Área recebeu recital de poesias, exposição de fotos, feira de livros e shows.
Organizadores estimaram público de mais de 5 mil pessoas neste domingo.
Movimento #ocupeestelita reuniu milhares de pessoas no Centro do Recife (Foto: Vitor Tavares / G1)
Um protesto contra um plano imobiliário que inclui a construção de 12
torres residenciais e comerciais no Cais José Estelita, um dos
cartões-postais da capital pernambucana, reuniu milhares de pessoas
neste domingo (1º). Manifestantes contrários ao projeto do Consórcio
Novo Recife – formado por um grupo de construtoras - ocuparam o terreno
há 11 dias. O movimento, batizado de #ocupeestelita, promoveu recital de
poesias, exposição de fotos, feira de livros e intervenções artísticas.
A cantora Karina Buhr e o projeto “Som na Rural”, do produtor cultural
Roger de Renor, foram convidados a fazer apresentações no local. Os
organizadores estimaram um público de mais de 5.000 pessoas.
Grupo promoveu recital de poesias, exposição de fotos e
feira de livros (Foto: Vitor Tavares / G1)
A advogada Liana Cirne Lins, que atua no Direitos Urbanos, um dos
grupos contrários ao projeto Novo Recife, afirmou que o movimento é
importante porque não abre as portas do José Estelita apenas para que a
sociedade conheça a área, mas também para que o poder publico veja o
interesse do recifense pelo local. “Desde o início, somos nós que
discutimos o projeto, quando cabia ao poder público convocar audiência
publica, apresentar os projetos alternativos sobre o uso desse terreno.
Nosso movimento vem crescendo bastante, porque desde que impedimos a
demolição dos armazéns que a sociedade se viu provocada de tomar uma
posição”, argumentou.feira de livros (Foto: Vitor Tavares / G1)
Depois de pedalarem na ciclofaixa aberta aos domingos na capital pernambucana, a servidora pública Rosângela Melo e o analista de sistemas Davi Farias aproveitaram para conhecer o terreno no cais, junto com o filho Guilherme. “Estamos naquela agonia sobre o que pode ser feito nessa área. Aproveitamos o dia de folga para conhecê-la, realmente é enorme, com um potencial imenso. Isso aqui, claro, que poderia ser uma área de lazer, parque, área para idosos. Só conhecendo o espaço para saber o que pode ser feito", destacou Rosângela.
A jornalista Cláudia Santos e a professora Júlia Vergeti foram ao acampamento pela primeira vez para conhecer de perto o que vinham acompanhado pela internet. "É um momento de discussão inédito sobre o que queremos para a nossa cidade. Apoiamos a construção de um centro cultural, espaço para habitação popular”, disse Júlia. "É um momento em que a sociedade está mais ativa, já que todas as instâncias não estão cumprindo o que deveriam", completou Cláudia.
Morando em São Paulo, a cantora Karina Buhr veio ao Recife para apoiar o movimento. “Esse movimento está ganhando reforço o tempo todo e a força que ele tem é justamente reunir pessoas tão diferentes, de várias áreas. Nunca tinha entrado aqui, mas dei uma volta e agora tenho a dimensão do tamanho, do que pode ser feito. Queria vir pra cá desde sempre; e agora surgiu a oportunidade de tocar na Rural, que também é projeto que eu amo”.
Outros artistas também já divulgaram apoio ao movimento. Entre os nomes que divulgaram foto segurando cartazes onde se lê a inscrição #ocupeestelita estão os cantores Ney Matogrosso, Jorge Du Peixe, Marcelo Jeneci, Silvério Pessoa, Otto, Siba, o pianista Vitor Araújo, os atores Johnny Hooker, Jesuíta Barbosa, Irandhir Santose e Clarice Falcão.
Polêmica e reintegração de posse
O projeto Novo Recife é questionado pelo Ministério Público Federal (MPF), Ministério Público de Pernambuco (MPPE) e ações populares de grupos contrários ao plano imobiliário. Os manifestantes decidiram ocupar a área no último dia 21 de maio, depois que galpões começaram a ser derrubados. O grupo de construtoras alega que possui autorização da Prefeitura do Recife para fazer a demolição. Após a intervenção, a Justiça Federal em Pernambuco suspendeu o processo até que o consórcio apresente licenças e autorizações de órgãos municipais e federais, como Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).
Cantora
Karina Buhr (de camisa nas mãos) veio ao Recife para apoiar o movimento
junto à sua banda, composta por Naná Rizinni, Hagape e André Lima
(Foto: Vitor Tavares / G1)
No último dia 29, o Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) determinou
a reintegração do terreno. A decisão ordena “a retirada dos invasores
da área do imóvel, com o apoio de força policial, se necessário”. No
entanto, a desocupação só deve ser feita após reunião programada para
esta segunda (2) entre a entre as secretarias de Defesa Social (SDS), de
Desenvolvimento Social e Direitos Humanos (SEDSDH) e representantes dos
manifestantes.Reunião na Câmara do Recife
No sábado (31), a Prefeitura do Recife divulgou nota oficial anunciando que fará uma reunião para discutir o tema, na próxima terça-feira (3), às 9h, na Câmara de Vereadores. Foram convidados para o encontro representantes do Conselho de Arquitetura e Urbanismo, do Instituto dos Arquitetos do Brasil, da Ordem dos Advogados do Brasil, do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia, da Universidade Federal de Pernambuco, da Universidade Católica de Pernambuco, do “Movimento Ocupe Estelita”, e do “Movimento Observatório do Recife”. A partir das informações que estão na nota, ninguém do Ministério Público foi chamado, apesar de haver envolvimento direto de promotores e procuradoras da República no caso.
“Estamos esperançosos sobre a sensibilidade política do prefeito [Geraldo Julio], mas cautelosos. Encaramos com estranheza a não presença no Ministério Público na terça, já que ele sempre esteve presente nessa discussão, desde o início. Mas se não acreditássemos nessa sensibilidade, não teríamos iniciado o movimento”, explicou Liana Cirne.
Servidora
pública Rosângela Melo e o analista de sistemas Davi Farias
aproveitaram para conhecer o terreno no cais, junto com o filho
Guilherme (Foto: Vitor Tavares / G1)
Antes da convocação da reunião de terça, o promotor Ricardo Coelho já
havia informado que convidaria o prefeito a participar de audiência
sobre o caso. Ao G1, ele confirmou que um ofício foi
entregue em mãos ao prefeito Geraldo Julio, na última sexta (30),
formalizando o convite para uma reunião. "Vejo que são dois atos
distintos: na nota, a Prefeitura convocou aquela conversa aberta, para
um público maior, e vamos ter também essa conversa mais restrita, com os
promotores e as procuradoras. Não marcamos a data ainda, mas com
certeza deve ser na próxima semana. Esse impasse não pode continuar",
comentou.Procurada pelo G1, a assessoria de imprensa do grupo de construtoras não informou se vai enviar representantes para a reunião de terça, na Câmara, e divulgou nota afirmando que "o Novo Recife está aberto ao diálogo, mas não pode permitir que sejam feitos ataques de natureza pessoal contra seus executivos e qualquer pessoa na cidade que declare seu apoio ao projeto. Além disso, os críticos do projeto precisam entender a existência de uma ordem jurídica e legal que deve ser respeitada. A Justiça de Pernambuco já se posicionou favorável à reintegração de posse, as autoridades entendem que o momento é de diálogo, o Novo Recife está aberto a qualquer conversa madura sobre este tema."
Confira a íntegra da nota divulgada pelo Novo Recife:
"O Projeto Novo Recife integra um novo eixo de desenvolvimento econômico e social para a cidade, que começa na bacia do Pina e vai até o centro histórico da cidade no Porto Digital. Olhando com a perspectiva de futuro, o empreendimento vai gerar novos espaços urbanos para a cidade, como a construção de um parque de 90 000 metros quadrados, o equivalente a área de 22 campos de futebol. Também serão criados empregos diretos e indiretos durante um período de mais de três anos e após a sua conclusão. Além disso, o Novo recife vai trazer permitir aos moradores e turistas que chegam á cidade ter melhor acesso a área histórica, em especial o Forte das Cinco Pontas e a Igreja da Matriz de São José, que será restaurada e reaberta à população.
As empresas que estão à frente do empreendimento sempre se mostraram receptivas a qualquer observação sobre o projeto. Argumentos sóbrios e estruturados nunca deixaram de ser considerados. Foi o que aconteceu quando a atual gestão do prefeito Geraldo Julio solicitou mudanças para beneficiar ainda mais os moradores da cidade. Dessa forma, o Novo Recife ampliou as ações mitigadoras, como a implantação do parque , ciclovia, pista de cooper, quadras poliesportivas, biblioteca pública e preservação e restauração de 28 galpões da antiga Rede Ferroviária.
Em parte deles será construído um Centro Cultural. Além disso, o Novo Recife vai possibilitar a integração do Forte das Cinco Pontas ao parque, pois será derrubado o viaduto das Cinco Pontas. Em seu lugar será construído um túnel. Todos esses custos serão bancados pela iniciativa privada, sem nenhum ônus para o poder público.
Como já foi ressaltado, o Novo Recife está aberto ao diálogo, mas não pode permitir que sejam feitos ataques de natureza pessoal contra seus executivos e qualquer pessoa na cidade que declare seu apoio ao projeto. Além disso, os críticos do projeto precisam entender a existência de uma ordem jurídica e legal que deve ser respeitada. A Justiça de Pernambuco já se posicionou favorável à reintegração de posse, aos autoridades entendem que o momento é de diálogo, os Novo Recife esta aberto a qualquer conversa madura sobre este tema."
Projeto 'Som na Rural' garantiu música do protesto cultural (Foto: Vitor Tavares / G1)
"Mamódromo" reunia mães no Estelita (Foto: Vitor Tavares / G1)
Projeto 'Som na Rural', do produtor cultural Roger de Renor, recebeu artistas (Foto: Vitor Tavares / G1)
Integrantes
do #ocupeestelita caminham por terreno no cais, um dos cartões-postais
da capital pernambucana (Foto: Vitor Tavares / G1)
Jornalista
Cláudia Santos (D) e a professora Júlia Vergeti foram ao acampamento
pela primeira vez para conhecer de perto o que vinham acompanhado pela
internet (Foto: Vitor Tavares / G1)
Terreno está ocupado desde 21 de maio (Foto: Vitor Tavares / G1)
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