para que sejam superados.
Mas quais erros?
O conjunto deles ajuda a crescer e aprimorar.
O sr. não deu um exemplo.
Preferia não citar um especificamente. Mas todo dia há aprendizados, pequenos, médios e grandes.
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