MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

quinta-feira, 30 de abril de 2015

Cingapura e suas lições na indústria, infraestrutura, estratégia e educação

Lee Kuan Yew, líder fundador da cidade-estado, garantiu crescimento recorde ao local

Cingapura, mesmo com suas peculiaridades, seguiu uma trajetória que fornece alguns ensinamentos a outros países. Sob a tutela de Lee Kuan Yew, morto no mês passado aos 91 anos, saiu do terceiro para o "Primeiro Mundo", e conquistou um PIB de 7% ao ano, em média, por quatro décadas. Apesar do modelo restritivo aos civis, do ponto de vista econômico, a total abertura comercial favoreceu o crescimento, apontam economistas.
"A esta altura do ano da graça de 2015 e em meio as nossas dúvidas sobre o horizonte dos rumos nacionais, é grande o número de opiniões a circular, em geral calcadas, como nos é tradicional, em exemplos estrangeiros. Indicam-nos os mais diversos modelos e alertam-nos para a inconveniência de outros tantos. Aconselham-nos a seguir ou a evitar tais ou quais passos que estão em voga. Mas em geral a fonte das ideias gira em torno da Europa, dos Estados Unidos ou de vizinhos da América Latina", diz J. Martins Oliveira na abertura de seu artigo Um exemplo melhor para o Brasil, no qual ele discorre sobre a trajetória do líder fundador e ex-primeiro ministro de Cingapura, Lee Kuan Yew, que deixou suas memórias no livro The Singapore story.
Martins Oliveira, então, aponta os méritos de Lee, que "conseguiu em três décadas catapultar Singapura 'do terceiro para o Primeiro Mundo", sob condições adversas, "sem espaço territorial além de uma ilha superpopulosa, sem recursos naturais e povoada por uma massa de imigrantes poliglotas com poucos traços em comum". Aponta em seguida o grande sucesso econômico, com o PIB a 7% de crescimento ao ano, em média, por quatro décadas. Chama a atenção do articulista também a prática da cidade-estado com seus ministros, os mais bem pagos do mundo para atrair talentos do setor privado e coibir a corrupção.
"Tudo aqui (no Brasil) é completamente diferente de Singapura, mas o que diz Lee Kuan Yew em sua história tem muita coisa a ser considerada", conclui Martins Oliveira.
Adriano Gianturco, professor dos cursos de Economia e Relações Internacionais do Ibmec, destaca que, basicamente, o que aconteceu em Cingapura é que a cidade-estado adotou um dos modelos mais abertos de mercado, com liberdade econômica para importações e exportações. "Cingapura tem 400% de importação em cima do PIB, algo incrível. O Brasil, que tem políticas muito protecionistas, tem 12,6% de importações e exportações, somadas, em cima do PIB. Cingapura tem 200% só de importações. Então, importa muito, e exatamente por isso é um país muito rico."
Gianturco chama atenção para o fato de ser um "fator indispensável" a países pequenos se abrir ao mercado, pela pouca vantagem comparativa a outros países. "Eles precisam necessariamente se abrir, fortalece os negócios, isso em termos de abertura econômica. Cingapura está entre os mais abertos. No que se refere às liberdades civis e individuais, na área mais política, é um modelo muito autoritário, muito restritivo, podemos falar, conservador. Tem penalidades fortíssimas para crimes. Por outro lado, do ponto de vista econômico, tem uma abertura quase total."
Os países mais fechados, continuou o professor, são geralmente os maiores, como Brasil e Rússia. "Em Cingapura, eles tentaram um modelo diferente e não deu certo, e aí entenderam que a única alternativa era se abrir. E isso foi feito de forma burocrática, política, de cima para baixo. Lá, foi um planejamento muito pró-mercado."
Para o professor, no Brasil, existe esse mito de que importar é muito ruim. O protecionismo, então, gera uma exclusão comercial, com produtos caros e de baixa qualidade, com tendência a oligopólios e monopólios. "O Brasil é uma economia de monopólios, de preços altíssimos e qualidade péssima em qualquer produto. O Brasil, sendo tão grande, pode se dar o luxo de se fechar e postergar essa necessidade de se abrir, que é uma necessidade, em todo o caso."
Martins Oliveira, em seu artigo, destaca que poucos governantes personificaram e dominaram seus países como Lee, "talvez Fidel Castro", diz, "que não rivaliza com os feitos de Lee". Para Gianturco, Cuba e Cingapura representam dois modelos absolutamente diferentes. Cingapura não é um modelo exatamente liberal, devido ao autoritarismo entre os civis, mas o é do ponto de vista econômico. "A minha esperança é que, depois da ditadura Castro, Cuba possa se abrir e representar uma Cingapura dos Caribes", destaca Gianturco.
Geraldo Biasoto Jr., professor licenciado do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas, salienta que um dos aspectos em relação a Cingapura é que trata-se do desenvolvimento de uma Cidade-Estado, muito diferente do que é desenvolver um país em âmbito continental. Além disso, há uma certa situação ditatorial em Cingapura, que é aberta comercialmente, mas com "uma mão de ferro do governo", então "não é um Estado efetivamente democrático".
Cingapura, contudo, aponta Biasoto, de fato, apresenta lições para o Brasil. Primeiro, o fato de que eles se preocuparam desde sempre com a indústria. A participação da indústria de Cingapura dentro do PIB é de 26%, mais que o dobro da brasileira, "não deveria ser assim, afinal de contas, não há nem espaço para ter indústria". Outro aspecto é em relação à educação, para o professor, dá para ver em toda a trajetória do líder Lee que sempre houve uma preocupação com mérito e com educação.
"Cingapura tem um parque de logística de transportes, que é absurdo, dos mais movimentados do mundo. Uma coisa que foi muito importante para eles foi a questão financeira, como eles abriram para ser um centro de finanças, e houve uma espécie de revoada de controles financeiros de outros países para se instalarem em Cingapura, eles ganharam densidade nisso, e uma coisa atraiu a outra", destaca Biasoto.

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