Caronte, o barqueiro do Hades. |
Meu amigo PRA
republica em seu blog um post de 2016 em que antecipa a morte de uma
figura nefasta da política brasileira - o que está, de fato, acontecendo
agora. As exéquias já estão sendo preparadas:
Não
existe muita glória, apenas temeridade, em publicar um necrológio antes
da morte física do personagem em vista, embora esse pecado já tenha sido
cometido mais de uma vez na história da imprensa mundial. Desde Mark
Twain se sabe que rumores sobre certas mortes são grandemente
exagerados. Em todo caso, quero falar da morte política de um dos mais
nefastos personagens da política brasileira, esse mesmo que muitos
esperam ver preso numa das próximas fases da Operação Lava Jato, a qual
proponho desde já que se intitule “Rapa Tudo”.
Pois bem:
morreu, em algum momento entre 2015 e 2016, de causas ainda não
identificadas, o maior farsante da história política brasileira. Antes
se acreditava que esse título pertencesse a uma outra grande fraude
política, àquele que tinha prometido acabar com a inflação no Brasil de
um golpe de caratê, mas que começou tungando a população brasileira de
seus ativos, e que acabou abatido pelos movimentos de rua e pelo
Congresso, no primeiro processo de impeachment bem sucedido de nossa
história. Tinha havido uma tentativa em 1954, contra o ex-ditador
Vargas, mas ela não conseguiu ultrapassar a barreira da aprovação na
Câmara, embora o acusado tenha deixado o poder para entrar na história,
como alguém escreveu numa carta pré-fabricada, feita para confundir seus
adversários políticos, que ficaram abatidos pela reação popular. Em
nossos dias, porém, um valor mais alto apareceu nos porões da pátria.
Haverá
reação popular quando o farsante tiver de abandonar definitivamente as
réstias de poder de que ainda goza para entrar, enfim, na lata de lixo
da história? Difícil dizer, uma vez que “popular”, no Brasil, há muito
deixou de significar manifestações espontâneas da cidadania, para
transformar-se em “agit-prop” de grupos manipulados pelo partido
neobolchevique. É sabido, desde muito tempo, que os tais “movimentos
sociais” – e vários sindicatos que também possuem alguma presença nas
ruas (aliás ilegalmente) – constituem meras “correias de transmissão” do
mesmo partido totalitário que empolgou, no pior sentido da palavra,
largas frações de eleitorado urbano no seu caminho para a conquista do
poder, partindo ele então para a consolidação de um formidável curral
eleitoral, em larga medida rural, e muito parecido com os redutos
amestrados dos antigos coronéis do interior.
Para
contrapor-se à mais formidável fraude política assim criada, mas
financiada por todos nós – por meio dos cofres públicos –, emergiram, a
partir de 2013 e sobretudo em 2014 e 2015, movimentos legítimos da
cidadania consciente e ativa, que lograram sucesso ao mobilizar largas
frações da classe média – nós, os “coxinhas” – nas maiores manifestações
políticas jamais vistas na história do Brasil. Eles são os verdadeiros
movimentos de rua, em contraposição aos mercenários do partido
totalitário, os tais “mortadelas” de patéticas mobilizações “de massa”,
apoiados pelo maior exército de blogueiros “sujos” de que se tem notícia
nas comunicações mundiais, todos ilegalmente pagos com o meu, com o
seu, com o nosso dinheiro. Tal distinção, entre velhos e novos
“movimentos de rua”, deve ser feita, porque são os novos que estão na
origem do atual processo de impeachment, e são eles que explicam o vigor
com que a Operação Lava Jato tem trabalhado para desmantelar os
tentáculos da cleptocracia de estado criada e expandida enormemente sob
os neobolcheviques caboclos.
Que a
corrupção não tenha sido criada por eles, isso é óbvio. Mas, para usar
uma linguagem marxista, ela sempre existiu naquele estágio do modo de
produção artesanal, sob o qual políticos roubavam individualmente, em
pequena escala, de acordo com as condições e oportunidades: uma emenda
orçamentária aqui, uma ONG familiar acolá, um projeto de quadra
esportiva em Cabrobró da Serra, uma compra governamental em Tiririca do
Monte, e superfaturamentos ocasionais nas estatais penetradas. A partir
dos companheiros, a corrupção passou a uma etapa superior, como diria
Lênin, ao modo de produção industrial da roubalheira, à sua fase
sistêmica, disseminada, indiscriminada. Os órgãos estatais foram
devidamente aparelhados, ajustados para o assalto organizado, e até
desorganizado, como testemunham os depoimentos de alguns varões do
empresariado nacional (os tais que foram chamados por um apparatchik a
pagar o percentual de 1% mesmo retroativamente, ou seja, desde que se
iniciou a era do Nunca Antes). Desfaçatez igual nunca se viu nos
bandidos políticos tradicionais.
Na origem
de tudo isso, uma mudança importante, do antigo patrimonialismo
político para sua modalidade peculiar sob o reino dos neobolcheviques,
como estudado em inúmeros artigos e até num livro inteiro – A Grande
Mentira – por Ricardo Vélez-Rodríguez: essa modalidade, da mesma forma
como certas vertentes do peronismo, pode ser chamada da patrimonialismo
gangsterista, que é quando uma quadrilha de meliantes se apossa de
várias vertentes da máquina pública – como ocorreu em certas regiões da
Itália em determinados momentos de sua história política – para dela
fazer o mesmo uso que fazem chefes de máfias em atividades ligadas ao
submundo do crime.
Foi assim
que o Brasil chegou à era da Grande Destruição, ao afundamento de sua
economia e ao desmantelamento de certo número de instituições públicas.
Algumas, felizmente, não foram aparelhadas, e o espírito da cidadania
crítica conseguiu emergir, na chamada República de Curitiba, para
começar a golpear, dentro das regras do jogo, as trapaças mais sórdidas
da quadrilha mafiosa que parecia ter se apossado totalmente do Brasil. É
esse renascimento da consciência cívica em largos extratos da população
que me habilita a, preventivamente, declarar a morte de um farsante.
Como escrevi num artigo anterior, já não era sem tempo...
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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