O professor
João Carlos Espada escreve sobre a 25ª edição do Estoril Political
Forum, que está sendo realizada em Lisboa, em defesa da tradição
ocidental da liberdade sob a lei, que é praticamente ignorada no Brasil,
afundado na tradição autoritária:
“Defendendo a Tradição Ocidental da Liberdade sob a Lei” é o tema da 25ª edição do Estoril Political Forum,
que esta tarde tem início no Hotel Palácio do Estoril. Estes encontros
internacionais anuais de estudos políticos tiveram início em 1993, no
Convento da Arrábida, e são desde 1997 promovidos pelo Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica (que, por sua vez, celebra este ano o 20º aniversário).
O tema
deste ano parece bastante actual. Crescem na Europa e até nos EUA
movimentos populistas, ou simplesmente erráticos, que ameaçam — ou
simplesmente ignoram — os alicerces da ordem democrática e liberal
penosamente construída após a II Guerra e a queda do Muro de Berlim.
O
Estoril Political Forum vai abordar directamente esses temas. Haverá
painéis sobre o Ocidente, a Europa e a NATO, além de muitos outros sobre
temas mais específicos. Mas não será uma abordagem a uma só voz. Tal
como nos anos anteriores, haverá vozes e inclinações variadas:
conservadores, democratas-cristãos, liberais, libertários,
sociais-democratas e socialistas democráticos.
No caso
da União Europeia, haverá federalistas e anti-federalistas, europeístas e
euro-cépticos, “Remainers” e “Brexiteers”. No painel sobre a União
Europeia, na terça de manhã, o orador principal será José Manuel Durão
Barroso, antigo presidente da Comissão. Entre os comentadores estará
John O’Sullivan, um proeminente “Brexiteer” que foi conselheiro de
Margaret Thatcher. No jantar Churchill, também na terça-feira, o orador
será Timothy Garton Ash, professor de Oxford e proeminente “Remainer”.
Esta
variedade não surpreenderá certamente os defensores da tradição
ocidental da liberdade. Porque o Ocidente sempre se distinguiu pela
variedade de pontos de vista, acompanhada da defesa comum de valores
partilhados: o governo limitado pela lei e pelo Parlamento, uma economia
descentralizada e aberta, a centralidade da pessoa e do seu direito à
vida, à liberdade e à busca da felicidade.
Estes
valores constituem o alicerce da aliança euro-atlântica. Foi a eles que
Winston Churchill se referiu insistentemente quando na década de 1930
denunciou incansavelmente a dupla ameaça nacional-socialista e
comunista. Dizia ele em Maio de 1938, por exemplo:
“Não
temos nós uma ideologia própria (se é que devemos utilizar essa
expressão horrível, ‘ideologia’) na liberdade, numa Constituição
liberal, no governo democrático e parlamentar, na Magna Carta e na
Petition of Right”?
Estes
são os valores do Ocidente que serão recordados no Estoril Political
Forum. Na sessão de abertura, será prestada homenagem a Mário Soares —
tal como na sessão de abertura do ano passado foi prestada homenagem a
Maria Barroso, que sempre se sentava na primeira fila das sessões do
Estoril Political Forum. E serão recordadas as palavras de Mário Soares
numa palestra na Universidade George Washington, em Dezembro de 1998:
“Como
antigo combatente contra as ditaduras, pertenço a uma geração que
apreendeu por experiência própria o valor da democracia e a importância
da liberdade… Sentimos o dever de partilhar a nossa experiência com as
gerações mais novas, para que também elas possam compreender que a vida
sem liberdade não faz sentido.”
O valor
da liberdade estará também presente na já tradicional sessão dedicada ao
Prémio Fé e Liberdade, este ano atribuído ao Professor Cónego João
Seabra. A apresentação está a cargo de Guilherme Almeida e Brito,
vice-director da CLSBE (Católica Lisbon School of Business and
Economics). O presidente dessa sessão, Robert Royal, director do Faith
and Reason Institute de Washington, DC, recordará nessa ocasião Michael
Novak — outro grande intelectual católico que se distinguiu na defesa
dos fundamentos cristãos da liberdade.
Fé e
liberdade é sem dúvida um tema particularmente apropriado ao ano de
2017. O Estoril Political Forum realiza a sua 25ª edição. O Instituto de
Estudos Políticos celebra o 20º aniversário. E a Universidade Católica
celebrará em Outubro os seus 50 anos. É uma feliz coincidência e é uma
feliz coincidente homenagem à liberdade de ensino e à liberdade de
escolha dos alunos e das suas famílias. Como tem insistido
incansavelmente Mário Pinto — o inspirador da criação do IEP e desde
sempre um defensor da liberdade de educação — a velha ideia grega e
depois cristã medieval de Universidade é inseparável da ideia de
liberdade.
E a
velha ideia de Universidade é uma das ideias centrais da Tradição
Ocidental da Liberdade sob a Lei. Ambas serão celebradas entre hoje e
quarta feira no Estoril Political Forum. (Observador).
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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