Primeiro de
maio dos pelegos da CUT foi um fiasco; o secretário da presidência tem
sido vaiado por onde quer que passe; e, para culminar Dilma continua
despencando nas pesquisas. Texto de Merval Pereira no jornal O Globo:
O que
ocorreu na comemoração organizada pela CUT no Dia do Trabalho em São
Paulo é um sinal dos tempos. Não apenas o braço sindical do PT atraiu
menos gente do que a outra comemoração, organizada pela Força Sindical, a
central adversária, como os representantes petistas simplesmente foram
impedidos de discursar em seu próprio território político.
Mas a
rejeição aos petistas não foi fato isolado nos últimos dias. O ministro
da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, responsável pelo
relacionamento com a sociedade civil, tem sofrido na pele essa rejeição
nos encontros que vem mantendo para tentar desmobilizar as manifestações
previstas contra a realização da Copa do Mundo.
Em todo
lugar a que vai, invariavelmente surge uma faixa com os dizeres Não vai
ter Copa para ser pendurada como pano de fundo dos debates. Na sede do
Sindicato dos Bancários do Rio, etapa carioca dos Diálogos Governo -
Sociedade Civil Copa 2014 , dias atrás, mais uma vez Carvalho sofreu
para poder levar aos participantes a palavra do governo.
Foi
vaiado, xingado, tentou convencer os jovens revolucionários da plateia
de que seu passado também revolucionário faz dele um aliado, e não um
adversário, mas não houve jeito. Uma militante fez um gesto com as mãos
significando dinheiro que atingiu Carvalho mais do que os berros e
apupos. Voz embargada, disse para a militante que tinha patrimônio de R$
400 mil, e que já havia morado em favelas para ajudar o próximo. Não
houve jeito.
Tudo
parece dar seguimento às manifestações de junho passado, quando estourou
nas ruas, surpreendentemente, um protesto espontâneo contra todos os
políticos e governantes, fossem de que origem fossem. Como descrevi na
época, os movimentos sociais que se consideravam controladores das
manifestações populares, como sindicatos e partidos, surpreenderam-se
com o caráter espontâneo daqueles protestos e tentaram retomar o
controle das ruas.
Foram
tentativas malsucedidas, na medida em que rechaçadas por quem não se
considerava representado por eles, e suas passeatas ficaram muito aquém
das manifestações espontâneas. Mas a violência dos grupos paramilitares
infiltrados e dos black blocs acabou dominando as ruas, expulsando delas
a classe média que havia explicitado o descontentamento com os serviços
públicos mal prestados, o desperdício do dinheiro público em obras
suntuosas e desnecessárias como os estádios padrão Fifa , o combate à
corrupção e o descaso governamental com Saúde e Educação, prioridades da
cidadania que os manifestantes espontâneos levaram para as ruas sem
precisarem de partidos ou organizações para guiá-los.
Esses
cidadãos, em boa parte, continuam descontentes, sentindo-se
sub-representados, pois nada de concreto foi feito para rever
prioridades do governo, a não ser medidas paliativas como vinda de
cubanos para solucionar carência de médicos no interior do país, ou
aprovação de leis no Congresso que ainda precisam ser confirmadas em
novas votações longe da pressão popular.
A
situação está tão radicalizada que até mesmo o ex-presidente Lula
recentemente se viu obrigado a criticar as manifestações contra a Copa, e
o fez com o travo de um velho líder sindical que já não consegue
controlar os atos contra uma realização de seu governo, montada para ser
o coroamento da campanha de reeleição de Dilma e que se transformou num
obstáculo.
Como
sempre, fez uma releitura da situação completamente fora da realidade:
Vocês imaginam, nesta altura do campeonato, com 68 anos, dos quais 38
fazendo protesto, eu vou ter medo de protesto? A Dilma, com 20 anos a
bichinha estava presa, foi torturada, tomou choque para tudo quanto é
lado por protestar. Agora ela vai ter medo de protesto? Quem quiser
protestar, que proteste , disse o ex-presidente, dando por perdido o
controle da situação.
Dessa vez
ele tem que ficar do lado da Fifa, e contra os que criticam a falta do
padrão Fifa nos serviços públicos. Se a perspectiva para a seleção
brasileira na Copa continua sendo boa, apesar da ascensão do futebol da
Espanha nos mais recentes torneios internacionais, o mesmo não se pode
dizer da organização dos jogos.
Os
atrasos nos estádios e as reformas a meia boca nos aeroportos confirmam
nossa incapacidade de organização, mesmo o governo tendo tido nada menos
que sete anos entre o anúncio da escolha e a realização do evento.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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