Jornalista americano fala sobre a situação política maranhense
Em artigo para o jornal americano New York Times, o jornalista e correspondente Simon Romero fez um ensaio sobre a situação política maranhense. Ele enfoca as mudanças geradas no cenário e as possibilidades de alterações causadas pela queda da família que controla o estado há cerca de 50 anos – com algumas poucas alternâncias.O artigo saiu no dia 27 deste mês e o jornalista escreveu:
"O tributo é generoso. Entre no Convento das Mercês, uma gema colonial construída em 1654 e elegantemente reformada, e conheça mais sobre José Sarney, um ex-presidente do Brasil e chefe da dinastia política que controla o vasto estado nordestino do Maranhão por décadas.
Um documentário mostra do Sr. Sarney como um governador bigodudo e generoso que levantou o Maranhão do seu isolamento econômico dos anos 60. Fotos capturam ele governando o Brasil na sua transição para a mão de civis no meio dos anos 80. Um amostra de títulos, incluindo “Mestre do Mar”, mostram suas proezas literárias como um escritor-estadista.
Fora do Convento das Mercês, que abriga uma fundação financiada pelo estado, anunciando o Sr. Sarney, os habitantes conseguem rapidamente apontar quais são as marcas deixadas pela família ao redor de São Luís, capital do estado.
Precisa de algum lugar para morar? Considere a vizinhança da Vila Sarney, eles brincam. Um hospital? Aqui está a Maternidade Marly Sarney. Quer alugar um livro? Tente a Biblioteca José Sarney. Quer ir ao antigo centro da cidade? Pegue a ponte José Sarney.
Mas agora, todas as celebrações visíveis do Sr. Sarney agora estão em grande disparidade com a forma que o patriarca, 84, e seus filhos são vistos pela população do Maranhão, um dos estados mais pobres, e pelo resto do Brasil.
Os eleitores depuseram os políticos leais a Sarney nas eleições estaduais no Maranhão em outubro, e o homem, de longe um dos senadores mais poderosos, anunciou que ele não iria tentar se reeleger, abrindo a possibilidade para umas das mudanças políticas mais profundas no Brasil nos últimos anos.
'Um dos últimos coronéis brasileiros está finalmente em declínio', disse Rodrigo Lago, um advogado e ativista, usando um dos termos de homens poderosos sobre grandes áreas do Brasil, especialmente no pobre nordeste.
'Se o Maranhão pode mudar então outras oligarquias em qualquer lugar podem ser derrubadas', ele adicionou.
Oligarquias poderosas em outros lugares do Brasil também tem mostrado sinais de cansaço. Na Paraíba, outro estado nordestino, o filho de Ronaldo Cunha Lima, um ex-governador que atirou no seu antecessor em um restaurante cheio em 1993, sem nunca ter cumprido a pena por tentativa de assassinato, perdeu a disputa de governador este ano.
Da mesma forma, eleitores impediram que o filho de Jader Barballho, um senador poderoso com um império de midiático que há tempos vem batalhando com acusações de corrupção, fosse eleito o governador do Pará, o estado enorme na Amazônia na fronteira com o Maranhão.
É claro, famílias políticas poderosas são resistentes e dinastias sempre podem retornar. Em Alagoas, um dos estados mais pobres do Brasil, o filho de 34 anos do Presidente do Senado brasileiro, Renan Calheiros, foi eleito governador em outubro.
Enquanto a presidente Dilma Rousseff é do Partido dos Trabalhadores, de esquerda, tem poucas opções a não ser forjar alianças com centristas e partidos conservadores, alguns chefiados por chefes políticos mais antigos.
Mas aqui no Maranhão, bastião de Sarney, muitas pessoas são sinceras quanto às chances de fazer uma curva.
'Nós estamos cheios dos Sarneys, que ficaram no poder apenas para enriquecer', disse Sueli Celeste, 48, a secretária da escola perto do Convento das Mercês, no antigo centro de São Luís, que abunda de palácios abandonados, um após o outro.
'Esconda seu celular quando você anda por aqui' afirmou ela. 'Os viciados em crack irão roubá-lo se eles virem você tirando fotos'.
As raízes do ressentimento não são difíceis de enxergar. O Maranhão continua um dos estados mais pobres do país, com a maioria dos seus habitantes tentando sobreviver como agricultores de sub-existência.
Ainda assim a família Sarney consegue ajuntar uma poderosa coleção de veículos de mídia, incluindo o jornal O Estado do Maranhão e a TV Mirante, afiliada da Globo, que permite ao clã celebrar suas conquistas e atacar os seus críticos.
'A mídia constantemente exalta as grandes coisas que o Sarney e seus aliados fizeram e estão fazendo', afirmou Sean Mitchell, um antropólogo da Universidade Rutgers, que conduziu um extenso estudo sobre o Maranhão. 'Apesar disso, os serviços públicos dispostos pela família e aliados é terrível'.
O Maranhão está em penúltimo entre o ranking dos 26 estados brasileiros no índice de Desenvolvimento Humano da ONU, que compreende fatores como níveis de educação, salários e expectativa de vida.
Escrevendo na sua coluna semanal no Estado do Maranhão neste domingo, o jornal da família, o Sr. Sarney argumentou que o Índice foi criado como estratégia dos 'países imperialistas' para abusar das fraquezas nos países em desenvolvimento.
'Esse é o índice que eles criam quando eles querem falar mal sobre o Brasil e pior sobre o Maranhão', ele afirmou. (O cálculo foi criado na verdade pelo economista Mahbub ul Haq e ex-ministro de Finanças do Paquistão).
Flavio Dino, um ex-ministro e membro do Partido Comunista do Brasil, voo até a vitória como governador na corrida em outubro contra os candidatos aliados da família Sarney propondo uma campanha que aumenta os padrões de vida.
O Sr. Sarney nasceu numa cidade no interior do Maranhão em 1930, como José Ribamar Ferreira de Araújo Costa. Ele pegou o nome que parece como estrangeiro do pai, Sarney, e transformou em seu sobrenome e começou sua carreira política com poucos paralelos no Brasil.
Um dos apoiadores de uma cúpula que terminou na ditadura militar em 1964, ele prosperou durante o governo autoritário antes de emergir em 1984 como o parceiro de Tancredo Neves, líder da restauração da democracia no Brasil. Eleito como presidente em 1985, o Sr. Neves morreu de complicações devido à uma cirurgia intestinal antes de assumir o cargo, abrindo o caminho para o Sr. Sarney ascender até o poder.
O Sr. Sarney deixou o cargo em 1990 com apenas 14% de aprovação, no meio de críticas e super controle da economia. Nesse momento o Brasil sofria com uma inflação anual de 1,765 porcento.
Então o Sr. Sarney se reinventou como um senador representando o estado do Amapá, território do Amazonas que foi feito estado em 1991, procurando o crescimento do império midiático da família e a entrada de seus filhos na política. Ele ascendeu novamente na última década como presidente do Senado, enquanto enfrentava acusações de nepotismo e corrupção.
Sua filha, Roseana, a atual governadora, que já está de saída, do Maranhão, é celebrada nas páginas do jornal da família (uma foto de primeira capa de novembro mostra a governadora tocando um violão durante uma visita a uma escola). No entanto, seu último ano no governo foi atingido por uma crise envolvendo rebeliões nas prisões com direito a decapitações e denuncias de que gangues estavam estuprando as esposas dos outros presos durante as visitas conjugais.
Citando razões pessoas, a Sra. Sarney saiu neste último mês, faltando apenas algumas semanas para o fim do seu último mandato, evitando a cerimônia de transferência de faixa de governador para seu sucessor no dia primeiro de janeiro. Enquanto isso, depoimentos sobre o escândalo de corrupção envolvendo a empresa de petróleo estatal a ligaram ao esquema. A Sra. Sarney, que negou as denuncias, também negou um pedido de entrevista.
Alguns no Maranhão duvidam que a família Sarney irá sentar e ver os seus opositores chegarem ao poder. Na realidade, a Sra. Sarney foi expulsa do palácio do governador uma outra vez, antes da eleição de um opositor em 2006.
Mas ente foi derrotado por conta das críticas na mídia controlada por Sarney e acusações de um esquema de compra de votos, habilitando Roseana Sarney a assumir o seu lugar.
Seu pai, o patriarca da família, continua poderoso ao final de sua longa carreira política. Escrevendo na sua coluna dominical sobre o 'novo Maranhão' o Sr. Sarney afirmou que o estado parecia um “corpo sem cabeça” antes de assumir o cargo de governador nos anos 60.
'A geração de hoje não tem a menor noção das dificuldades; a maior vitória foi mudar a mentalidade do Maranhão', ele disse. “Foi tão forte que gerou um Presidente da República, e o Maranhão emergiu como um dos estados mais importantes do país'.
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