Para as esquerdas, o Estado é sempre um grande negócio. Coluna de Percival Puggina:
Encontrei, num blog,
matéria contrária às privatizações ilustrada com cartaz onde se lê:
”Privatizem as vossas mães!”. Pretendo, aqui, explicar o que está
implícito nessa frase.
Parto de uma
experiência local. Há vários anos, em caráter preventivo, a Assembleia
gaúcha aprovou uma emenda à Constituição Estadual determinando que a
venda de empresas estatais seja antecedida de aprovação em plebiscito
realizado na forma da lei. Tal despropósito legislativo fornece boa
régua para aferir o tamanho do amor que as esquerdas em geral e a
esquerda gaúcha em particular dedicam ao Estado. É de comover corações
empedernidos. Só muitas horas em divã, relato de sonhos eróticos e boas
técnicas de regressão podem explicar razoavelmente esse fenômeno próprio
da mente esquerdista.
Caracterizá-lo exige
abandonar a vida real e mergulhar numa relação filial, numa espécie de
vida política intrauterina, no aconchego do líquido amniótico
proporcionado pelo Estado e suas facilidades. É o que está implícito na
frase referida no primeiro parágrafo deste artigo. Então, apontar
malefícios do setor público para um esquerdista equivale a colocar a mãe
no meio. É ofensa que não devem levar para casa. Com devoção filial
exigem plebiscito para alienação de empresas que prestam maus serviços,
tecnologicamente defasadas e de presença desnecessária ou, mesmo,
perturbadora na vida da comunidade. Os mesmos objetos dessa devoção
suscitam as piores animosidades em meio àqueles que vivem sob o sol e a
chuva do mercado, como empreendedores, profissionais liberais e
trabalhadores que optaram pelo setor privado.
O governo gaúcho
tentou aprovar uma proposta de emenda constitucional para revogar o tal
plebiscito, mas abandonou a idéia por sentir que não obteria maioria
parlamentar suficiente para sua aprovação. Vai buscar, então, o voto
popular, tentando algo inédito: convencer a maioria da sociedade gaúcha
de que privatizar pode ser uma conduta benéfica.
A situação me faz
lembrar o ambiente político do Rio Grande do Sul à época em que o
governador Antônio Britto Filho privatizou a Companhia Riograndense de
Telecomunicações e outras empresas estatais menores. Os porta-vozes da
esquerda acorreram aos meios de comunicação em verdadeiro desespero,
como se o lar materno estivesse sendo incendiado, destruído, trocado por
bananas. “Estão vendendo tudo!”, exclamavam onde houvesse um microfone.
E essa campanha ideológica difamatória do vocábulo “privatização”
acabou com boas oportunidades de modernizar a infraestrutura e a gestão
do Rio Grande do Sul. Era como se vender significasse empacotar um bem
público existente e entregá-lo ao comprador para que este lhe desse um
destino qualquer de sua conveniência. Ficando com o exemplo da estatal
de telecomunicações: a velharia foi vendida, o patrimônio ampliado, os
serviços melhorados e, de deficitários, se converteram em inesgotável
fonte de recursos tributários para o Estado.
Não se subestime,
porém, a resistência que a proposta do governo gaúcho vai enfrentar.
Afinal, para a esquerda, o Estado é, na sua estatura moral mais alta,
uma devoção; na mais rasteira, um grande negócio.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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