O Globo
Ex-chefe de gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho é apontado pela Polícia Federal como o principal interlocutor de lobistas que atuaram no governo Lula para aprovar uma medida provisória que concedeu benefícios fiscais a empresas automotivas. Gilberto Carvalho prestou depoimento nesta segunda-feira à Polícia Federal, que deflagrou hoje a terceira fase da Operação Zelotes. Na ação, foram presos seis suspeitos de envolvimento com fraudes no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf). Também foi cumprido mandado de busca e apreensão no escritório da LFT Marketing Esportivo, de Luís Claudio Lula da Silva, filho de Lula.
Segundo a revista Época, representação da PF aponta Carvalho como o principal contato dos sócios da consultoria SGR. A empresa foi uma das encarregadas do lobby para as montadoras Caoa, Ford e Mitsubishi (MMC) no governo Lula para a aprovação da Medida Provisória 471, em 2009.
Ainda de acordo com a revista, os benefícios fiscais teriam custado às empresas R$ 36 milhões entre pagamento de propina a servidores e remuneração de lobistas para a aprovação da MP. Os documentos apreendidos na operação, de acordo com a PF, fortalecem a hipótese da “compra” da medida provisória que beneficiou empresas do setor automotivo “utilizando-se do ministro que ocupava a ‘antessala’ do então Presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva”.
— É um absurdo. Espero que a PF mude (o relatório) a partir do meu depoimento de hoje — afirmou Carvalho.
“CAFEZINHO”
A Polícia Federal cita ainda que a edição da MP de interesse das montadoras ocorreu quatro dias depois de um café de Carvalho com um dos lobistas. Papel apreendido na casa do lobista Alexandre Paes dos Santos, preso nesta segunda-feira, traz a inscrição: “Café: Gilberto Carvalho”, no dia 16 de novembro de 2009. Para a PF, a expressão “café” pode ser interpretada como um eufemismo para o pagamento de propina a servidores, o chamado ‘cafezinho’, e os valores citados poderiam fazer parte do acordo entre os lobistas e agentes do governo com vistas à edição da MP 471/2009, de acordo com a reportagem da revista Época. Os documentos também demonstram a estreita relação de Carvalho com o lobista Mauro Marcondes Machado, da consultoria Marcondes e Mautoni.
— Expliquei para a delegada que, na data em que está anotado lá que eu tive um café com o cara, eu estava em Roma com o presidente Lula.
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