Nada mais enfadonho baixo, reles e vil do que este arrastado processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Chega a dar náusea. Na sexta-feira Renan Calheiros se mostrou por inteiro. Comparou o Senado que ele preside a um hospício e por isso vai responder, na Justiça do Rio, a uma ação indenizatória por dano moral coletivo a pedido de uma clínica psiquiátrica que mantém 38 pacientes internados em tratamento. A diretoria da clínica considerou — e com toda razão — a declaração de Renan como pesado ultraje não apenas à instituição, mas a todas as clínicas brasileiras que abrigam e cuidam de pessoas portadoras de doenças mentais, que não são poucas, nem poucos, as clínicas e os pacientes.
O presidente do Senado já deve estar sabendo do processo cível que vai ser réu. Matéria publicada aqui na Tribuna da Internet antecipou a abertura do processo. E Ancelmo Gois também deu a notícia em sua coluna na edição de sábado de O Globo.
PARALELO OFENSIVO – A qualquer categoria, entidades, instituições ou grupo de pessoas que Renan comparasse o Senado, o paralelo seria ofensivo. Se Renan, em vez de dizer que o Senado parecia um “hospício” e dissesse que parecia uma “zona”, as mulheres profissionais do sexo também se sentiriam ofendidas e teriam todo o direito de processar Renan, pedindo reparação por dano moral.
Renan também causou outro quiproquó gravíssimo. Em discurso, falando alto e com raiva, Renan disse que a senadora Gleisi Hoffman nunca poderia ter dito, na véspera, que os senadores não tinham moral para fazer o julgamento de Dilma. Isto porque, bradou Renan, ele próprio foi até o Supremo Tribunal Federal para “desindiciar” a senadora e seu marido Paulo Bernardo. Foi e conseguiu. O que é isso?
O presidente do Senado vai à Suprema Corte de Justiça, pede e consegue livrar do indiciamento uma senadora e seu marido, e consegue! É uma revelação nada republicana, nada democrática e vergonhosamente danosa e desonesta para o Parlamento e o Judiciário nacionais. Agora, sim, é perfeitamente oportuna aquela pergunta que se tornou bastante conhecida: “Que país é este?”.
DILMA NO SENADO – Mas esta segunda-feira promete muito mais. Dilma e Lula estarão no plenário do Senado. Lula, indiciado pela Polícia Federal do Paraná pela prática de três crimes, vai fazer o que no Senado? Dilma anunciou que vai lá fazer sua defesa e responder às perguntas dos senadores, da acusação e da defesa. É aí que mora mais outro perigo. A ocasião poderá gerar confronto de proporções e consequências inimagináveis, fora e dentro do plenário do Senado.
Talvez seja recomendável que Lewandowski convoque a Força Nacional de Segurança para garantir a ordem dos trabalhos, porque serenidade não haverá. Bate-boca, bafafá e xingamentos não faltarão. E esperar para confirmar.
Essas sessões no Senado presididas pelo ministro Ricardo Lewandowski são vazias de conteúdo minimamente jurídico. O processo é político. É pura perda de tempo ouvir essas pessoas convocadas como testemunhas ou informantes. Eles dizem o que querem e o que acham. Não têm o menor compromisso de dizer a verdade.
NEGÓCIO FISCAL – Na sexta-feira um depoente teve a coragem de dizer que, no seu entender, o agricultor quando apanha dinheiro na CEF ou no BNDES para tocar seu negócio e depois paga a dívida com juros, ocorre uma operação bancária. Mas quando o governo pega dinheiro nas mesmas instituições e depois não paga, aí não é operação bancária, mas “negócio fiscal”. E por aí vai. Cada um dá o seu “pitaco” e nada lhes acontece. Dizem o que acham.
Tudo isso que o povo brasileiro está assistindo pela televisão é para cumprir as formalidades, meras formalidades sem nenhum proveito para o deslinde do processo.
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