O Tempo
A Andrade Gutierrez (AG), empresa com raízes mineiras e segunda maior construtora do país, deve voltar ao foco da operação Lava Jato após a homologação pelo Supremo Tribunal Federal (STF) das delações dos 77 executivos da Odebrecht. O depoimento dos administradores da maior empreiteira do país irá implicar a participação da Andrade e de outras construtoras em esquemas de pagamento de propina, corrupção e desvio de recursos ainda não revelados no âmbito da operação.
A Andrade Gutierrez foi uma das primeiras a fechar acordo de leniência com a Justiça por um esquema de pagamento de propina envolvendo a Eletronuclear e a contratação de obras para a usina de Angra 3. Agora, porém, delações da Odebrecht em fase de homologação mostrariam que a cúpula da Andrade Gutierrez pode ter feito uma confissão apenas parcial de seus crimes.
As revelações dos depoimentos de executivos da Odebrecht, em análise pelo ministro Teori Zavascki, devem refletir no acerto da Andrade com o Judiciário e também na pena dos dirigentes da construtora já condenados. São os casos do ex-presidente do grupo, Otávio Marques de Azevedo, e do ex-dirigente da AG Energia, Flavio David Barra.
PRINCIPAL OPERADOR – Mineiro de Varginha, no Sul de Minas, o engenheiro Flavio David Barra, 54, é apontado pelo Ministério Público Federal (MPF) do Rio de Janeiro como chefe principal do caixa 2 geral da Andrade Gutierrez, onde eram reunidos todos os recursos não contabilizados, depois distribuídos em dinheiro vivo a agentes públicos e políticos. Foi por meio desse esquema que a construtora, irrigou a rede de pagamento de propina em diversas obras no país.
No depoimento prestado aos procuradores do Rio de Janeiro, em 24 de junho, o então presidente da AG Energia, empresa da Andrade Gutierrez, disse que, desde 2007, a construtora possuía o caixa 2 para pagamento de propina “em relação a várias obras, inclusive a de Angra 3”, revelou na delação.
Não se sabe se Barra, por ter papel central no esquema de corrupção da Andrade Gutierrez, será implicado em outras delações da Odebrecht. Caso isso ocorra, a Justiça Federal pode suspender os benefícios obtidos por ele e pelo ex-presidente da Andrade Gutierrez Otávio Marques de Azevedo.
Ambos já foram condenados em setembro pela Justiça Federal, com sentença atenuada após a delação premiada. Flavio Barra foi condenado a 15 anos de prisão domiciliar pelos crimes de corrupção ativa, lavagem de dinheiro e participação em organização criminosa. No primeiro ano, terá de ser monitorado por tornozeleira eletrônica. Em seguida, a pena progride para o regime semiaberto diferenciado pelo prazo de dez meses. Depois deste período, ele segue para o regime aberto diferenciado, pelo período de dois anos, que deverá ser cumprido juntamente com a prestação de serviços comunitários à razão de 20 horas mensais em local a ser definido pela Justiça.
FAZENDO CARREIRA – Formado em engenharia civil pela PUC Minas, em 1987, Flavio David Barra entrou na Andrade Gutierrez dois anos antes, ainda como estagiário. Segundo ele mesmo contou aos investigadores durante o depoimento, passou por diversos cargos dentro da construtora e, só após dez anos, chegou ao cargo de engenheiro-chefe, sendo responsável por uma obra específica da empresa. Passou então a atuar na área comercial da AG no setor de obras urbanas.
Com o tempo, foi ampliando sua área de atuação até alcançar, em 2003, a superintendência de todas as obras viárias da construtora em São Paulo. Entre 2006 e 2007, passou a atuar também na área de obras viárias na região Sul. Em 2008, chegou ao cargo de diretor da unidade de negócios de energia da construtora.
Foi nessa época que o engenheiro civil começou a operar o caixa 2 unificado da empresa. Barra contou que foi procurado pelo empresário Samir Assad com a proposta de superfaturar serviços contratados em empresa-fantasma, gerando recurso em espécie não contabilizado.
EMPRESAS-FANTASMAS – Segundo o executivo mineiro, a gestão do caixa 2 da Andrade era feito pelo então diretor financeiro Ricardo Campolina, já falecido.
Flavio Barra contratava serviços superfaturados da empresa- fantasma de Samir Assad, como locação de máquinas, equipamentos e aeronaves, que, na verdade, não existiram. A empresa-fantasma emitiu o maior número de notas fiscais frias à Andrade Gutierrez. Foram 168 repasses, que geraram R$ 126,6 milhões para o caixa 2 da construtora mineira.
A construtora pagava pelos serviços não prestados e, em troca, Samir Assad emitia à Andrade Gutierrez notas fiscais frias. O acordo definia que 80% dos valores pagos nos contratos fictícios seriam devolvidos em espécie à Andrade. O recebimento do dinheiro devolvido por Assad era de responsabilidade do gerente de planejamento financeiro Fernando Vasconcellos.
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