Coluna de Carlos Brickmann, publicada hoje em diversos jornais (via Chumbo Gordo):
Num dia, tarde da
noite, o bandido notório de maior sucesso na história do país telefonou
ao líder da maior e mais perigosa organização criminosa do Brasil para
marcar uma visita. Ótimo: marcou-se a conversa para a mesma noite. O
bandido notório combinou com o líder da quadrilha que usaria nome falso e
a visita não entraria na agenda. Se a opinião de um sobre o outro era a
que depois declararam, por que um pediu a reunião, por que o outro a
aceitou? A história da reunião, da gravação e da entrevista é marcada
por pequenos mistérios. Esquisitices – como entendê-las?
No início da conversa
gravada de ambos, o líder da quadrilha comenta com seu convidado que há
tempos não o via. O bandido notório lembrou um evento em que se
encontraram. Mas, na entrevista, o bandido notório diz que o líder
quadrilheiro vivia atrás dele para pedir dinheiro. Onde está a verdade?
Se o bandido notório mentiu na delação, diz a regra do jogo, perde as
vantagens – e que vantagens! Terá corrido o risco? E os 500 mil por
semana, durante 20 anos? Terminado o mandato do capo da quadrilha, ele
não vai ver um centavo a mais. Sem poder, sem dinheiro. Os dois sabem
disso. Não seriam idiotas de propor ou aceitar essa bobagem.
Como compôs
Gonzaguinha, e Maria Bethânia interpretou com brilho, essas coisinhas
miúdas, tantas delas, vão “roendo, comendo, arrasando aos poucos com o
nosso ideal”. Historinhas, “já não dá mais para engolir”.
Grito de alerta
Michel Temer é
inocente ou culpado? Isso o Supremo irá decidir. E, no Brasil, só o
Capitão Gancho põe a mão no fogo pela inocência de um figurão. Já
Joesley confessou; se disse tudo, ou apenas parte, caberá ao Supremo
julgar.
Mas é estranho que,
tendo multiplicado seus negócios nos 14 anos de Governo petista e neles
transformado suas empresas nas maiores do mundo em proteína animal,
concentre a maior parte da delação e acusações nos dez meses de Temer. E
que, além de delatar, procure dar a maior repercussão possível às
acusações, sem que isso lhe renda qualquer vantagem. Passou semanas
negociando sua entrevista, com diversos veículos, até escolher quem a
publicaria. Por que esse trabalho todo?
Amanhã ou depois
Com a entrega das
alegações finais dos advogados de Lula, o juiz Sérgio Moro pode, a
qualquer momento, emitir a sentença. Em caso de condenação, dificilmente
Lula será preso: há a possibilidade de defender-se em liberdade até o
julgamento da apelação pelo Tribunal Regional Federal.
A sentença pode até
sair hoje, mas, embora Moro seja conhecido pela rapidez das decisões, o
normal é que demore mais de uma semana.
O que é, o que é
Além deste, Lula tem
dois outros processos penais na 14ª Vara de Curitiba, do juiz Sérgio
Moro. Mas o mais problemático é este que aguarda sentença. Se Lula for
condenado, e sua apelação for negada, estará automaticamente proibido de
concorrer a qualquer eleição – e, portanto, não poderá disputar a
Presidência em 2018. Nos outros dois processos, não há tempo para que
seja condenado em segunda instância.
É
No episódio da
perseguição ao jornalista Alexandre Garcia no aeroporto de Brasília,
noticiou-se que o responsável pelo assédio foi Rodrigo Grassi
Cademartori, conhecido pelo apelido de Pilha. O que passou quase
despercebido foi o passado do cavalheiro: Pilha (que filmou a
perseguição a Alexandre Garcia e a colocou na Internet) já ofendeu o
então senador Aloysio Nunes e foi detido por isso, sendo rapidamente
solto, hostilizou a blogueira cubana Yoani Sánchez, tentando impedir
suas palestras, e comandou a perseguição na rua ao ministro Joaquim
Barbosa, do Supremo Tribunal Federal. Na época, era assessor da deputada
petista Erica Kokay.
Não é
Esta coluna errou ao
dizer que Mário Covas, quando se opôs duramente à entrada do PSDB no
Governo de Fernando Collor, dispunha do poder de governador de São
Paulo. Na verdade, Covas dispunha apenas de seu prestígio e boa
reputação: ainda não tinha sido eleito governador.
Sangrando
Lula, líder de um dos
maiores partidos do país, sob ameaça de condenação. O PSDB, um dos
maiores partidos do país, enfrenta problemas internos com grupos que
querem afastá-lo do Governo. O PMDB, um dos maiores partidos do país,
ocupante da Presidência da República, luta para manter o mandato
ameaçado de Temer.
Pois nada disso afeta
nossos parlamentares: depois da semana folgada com desculpa do feriado
de Corpus Christi, nesta semana o expediente termina mais cedo, por
causa das festas juninas. Nesta quarta, o expediente termina às 15h,
para que Suas Excelências possam pegar um voo mais cedo. Folgam até a
terça que vem.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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