Augusto Nunes vai ao ponto:
“Este é um caso complexo e triste da nossa própria história”, disse Gilmar Mendes, no início do voto que decidiria o pedido de habeas corpus de José Dirceu,
preso desde 3 de agosto de 2015 e condenado por Sérgio Moro a 32 anos e
um mês de prisão por corrupção, lavagem de dinheiro e associação
criminosa. Por alguns instantes, algum desavisado pode ter imaginado que
o ministro do Supremo Tribunal Federal estava se referindo ao maior
escândalo de corrupção já noticiado no país.
Errou, mostraria a
continuação da fala que colocaria em liberdade o subchefe do mensalão e
um dos protagonistas do petrolão: “Não podemos nos ater à aparente
vilania dos envolvidos para decidir acerca da prisão processual. E isso
remete à própria função da jurisdição em geral, da Suprema Corte em
particular. A missão de um tribunal como o Supremo é aplicar a
Constituição, ainda que contra a opinião majoritária”.
Ex-advogado do PT,
Antônio Dias Toffoli também decidiu ajudar o antigo companheiro. “A
prisão preventiva não pode ser utilizada como um instrumento antecipado
de punição”, afirmou o ministro que, na semana passada, livrou da cadeia
o pecuarista José Carlos Bumlai e o ex-assessor do PP João Cláudio
Genu.
Terceiro voto a
favor, Ricardo Lewandowski foi além: “O risco de reiteração é
remotíssimo”, delirou. “Não se pode impor ao paciente que aguarde preso
indefinidamente eventual condenação no segundo grau de jurisdição”.
A decisão por três
votos a dois provou que o caminho mais curto entre uma cela e o portão
de saída da cadeia começa e termina na sala em que delibera a 2ª Turma do STF.
Na semana passada, esse atalho foi percorrido por Bumlai, o empresário
vigarista que, no governo do amigo Lula, entrava sem pedir licença no
Palácio do Planalto. Hoje, foi utilizado por José Dirceu.
O sonho de todo
condenado em primeira instância é ser libertado antes que sejam
descobertos os crimes que não confessou. É esse o caso de Bumlai e de
Dirceu. Premiados com a devolução do direito de ir e vir, ambos se
dedicarão em tempo integral a obstruir a Justiça e ocultar provas (ou
destruí-las).
O fazendeiro
espertalhão ainda mantém no baú dos pecados mortais um punhado de
bandalheiras de altíssima voltagem. Sobre o assassinato do prefeito
Celso Daniel, por exemplo, ele sabe muito mais do que a imprensa
publicou.
O guerrilheiro de
festim conhece bem o que Bumlai guarda em sigilo e muitíssimo mais. Ele
foi o subchefe de Lula. É provável que só saiba menos que o comandante
supremo da maior sequência de assaltos aos cofres públicos da história
do Brasil.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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