MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Era do descarte afeta comércio eletrônico do Centro


Hieros Vasconcelos Rego

  • Ivan Baldeviso | Agência A TARDE
    Lojas que consertam eletrônicos amargam prejuízo com facilidade de compra de equipamentos novos
A publicitária Luiza Maria dos Santos, 30 anos, se diz apaixonada por música e aparelhos eletrônicos. Tem iPhone 4S, televisão full HD e som de última geração. Quando algum dos seus aparelhos quebra, ela confessa que joga fora ou deixa guardado em uma gaveta qualquer do armário. "É mais barato comprar um novo do que consertar, não é?", explica.
Esta atitude de Luiza, fruto do barateamento de aparelhos eletroeletrônicos, é vista como algo comum atualmente. Para muitos, trata-se da "era do descartável", fruto do crescimento industrial e da produção desenfreada de aparelhos em países como a China, por exemplo, maior exportador de eletrônicos do mundo. "Os preços de consertos não são em conta. Muitas vezes, se você colocar 20% a mais que o valor do conserto, você compra outro aparelho novo. O serviço requer mão de obra e reposição de alguma peça", explica o economista César Castro.
A gama de facilidades na hora de efetuar uma compra também tem colaborado com o descarte inadequado de aparelhos eletrônicos.  Lojas que outrora reinavam nas grandes cidades por oferecer peças de aparelhos e conserto de eletrônicos hoje ficam às moscas. Como exemplo em Salvador, os estabelecimentos da Rua Saldanha da Gama, no Centro Histórico, próximo à Praça da Sé.
Quadro reduzido - Há 47 anos no local, o comerciante Atsushi Yogo, 71, passa horas do dia sentado com a mulher Lucineide Yogo à espera de clientes. Dentro de sua loja, localizada entre a Saldanha da Gama e a Rua Guedes Brito, a aparência mostra que há tempos a clientela deixou de aparecer. São aparelhos de TV, vitrolas e rádios amontoados. "Há uns 20 anos, recebia 40 clientes por dia, tinha 21 técnicos e seis balconistas. Agora só tenho dois técnicos e eu e minha mulher trabalhamos no balcão", conta.
Antes de os aparelhos se tornarem praticamente descartáveis, a rua vivia com as lojas cheias e movimentadas. Era o tempo onde rádio era moderno e televisão ainda uma novidade. "Todo mundo queria consertar seu rádio", lembra o vendedor Carlos Augusto Celles, 66.
Atsushi Yogo afirma que, apesar da queda no movimento, há uma pequena clientela fixa. "São colecionadores de vinis, que consertam vitrolas, e as pessoas que querem ter ainda aparelhos originais, como TVs antigas, logo quando surgiram, gramofones. Mas não está dando para sustentar. Vou fechar", anuncia Yogo.
Na Rua Saldanha da Gama funcionaram grandes lojas, como a Betel e a Eletrônica Salvador. Outras lojas apostaram em aparelhos de som e instrumentos musicais com a chegada da axé music, na década de 1980.
Para o sociólogo George Almeida, a sociedade atual dá menos valor não apenas aos objetos, mas às relações interpessoais. "Não são apenas os objetos que se tornaram descartáveis. A vida está aos poucos tornando-se descartável para muita gente. E não me refiro a drogas, mas aos relacionamentos pessoais e interpessoais", diz.
Segundo ele, esta característica de desvalorização está atrelada à facilidade de se obter bens, de conhecer pessoas e ter acesso "a quase tudo através de cliques na internet".  Ele diz que "tudo isto é importante, mas, quando não se tem equilíbrio, o resultado pode ser o de desapego ao conhecimento".

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