O Globo
O presidente Michel Temer manterá o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) no cargo, mas quer explicações sobre o conteúdo do pacote deixado pelo doleiro Lúcio Funaro para ele no escritório de José Yunes. Temer conversou com Padilha, que está em Porto Alegre para tratamento de saúde, por telefone, na noite de quinta-feira. Acertaram uma licença médica, em princípio, até o dia 6 de março. A depender do resultado da cirurgia de próstata a que será submetido e do andamento das investigações, o afastamento poderá ser estendido.
DOIS AMIGOS? – O presidente está preocupado e desconfortável com a situação porque, além de levar seu principal ministro para dentro da Lava-Jato, coloca Padilha e Yunes como adversários. Ambos são considerados os amigos mais próximos de Temer, um pelo lado político, e o outro pelo lado jurídico.
No Palácio do Planalto, a situação de Padilha está sendo tratada nesta sexta-feira com cautela e muitas reticências. “O que existe até o momento é uma ligação de Padilha a Yunes pedindo para ele receber em seu escritório documentos. Padilha não falou quem entregaria, não mencionou Funaro. Há questões que não estão claras. Temos que primeiro esperar esse episódio depurar, ouvir tudo com calma” — disse um auxiliar próximo a Temer.
TEMER SABIA – O presidente sabia que Yunes havia prestado depoimento ao Ministério Público e também foi informado pelo amigo sobre a entrevista à revista Veja. O advogado esteve com Temer no Palácio da Alvorada na tarde de quinta-feira.
Desde dezembro, Yunes vinha mostrando disposição de depor para esclarecer o fato de ter sido citado na delação premiada de Cláudio Mello Filho, ex-executivo da Odebrecht. Segundo sua delação, Yunes aparece como tendo recebido em seu escritório parte de R$ 10 milhões , em espécie, acertados entre o dono da empreiteira, Marcelo Odebrecht, e Temer, para a campanha eleitoral de 2014 em um jantar no Palácio do Jaburu.
USADO COMO “MULA” – Em depoimento à Procuradoria-Geral da República, Yunes diz que Padilha o usou como “mula”, na campanha de 2014, para Lúcio Funaro repassar um “documento”. Yunes diz que não viu o que havia no envelope entregue, e que não se lembra de quem buscou o envelope entregue por Funaro. Além disso, Yunes relata ter ouvido de Funaro que havia uma estratégia para eleger uma bancada de deputados fiel a Eduardo Cunha, a fim de que ele fosse eleito presidente da Câmara.
O ex-assessor especial de Temer, que saiu do governo em dezembro criticando o “lamaçal” de denúncias da delação do executivo da Odebrecht Cláudio Melo Filho, disse ainda que relatou ao presidente Michel Temer o episódio envolvendo Funaro e Padilha.
— Contei tudo ao presidente em 2014. O meu amigo (Temer) sabe que é verdade isso. Ele não foi falar com o Padilha. O meu amigo reagiu com aquela serenidade de sempre (risos). Eu decidi contar tudo a ele porque, em 2014, quando aconteceu o episódio e eu entrei no Google e vi quem era o Funaro, fiquei espantado com o “currículo” dele. Nunca havia conhecido o Funaro — afirmou Yunes, amigo de Temer há 50 anos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário