Falando à Comissão Mista do Congresso para o Orçamento de 2016, o ministro Nelson Barbosa, sem sentir bem o momento político, conduziu o governo Dilma Rousseff a jogar uma cartada decisiva com base na aprovação ou não da nova CPMF. O titular do Planejamento – reportagem de Cristiane Jungblut, Eliane Oliveira e João Sorima Neto, O Globo, edição de quarta-feira, disse que a CPMF representa o plano A,B,C e D do Executivo, acentuando assim que não comporta alternativas.
Não havendo alternativa, Barbosa partiu para o tudo ou nada. Colocou em xeque – e em choque – a posição da presidente Dilma Rousseff. Sob o ângulo político, não cabia a ele tal tarefa, tampouco imprimir à sua fala o tom imperativo a que recorreu.
Na véspera, o ministro Joaquim Levy foi mais prudente. Inclusive o momento era o menos propício. Substituição de Aloisio Mercadante na chefia da Casa Civil por Jaques Wagner, indecisão quanto a escolha do novo ministro da Saúde. Some-se a isso, a ampliação da presença do PMDB na administração, o que acarretará de forma inevitável a diminuição da parte destinada ao PT.
PESQUISA DO IBOPE
Além de tudo isso, a mais recente pesquisa do IBOPE apontando o baixo índice de aprovação e o alto percentual de rejeição do governo junto a população. O levantamento foi realizado por encomenda da Confederação Nacional da Indústria.
O contexto geral não é nada oportuno para que Nelson Barbosa assumisse a posição de espadachim do Planalto. Principalmente porque a equipe governamental está mudando de comando. Entra Jaques Wagner, bem aceito por Lula, sai Mercadante, que passa para a Educação. O professor Renato Janine Ribeiro foi para o espaço. A tempestade continua, ondas revoltas chocam-se com os alicerces do poder.
É o tal negócio. Toda economia, sua forma, seu processo, tem que se ajustar a um contexto político existente no momento de sua formulação. A frase foi dita pelo então senador por Mato Grosso, Roberto Campos, ao longo de uma caminhada pela calçadão de Ipanema ao lado do médico Rinaldo Delamare, seu saudoso amigo. Campos acrescentou que, no mandato de senador, ressentia-se muito da falta de experiência política, a qual começava a somar sua cultura econômica e geral.
ERROS DE CAMPOS
Roberto Campos cometeu erros, admitiu. Um deles, em 1959, quando do debate em torno da exploração do petróleo boliviano, o chamado Acordo de Roboré. O tema empolgara parte da opinião pública e ele defendia o tratado. A corrente nacionalista do governo JK, inclusive na área do Exército predominou e, no dia 21 de abril, em palestra no Clube Militar, Juscelino (eu era repórter do Correio da Manhã) anunciou a demissão de Roberto Campos do cargo de superintendente do antigo BNDE. Hoje o cargo é de presidente e o banco passou a chamar-se BNDES. Fora criado por Vargas em 51, primeiro ano do governo que teve seu desfecho a 24 de agosto de 54. Mas esta é outra questão.
SEM PLANO B
A mim parece que o que faltou a Roberto Campos, em 59, falta agora a Nelson Barbosa em 2015. Déficit de experiência política, de sensibilidade para com o momento que predomina no contexto e que torna lances como o que colocou na mesa extremamente arriscados. E se falhar a aprovação da CPMF? Na lógica de Barbosa, não haverá saída para Dilma Rousseff.
Claro. Pois se não existe plano B, não há alternativa política. Político algum joga todo destino numa só cartada. Sobretudo porque a política é como a nuvem: muda de forma e sentido a todo instante. A frase que citei outro dia, lembro de novo, é de Magalhães Pinto. O ministro do Planejamento não a conhece. Aliás não leva noção de política.
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