Uma
amiga ligada ao Partido Novo me comentou sobre a questão do fundo
partidário: o partido não o aceita. Isso me fez retrucar com uma
pergunta que a incomodou: “por que eu deveria votar em um candidato de
direita que não quer fundo partidário?”.
Minha questão pode parecer incômoda, mas
é mais óbvia do que parece. Uma vez que eu escolha um candidato, estou
depositando expectativas em alguém que decididamente quis lutar pelo
poder. Conquistando o poder, essa pessoa poderá lutar por uma agenda com
a qual eu concordei mais, na comparação com a agenda de oponentes. Mas
por que eu deveria depositar meu voto em alguém que não quer disputar de fato o poder?
Vamos a uma discussão pragmática sobre “mundos”:
- O mundo ideal para nós, onde não existe fundo partidário para ninguém
- O mundo presente, onde existe o fundo partidário para todos
- O mundo ideal de nossos oponentes, onde existe o fundo partidário para eles
A coisa é bem prática. Quem realmente
luta pelo mundo (1) deve evitar que o mundo (3) aconteça. Assim, dentro
do mundo (2), ele deve ir aos poucos lutando para criar o mundo (1).
Logo, a primeira prioridade de quem é
contra a existência do fundo partidário não é deixar de recebê-lo, mas
recebê-lo de modo isonômico em comparação aos seus oponentes, para, com
estes recursos, lutar para extingui-lo para todos, não apenas para você.
Mas isso vem com o tempo.
Apliquemos esta regra no cotidiano dos
concursos públicos. Imagine que alguém decida, por princípio, deixar de
concorrer ao serviço público. Se a intenção for lutar por um mundo sem
funcionalismo público, tal ação é quimérica, uma vez que outros irão se
candidatar ao serviço público no lugar dele. Logo, esta ação, tomada por
princípio, não faz nada em direção a uma suposta proposta de eliminação
do funcionalismo público.
Por outro lado, se alguém unicamente
toma uma decisão política por princípio, então talvez essa pessoa não
esteja dedicada a um projeto de poder, mas à manias particulares. Se
assim o é, por que eu deveria dedicar meu voto à essa pessoa?
Claro que devemos abrir exceção às
pessoas que possuem um séquito muito grande de admiradores que adorariam
vê-la abandonar o fundo partidário e, em troca disso, votariam nelas em
quantidade suficiente para elegê-las. Mas geralmente este não é o caso.
Algumas pessoas abandonam o fundo partidário por uma simples questão de
purismo.
Todavia a realidade é dura. E nesta
realidade, para que as agendas políticas avancem, é preciso adquirir o
poder. Um político com capacidade de fazer avançar nossa agenda, é
alguém que deve lutar ferrenhamente pelo poder, situação a qual
permitirá que ele leve nossas propostas adiante. Mas alguém que, sem uma
razão estratégica, decide deixar de receber o fundo partidário, talvez
não esteja tão dedicada a uma verdadeira luta por poder. Talvez concorra
por ego, ou por pura diversão. Nesse caso, já que a pessoa não está tão
decidida a conquistar o poder, também não deveria receber nossos votos.
É como fazemos nas empresas. As pessoas
mais dedicadas a conquistarem um cargo são mais valorizadas. Do mesmo
modo, aqueles mais dedicados a conquistarem os cargos públicos, talvez
mereçam mais nossos votos nesse intento. A primeira condição a ser
observada é notar se o candidato não está disposto a criar “molezas”
para os adversários em nome de manias puristas.
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