Eita!
Eis que, não mais que de repente, surge um coordenador político no
governo. É o mais improvável de todos eles: Joaquim Levy, ministro da
Fazenda. Aquele que estreou no comando da economia classificando de
tosca a forma como o governo Dilma desonerou a folha de pagamentos;
aquele que disse num seminário fechado que é genuína a vontade da
presidente de endireitar o Brasil, embora ela seja pouco efetiva; aquele
que previu recessão, quando, na sua posição, esperavam que se calasse;
que tem um ar, assim, meio “nerd”, com uma aparência algo alienada dos
problemas mundanos; que é chamado pelos petistas e pelas esquerdas de
“neoliberal”; que parece preferir se esconder em olhos miúdos, tornados
ainda menores pelas lentes da miopia; que semelha ter uma certa
obstinação alheia às vicissitudes do mundo real… Eis que este senhor foi
o único capaz de dar ao menos uma freada na máquina de moer Dilma em
que se transformou o Congresso.
Atenção! A
presidente da República tem nada menos do que nove coordenadores
políticos. Por isso mesmo, o que ela mais colhe são desastres. Lembram
aquela piada de quantos petistas são necessários para trocar uma
lâmpada? Resposta: nove! Um para segurar a dita-cuja e oito para girar a
escada.
Levy falou
neste terça na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. Convenceu os
parlamentares a adiar para a próxima terça-feira a votação que obriga o
governo a renegociar a dívida dos Estados e municípios, conforme lei já
aprovada pelo Congresso e sancionada por Dilma.
O ministro
propôs que o novo índice de correção da dívida só comece a ser aplicado
a partir de 1º de fevereiro do ano que vem, quando, então, se saberá se
o governo terá ou não cumprido a meta fiscal. O que, a partir de agora,
for pago segundo a lei anterior seria posteriormente ressarcido. Rio e
São Paulo, as duas cidades mais interessadas nas novas regras,
concordaram com o adiamento.
Levy falou
longamente sobre a necessidade de “endireitar” a economia, para usar
palavra sua, e fez ver aos senadores que o eventual malogro do ajuste
fiscal levará as agências de classificação de risco a rebaixar o país, o
que seria catastrófico. Sua intervenção foi bem recebida por
governistas e oposicionistas.
O ministro
obteve numa conversa o êxito que os nove trapalhões de Dilma não
obtiveram, a despeito de sua frenética movimentação. Isso demonstra que o
Congresso pode, sim, ser suscetível a um bom argumento e à honestidade
de propósitos. Ninguém precisa gostar de Levy ou de suas medidas. Mas
ele é um homem correto.
Dilma mãos de tesoura
Em entrevista à Agência Bloomberg, a presidente Dilma Rousseff afirmou que o governo “prepara um grande corte” de gastos. Estima-se que o Orçamento possa ficar entre R$ 70 bilhões e R$ 80 bilhões menor.
Em entrevista à Agência Bloomberg, a presidente Dilma Rousseff afirmou que o governo “prepara um grande corte” de gastos. Estima-se que o Orçamento possa ficar entre R$ 70 bilhões e R$ 80 bilhões menor.
Dados
divulgados nesta terça-feira mostraram que o Governo Central, no mês,
teve um déficit de R$ 7,357 bilhões, com um acumulado negativo de R$
24,9 bilhões em 12 meses.
Se esse
ritmo não mudar, o país não conseguirá cumprir a meta de superávit
primário de 2015: 1,2% do PIB — ou R$ 66 bilhões. O que fará Dilma Mãos
de Tesoura? Bem, agora ela tem um coordenador político, não é? Coloque
Levy para negociar. Se ele não conseguir, melhor dizer adeus às armas…
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