É isso
mesmo, tirem as crianças da sala ao ligarem a TV Senado: Dilma enfiou no
julgamento os delinquentes petistas, filmados gritando, chorando,
esperneando, mentindo, atacando as instituições. Artigo de Guilherme
Fiuza no jornal O Globo:
Você
achou que já tivesse visto tudo sobre esse fenômeno(a) da política
brasileira, mas tem mais. Vem aí Dilma Rousseff, o filme. O projeto é
simples e genial: enfiar no julgamento do impeachment todos os
delinquentes petistas que roubaram o Brasil sem perder a ternura, e
filmá-los gritando, chorando e esperneando. Não tem erro. Nada comove
mais os brasileiros do que o sofrimento de um picareta do bem.
Felizmente,
o país tem militantes da cultura que não fogem à missão de defender a
quadrilha contra o golpe. É bonito ver a invasão do Senado pelos
cineastas da revolução, enquanto Lula é indiciado pela polícia por
corrupção passiva, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica.
Democracia é isso, cada um escolhe a sua narrativa. Dilma, o filme, não é
em si uma novidade. Isso tudo já era um filme, e continuará sendo.
Se não
fosse, esse bando de notáveis que finge defender uma mulher de um golpe,
para dar aquela retocada no verniz de esquerda, estaria exilado de
vergonha no pré-sal. Sim, porque só num filme muito bem feito o
espectador pode ver uma gangue de parasitas autoritários,
ideologicamente filiados aos Maduros da vida, fazendo papel de heróis da
resistência democrática. Essa importante contribuição do cinema
brasileiro para a formação do caráter nacional terá cenas fortes.
A própria
Dilma já deu a pista, comparando-se a Getúlio Vargas e João Goulart:
ela explicou que só não a obrigaram a se matar, como fizeram com o
companheiro Getúlio, porque hoje vivemos numa democracia. Ou seja: você
vai entrar no cinema para assistir à história de uma lenda viva, sabendo
que ela poderia ser uma lenda morta. Isso emociona. Mas cuidado para
não se engasgar com a pipoca: essa mesma democracia que salvou a vida de
Dilma, a lenda, provavelmente tinha ido à esquina comprar cigarro
quando se deu o golpe de estado.
Porque ou
você tem democracia, ou você tem golpe. Mas não tem problema: se ficar
confuso na tela, é só dar uma legendada na lenda. E aí se dá a
maravilha: você que é um vaidoso, egoísta, sem saco para entender os
problemas complexos do seu país e a fim apenas de dar aquela lustrada na
imagem, ganha uma narrativa épica novinha em folha “contra a direita”.
Getúlio, Jango e Dilma.
Talvez
valesse incluir a frase imortal do companheiro Delúbio no momento em que
estourou o mensalão: “É uma conspiração da direita contra o governo
popular”. O tempo mostrou que ele tinha razão, porque só uma conspiração
muito eficiente seria capaz de levar tantos heróis progressistas para a
cadeia por ladroagem. Graças aos cineastas da revolução, a dicotomia
entre esquerda e direita não será condenada à morte num front colegial
no Facebook.
Seria uma
crueldade deixar Jair Bolsonaro e Jandira Feghali a sós com a criançada
digital. Dilma, o filme, virá mostrar que você precisa decidir
urgentemente se é contra ou a favor da Guerra do Vietnã. Não se omita. A
denúncia cinematográfica contra o golpe dos homens brancos, velhos,
feios, recatados e do lar contra a vanguarda política representada por
Dilma Rousseff é uma grande sacada.
O vexame
petista ameaçava a vida boa dos gigolôs da bondade. A falência do
proselitismo coitado ameaçava criar uma multidão de párias ideológicos.
Aí surgiu a ideia genial, que promete salvar todos os canastrões
politicamente corretos fazendo, simplesmente, o mesmo de sempre: chorar.
As Olimpíadas confirmaram, com toda a eloquência das suas caras e
bocas, que a verdadeira medalha de ouro no Brasil é a manha.
Um bom
tira-teima talvez seja capaz de mostrar Neymar armando a expressão de
bebê chorão ainda com sua bola derradeira balançando a rede da Alemanha.
É impressionante a velocidade da transformação do gênio em bobo, em
nome da brasilidade. Bernardinho não chorou. Mas esse é um chato que só
pensa em trabalhar, construir, melhorar, e alimenta sua alma disso.
Muito estranho. Capaz até de não se emocionar com o filme da Dilma.
Só no
país da manha poderia brotar a coragem de se jogar na tela um bando de
criminosos com sotaque de vítimas, em nome de um filão retórico. O
truque é continuar chorando, porque aqui quem não chora, não mama — e
quem chora mama o seu e o do vizinho, como comprova a literatura pornô
da Lava-Jato.
A
impressionante trilogia GetúlioJango-Dilma logo estará num cinema perto
de você, e também numa sala de aula e num palanque eleitoral (que no
caso são a mesma coisa). Os genéricos do PT já estão nas ruas para
continuar transformando manha em votos. Chorando e mamando.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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