Usiminas/Divulgação
Com a demanda em queda, siderúrgicas desligam equipamentos e cortam vagas
Esse cenário coloca o desempenho do parque siderúrgico nacional, que tem Minas Gerais como o maior fabricante, na contramão do que ocorre no mundo. A World Steel Association (WSA) estima um ligeiro crescimento no consumo global, de 0,6%, com alta de 2,8% em países emergentes. Para o Brasil, a previsão é de retração de 7,8% em 2015, com aços planos recuando 6%.
De acordo com o Instituto Aço Brasil (IABr), as importações totais de aço no país aumentaram 4,9% de janeiro a maio deste ano em relação a igual período do ano passado. As compras externas de aço plano, mercado de Usiminas e CSN, siderúrgicas instaladas em Minas Gerais, deram, em maio, salto de 19,6% em relação ao mês anterior, de acordo com o Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Produtos Siderúrgicos (Sindifer).
Efeito do câmbio
Mesmo com o câmbio desvalorizado, a entrada de aço plano importado no mercado nacional no primeiro trimestre deste ano representou 16% das vendas, segundo informações do balanço financeiro da Usiminas referente a esse período.
O presidente-executivo do Instituto Aço Brasil (IABr), Marco Polo de Mello Lopes, afirma que o real, embora desvalorizado frente ao dólar, ainda não é competitivo em relação às moedas dos países com os quais o Brasil disputa mercado, como o rublo (Rússia) e o yuan (China).
“Por isso, e por outros fatores estruturais, como energia cara e peso de impostos, que esse câmbio não é competitivo”, diz.
Já o presidente do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda), Carlos Loureiro, avalia que o custo mais alto do crédito no Brasil e as facilidades chinesas impulsionam a importação. “Com o câmbio desvalorizado, estamos sempre esperando queda da importação no mês seguinte e isso não se confirma. Em parte isso ocorre porque há um juro muito baixo nas compras da China, enquanto aqui fica mais caro, mesmo com o risco cambial. De qualquer forma, é uma importação muito forte e resiliente”, afirma.
Demanda fraca provoca demissões e adia investimentos
Com a indústria combalida, especialmente os setores com maior consumo de aço, como o automotivo e a construção civil, a retomada da siderurgia nacional não deve ocorrer no curto prazo. O presidente-executivo do Instituto Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes, aponta uma política voltada para a indústria de transformação como a saída.
“A indústria de transformação, onde está a siderurgia, foi sendo desidratada ao longo dos anos. É preciso um olhar prioritário sobre esse setor por parte do governo. Vivemos uma crise estrutural e uma conjuntural, que nos colocam à frente um desafio monumental”, afirma.
Os impactos já percebidos no parque siderúrgico nacional são severos. De acordo com o Instituto Aço Brasil, há, no momento, 20 equipamentos desativados ou paralisados no setor e, dentre eles, dois altos-fornos, quatro aciarias e quatro laminadores. Nos últimos 12 meses, foram demitidos 11.188 funcionários, e 1.397 contratos, suspensos (lay off).
Compasso de espera
O adiamento de US$ 2,1 bilhões em investimentos impede a geração de 7.194 postos de trabalho. Com a redução da demanda e o aumento da ociosidade, 21 equipamentos foram adquiridos e ainda não instalados pelos fabricantes de aço: dois altos-fornos, uma aciaria, dois laminadores e outros 16 equipamentos diversos.
O impacto desse mercado retraído vai chegar ao balanço financeiro das companhias, aposta o presidente do Inda, Carlos Loureiro.
Ele observa que a alta penetração do aço importado tem impedido reajustes internos nos preços. A última alta foi em janeiro.
No segundo trimestre, os balanços das siderúrgicas trarão resultados ainda mais fracos do que no primeiro. “Não fosse a importação, as siderúrgicas teriam feito um segundo aumento este ano. Após o balanço do segundo trimestre, tentarão de novo”, prevê.
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