Artigo de Guilherme Fiuza, publicado no Globo, ironizando as peripécias do "procurador-geral da banda" e seu cowboy:
O país do carnaval foi salvo do marasmo pelo procurador-geral da banda.
Isso aqui estava um
tédio de dar dó. Depois do golpe de Estado que arrancou do palácio a
primeira presidenta mulher, cuja quadrilha estava roubando honestamente
sem incomodar ninguém, a sombra desceu sobre o Brasil. Um mordomo
vampiresco entregou a Petrobras a um nerd que deixou os pais de família
da gangue do Lula no sereno — extinguindo sumariamente o pixuleco,
principal direito trabalhista conquistado na última década.
Mas não foi só isso.
Além de arrancar a maior empresa nacional da falange patriótica de José
Dirceu, o governo golpista da elite branca e velha deu um tranco na
economia. Em pouco mais de um ano, estragou um trabalho de três mandatos
presidenciais que levara o país a um recorde — a maior recessão da sua
história. Enxotou do comando da tesouraria nacional todos aqueles
cérebros amanteigados, e aí se deu o choque: inflação e juros caíram,
dólar e taxa de risco idem. Uma tragédia.
Como se não bastasse,
o mordomo começou a fazer as reformas estruturais que passaram 13 anos
na geladeira do proselitismo coitado, que é o que enche a barriga do
povo. Antes que o pior acontecesse — a retomada do emprego e do
crescimento — apareceu Rodrigo Janot.
Mas não apareceu
sozinho, que ele não é bobo e sabe que com elite branca e velha não se
brinca. Veio com o caubói biônico do PT — aquele vitaminado por injeções
bilionárias do BNDES, o brinquedo predileto do filho do Brasil. Só
mesmo um caubói de laboratório teria a bravura suficiente para dizer ao
país que comprou todo mundo e o culpado é o mordomo. A partir daí foi só
alegria.
A dobradinha do
procurador-geral da banda com o supremo tribunal companheiro nunca foi
tão eficiente. A enxurrada de crimes da Lava-Jato envolvendo atos
diretos e indiretos de Dilma Rousseff passou dois anos morrendo na
praia. Já a homologação da pegadinha do caubói caiu do céu como um raio.
Aí o delator foi amargar o exílio no seu apartamento em Manhattan,
deixando o país paralisado, mas feliz — como no carnaval.
Nesta revolução
progressista, também conhecida como farra do boi, Joesley Batista
apontou Michel Temer como o chefe da quadrilha mais perigosa do país. Os
brasileiros já deviam ter desconfiado disso. Lula e Dilma não davam um
pio sem pedir a bênção do vice. Todo mundo sabe que Dirceu morria de
medo de Temer, e não deixava Vaccari, Delúbio, Valério, Duque, Bumlai,
Palocci e grande elenco roubarem um centavo sem pedir a autorização do
mordomo. Chegaram a pensar em denunciá-lo à Anistia Internacional, mas
se calaram temendo represálias. Já tinham visto no cinema como os
mordomos são cruéis.
Agora estão todos
gratos ao caubói biônico, que por sua vez está grato ao procurador-geral
da banda — e ao seu homem de confiança que saiu do Ministério Público
para montar o acordo da salvação da boiada (sem quarentena, que ninguém é
de ferro). O pacto que emocionou o Brasil, festejado nas redes sociais
como Operação Free Boy, é um monumento à liberdade talvez só comparável à
Inconfidência Mineira.
Nada seria possível
sem o desassombro de Edson Fachin, o homologador-geral da banda. Um
candidato a juiz capaz de circular no Senado a reboque do lobista de
Joesley não teme nada.
O legal disso tudo,
além de bagunçar esse governo recatado e do lar com mania de arrumação
(a melhora dos indicadores estava dando nos nervos), foi ressuscitar o
PT. Depois da delação de João Santana, o roteiro criminal sem
precedentes elucidado por Sergio Moro se encaminhava para a prisão de
Lula e Dilma — os presidentes do escândalo. Aí veio a farra do boi dizer
ao Brasil que, na verdade, Lula e Dilma eram coadjuvantes do mordomo —
quem sabe até laranjas dele. E o Brasil, como se sabe, crê.
Alegria, alegria. Zé
Dirceu solto, Vaccari absolvido pela primeira vez na Lava-Jato,
pesquisas indicando aumento de aceitação ao PT! (Ok, é Datafolha, mas o
Brasil crê). E você achando que não viveria para ver rehab de bandido. O
auge da poesia foi o lançamento da denúncia de Janot em capítulos, como
uma minissérie. Alguns especialistas classificaram-na como “inepta” (ou
seja, a cara do pai), mas estão enganados. A denúncia de Janot é apenas
um lixo. Quem gosta de inépcia é intelectual.
A alegação de
corrupção passiva, por exemplo, é uma espécie de convite à investigação
do Cade. Só faltou escrever “tem coisa estranha ali...” Um estudante de
Direito poderia achar que quem denuncia sem apurar está cambaleando
entre a negligência e a falsidade ideológica. Algum jurista na plateia?
Farra do boi não tem
jurista. Tem quadrilha dançando em torno da fogueira de mais uma greve
geral cenográfica, porque sacanear o país nunca é demais. Mas eis que
chega um correio do amor para o procurador-geral do bando (devem ter
errado a grafia). Vamos reproduzi-lo: “Companheiro, agora dê um jeito de
completar o serviço e botar esse presidente na rua, depois em cana;
acabe com ele, parceiro, porque dizem que maldição de mordomo é
terrível. Só não é pior que a de mordomo-vampiro.”
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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