Yuri Silva
A TARDEA iniciativa - mantida pelo jogador da seleção da Itália e do Milan Mário Balotelli, desde 2008 - preza pela prática do esporte e do lazer, oferecendo atividades como boxe, capoeira, futebol, futsal, judô, teatro e escotismo. Mas também oferece cursos profissionalizantes.
Moradora do bairro há mais de duas décadas e ex-aluna do projeto, Jaciane Neves, 26 anos, por exemplo, formou-se em contabilidade e já trabalha na área.
"Acredito que o projeto me ajudou a entender as questões sociais. Foi lá, aos 12 anos, que me formei cidadã", considera ela, que chegou a dar aula de reforço escolar para crianças do projeto.
A irmã de Jaciane, Jucimara Neves, 23 anos, também ingressou no projeto ainda jovem, aos 10 anos, quando Balotelli ainda nem conhecia a Bahia. Atualmente, ela cursa o quinto semestre de psicologia e trabalha em um escritório de advocacia.
"O objetivo sempre foi nos inserir no mercado de trabalho e impedir o envolvimento com o tráfico de drogas. Sem o projeto, talvez eu estivesse no crime ou grávida ainda jovem", afirma Jucimara.
Formação
Segundo o coordenador do Mata Escura Novo Rumo, o ex-cabo do Exército Márcio de Jesus, além das atividades esportivas, o projeto também tem promovido cursos profissionalizantes de eletricista e agente de portaria.
Neste último, 45 alunos já concluíram a instrução. Por conta do outro, a empresa Pandora do Brasil - Serviços Fotovoltaicos, que reaproveita energia solar para produção de eletricidade, foi criada por Márcio e pelo jogador ganês criado na Itália.
A ideia dos cursos profissionalizantes veio para resolver um dilema. Perto de chegar ao 15º ano de existência, o projeto já tem os primeiros alunos crescidos, e alguns deles desempregados.
"Os alunos do curso estão começando a trabalhar na Pandora. Estamos fazendo estudos de engenharia, para em breve oferecer os serviços ao mercado", contou o idealizador do Novo Rumo, sem revelar quando Balotelli vai visitar à comunidade, "por conta do assédio da mídia".
Entre os novos alunos estão Luciano Nascimento, 16 anos, e Daniel Almeida, 15, que tiveram o privilégio de "bater o baba" com o craque ítalo-ganês. Adeptos das aulas de futebol, que acontecem no campo do bairro ou na quadra cedida pela Associação das Comunidades Paróquias de Mata Escura e Calabetão, os garotos sonham servir ao Exército, motivados pelo escotismo.
Ao projeto os amigos atribuem tanto as habilidades que dominam quanto a distância para o tráfico.
"As trilhas nos ajudaram, porque já vamos para o Exército sabendo viver na mata, entre outras coisas", avalia Luciano. "Antes, não tínhamos lazer. O projeto impediu que nos envolvêssemos com o crime", completa Daniel.
Na turma dos mais antigos está o artista Lucas Silva, 45, que espera a próxima visita de Balotelli a Mata Escura para entregar-lhe um presente que demorou seis meses para confeccionar: uma bandeira do Brasil feita com miçangas.
A ideia era levar a obra à abertura da Copa do Mundo, em São Paulo, mas o artista, deficiente, não pôde viajar para o evento.
Violência
Apesar da importância, o Novo Rumo tem enfrentado problemas, por conta da divisão provocada pelo tráfico de drogas no bairro. As atividades têm acontecido esporadicamente e muitos alunos não podem frequentá-las, por causa do local onde moram.
"Quem mora na área de Nova Mata Escura não pode circular pelo Posto 13, e vice-versa. Talvez, atualmente, eu seja a única pessoa que tem fluxo livre pelo bairro", conta o coordenador Márcio de Jesus.
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