MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

domingo, 2 de novembro de 2014

Metro quadrado em cemitério do Rio custa mais caro que o do Leblon


Metro quadrado no cemitério custa R$ 25 mil e no Leblon R$ 23,6 mil.
Túmulo de 4,8m² sai por R$ 120 mil no São João Batista.

Daniel Silveira Do G1 Rio
Cemitério São João Batista, na Zona Sul do Rio, tem o metro quadrado de terra mais caro do Brasil (Foto: Káthia Mello / G1)Cemitério São João Batista, na Zona Sul do Rio, tem o Cristo Redentor como paisagem e o metro quadrado de terra mais caro do Brasil (Foto: Káthia Mello / G1)
A vizinhança é ilustre. A vista para o Cristo Redentor é privilegiada. E o preço do metro quadrado é mais caro que o do bairro mais nobre do país. Embora o habitante não interaja com os vizinhos, sequer possa apreciar a vista, fato é que adquirir um espaço no Cemitério São João Batista, em Botafogo, Zona Sul do Rio, custa mais que área equivalente no Leblon.
Túmulo da cantora Carmen Miranda no Cemitério São João Batista. A cantora era devota de Santo Antônio. (Foto: Cristina Boeckel/ G1)Túmulo da cantora Carmen Miranda é um dos
inúmeros que abrigam os restos mortais de
celebridades no Rio (Foto: Cristina Boeckel/ G1)
De acordo com o Sindicato da Habitação do Rio (Secovi-Rio), em setembro o preço do metro quadrado no Leblon era de R$ 23,6 mil – o mais caro do Brasil, segundo levantamento do Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE). Já o metro quadrado no cemitério custa R$ 25 mil, conforme tabela afixada pela prefeitura em agosto.

Fundado em 1852, o São João Batista abriga os jazigos perpétuos de artistas célebres como Tom Jobim, Cazuza, Chacrinha, Cândido Portinari, e personalidades como o aviador Santos Dumont, entre outros. Ele também abriga o mausoléu da Academia Brasileira de Letras, onde são sepultados os escritores imortais .
Considerando que, segundo informou a Secretaria de Conservação e Serviços Públicos (Seconserva), um túmulo tem dimensão média de 4,8m², o preço de um espaço para sepultar um adulto, com concessão de uso perpétuo, sai por R$ 120 mil – isso sem incluir a construção do jazigo e benfeitorias do local para morada eterna, que ficam a cargo do comprador.
A tabela divulgada pela prefeitura foi estabelecida por meio da Resolução ‘Seconserva’ nº 24, de 12 de agosto de 2014. Ela foi reformulada depois que um escândalo revelou, em julho de 2013, um esquema fraudulento na comercialização de túmulos nos cemitérios do Rio, até então administrados pela Santa Casa de Misericórdia.
Túmulo do inventor do avião, Santos Dumont, sepultado no Cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro. Esta é uma das atrações da visita guiada ao local. (Foto: Cristina Boeckel/ G1)Túmulos como o de Santos Dumont ostentam arte
no cemitério mais caro do Brasil.
(Foto: Cristina Boeckel/ G1)
As fraudes foram denunciadas em reportagem do Fantástico. Os valores cobrados pela quadrilha por um túmulo irregular ou pertencente a outra pessoa chegavam a R$ 150 mil o m², sete vezes mais que o m² do Leblon à época, que era de R$ 22 mil.
De acordo com a Seconserva, os preços dos serviços cemiteriais e funerários no Rio sempre foram tabelados. A nova tabela corrigiu os valores, com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo Especial - IPCA. Porém, a venda de áreas para construção de jazigos, chamada de sub-concessão do uso da terra, não era tabelada até então.

Segundo a Seconserva, para estabelecer os preços do metro quadrado a prefeitura tomou como base os preços praticados em Belo Horizonte e São Paulo, tanto para cemitérios públicos como privados, em setembro de 2013. Segundo o órgão, dados do IBGE indicam que a renda per capita nestas três capitais é praticamente a mesma, com diferenças de até 1%.
A secretaria destacou ainda que “este tipo de serviço é mais afetado por questões religiosas do que por outras diferenças que eventualmente estas cidades possuam”.
TARIFAS CEMITERIAIS VALOR
Tarifa de sepultamento
Óbitos na capital R$ 220
Óbitos vindos de fora da capital R$ 440
Aluguel de capela para velório
Cemitérios de Paquetá, Inhaúma, Ilha do Governador, Ricardo de Albuquerque, Piabas, Realengo, Santa Cruz e Guaratiba R$ 200
Cemitérios São Francisco Xavier (Caju) e Campo Grande R$ 300
Cemitérios de Irajá e Jacarepaguá R$ 400
Cemitério São João Batista R$ 500
CONFIRA A TABELA COMPLETA
Preço de um funeral
Com base na tabela da prefeitura, para enterrar uma pessoa adulta que não possua um túmulo, o valor mínimo necessário é de R$ 839 para sepultamento em um jazigo social - tipo de sepultura criada pela prefeitura do Rio para substituir as chamadas covas-rasas. Na conta estão incluídas a tarifa de sepultamento, o aluguel do jazigo social, o aluguel da capela para velório, o caixão, a taxa de transporte do corpo até o cemitério e as taxas cobradas para registro do sepultamento e emissão dr certidões. Não foram considerados os custos para ornamentação do caixão e do velório.
Caso a família não queira o jazigo social, a opção mais barata seria alugar uma gaveta simples pelo prazo de três anos. O valor saltaria para R$ 1.040 e demanda, ainda, o pagamento de taxa anual de manutenção da gaveta.
Para alugar uma gaveta mais sofisticada, pelo prazo mínimo de cinco anos, o metro quadrado sai por R$ 1.620 nos cemitérios de Paquetá, Piabas, Ricardo Albuquerque, Realengo, Santa Cruz e Guaratiba. No São João Batista o valor do m² da gaveta para aluguel por cinco anos é de R$ 4.860. Assim, o funeral mais barato para sepultamento em gaveta alugada por cinco anos sairia por cerca de R$ 8,5 mil – considerando que a gaveta tenha 4,8m² conforme sugerido pela Seconserva.
Simulando um funeral de luxo no São João Batista, considerando a sub-concessão de uso perpétuo de 4,8m² de terra e a compra do caixão mais caro, o preço ficaria em torno de R$ 123 mil. A esse valor ainda teria de ser acrescido o custo para a construção do túmulo, a decoração do velório com flores e os serviços extras, como confecção de mensagens impressas.

Cremação sai mais em conta
Além de ambientalmente correta, a cremação dispensa gastos com manutenção de túmulos - manter um jazigo, por exemplo, nos cemitérios do Rio custa entre R$ 200 e R$ 500 por ano. Por enquanto, o único cemitério público da cidade que oferece o serviço de cremação é o São Francisco Xavier, mais conhecido como Cemitério do Caju. A taxa de cremação custa R$ 1,7 mil e inclui a utilização de capela para o velório e todos os custos do processo crematório, inclusive o fornecimento de caixa padrão para guardar as cinzas. Sem utilização da capela o valor cai para R$ 800.

Planos funerários
Possibilidade para quem deseja evitar os elevados gastos com funeral, geralmente inesperados, há opções de planos com pagamento mensal. Eles geralmente incluem todos os serviços funerários, inclusive a emissão de documentos e preparação da cerimônia, dispensando a família de cuidar dos trâmites necessários. Os planos individuais variam de R$ 12 a R$ 24 por mês, de acordo com a faixa etária do contratante e serviços escolhidos, permitem a inclusão de dependentes e exigem carência mínima de 90 dias para utilização dos serviços.

Serviços diferenciados
De acordo com Lourival Panhozzi, presidente da Associação Brasileira dos Diretores Funenários, o ramo funerário tem ganhado cada vez mais sofisticação. “As pessoas [do ramo] estão se profissionalizando muito mais. Hoje o Brasil está no nível do mundo inteiro, com serviços que antigamente não havia, como a tanatopraxia [técnica de preparo do corpo que retarda a decomposição]”, disse.
Ele destacou que há funerárias que chegam a oferecer serviço de hotelaria junto aos serviços funerários. “Quando a família vai exclusivamente para o funeral em outra cidade, há a opção de contratar o serviço de hotelaria junto com o do funeral. Há de se considerar que muitas famílias passam anos sem se ver e vão se reencontrar somente no velório de algum parente”, destacou.
Panhozzi ressaltou também que no Rio de Janeiro ainda há pouca inovação nos serviços funerários. Isto porque, segundo ele, o ramo esteve sob monopólio da Santa Casa durante mais de dois séculos e a falta de concorrência atrasou novidades no setor. Com a concessão dos 13 cemitérios públicos da capital fluminense a dois grupos distintos, a expectativa é de que haja modernização nos serviços a partir do ano que vem.

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