Frederico Haikal/Hoje em Dia
Tatuagem feita na rua: risco de contaminação por aids e hepatite
INSALUBRE – Ambiente de rua possibilita vários tipos de infecção

Caixotes de papelão, algumas revistas ilustrativas e uma máquina para tatuar. Com essa estrutura precária na rua, pessoas oferecem o serviço de tatuagem, considerado de alto risco de contaminação, em especial para doenças como Aids e hepatites B e C.

A reportagem do Hoje em Dia circulou pelo Centro de BH e não teve dificuldade em encontrar os “artistas de rua”, como se autointitulam. Sem qualquer receio, eles garantem que a tatuagem feita ali mesmo não oferece perigo à saúde.

Tomando uma cerveja, no passeio da rua São Paulo, quase esquina com a avenida Santos Dumont, um tatuador lamenta o “preconceito” existente. “A tatuagem não nasceu num estúdio, começou com os índios, na floresta. Não tem perigo”.

Na conversa, a reportagem se passou por um cliente interessado no serviço. O tatuador disse que seria possível fazer o desenho no próprio passeio, sentados num caixote.

A sujeira no chão e a poluição do trânsito não o incomodaram. “O mais caro na tatuagem é a agulha, e ela custa R$ 2. Eu uso e descarto”, argumentou. O valor de uma tatuagem de 4 centímetros sairia por R$ 40.

Clandestino

O exercício da atividade de tatuador deve obedecer a uma série de normas técnicas sanitárias (veja quadro). Além disso, em Belo Horizonte, trabalhar na rua fere o Código de Posturas. O infrator está sujeito a multa imediata no valor de R$ 940,63.

A fiscalização é feita pela Secretaria Municipal Adjunta de Fiscalização (Smafis). Apesar dos flagras da reportagem, por meio de nota, a secretaria informa que, rotineiramente e em atendimento às demandas do cidadão, faz a fiscalização.

A Smafis destaca que, para reforçar o trabalho, é desenvolvido o projeto Patrulha Fiscaliza BH, em que equipes percorrem as nove regiões, de segunda a sábado, para combater obstruções de vias públicas, poluição visual e sujeira.

Autuações

A Secretaria Municipal de Saúde (SMSA) esclarece que a Vigilância Sanitária (Visa) atua apenas nos estabelecimentos. Na capital, 122 estúdios de tatuagem estão cadastrados na Visa. Neste ano, 24 foram vistoriados.

As principais irregularidades encontradas são: falta de manual atualizado de normas e rotinas para a atividade; trabalhadores sem avental, gorro e óculos adequados; falta de atestado médico de clientes e falta de higienização.
Há problemas corriqueiros também relacionados à inexistência de prazo de validade do envasamento de líquidos, como álcool, em recipientes.

‘É como fazer uma cirurgia sem os devidos cuidados’

Membro da Sociedade Mineira de Infectologia, o médico Carlos Alessandro Plá Bento reforça que, mesmo usando uma agulha descartável, fazer uma tatuagem em um ambiente tão insalubre como a rua gera um risco enorme de contaminação.

“Nesse tipo de procedimento, ocorre a perfuração da pele, o que resulta na perda da integridade do tecido. Isso facilita a contaminação por micro-organismos presentes no local, podendo levar a infecções, como as de pele e as bacterianas comuns, por exemplo, o tétano”, explica Plá Bento.

PERIGO

O reaproveitamento de agulhas gera riscos ainda maiores, de transmissão de doenças pelo sangue, como Aids, hepatites, sífilis e doença de Chagas. Até a mão do tatuador, se não for criteriosamente higienizada, pode transmitir bactérias para a pele de quem está recebendo a tatuagem, aumentando o risco de infecção.

“O fato de ficar num ambiente aberto, sem a devida assepsia, gera o risco de infecções bacterianas. É como se fizesse uma cirurgia sem os devidos cuidados”, alerta o médico.

Tatuagem feita na rua: risco de contaminação por aids e hepatite