De volta à direção, família fundadora prevê faturar 160% mais que em 2010.
Receita tradicional de pão de queijo foi resgatada para recuperar mercado.
Apesar de cifras que chamam a atenção, a marca readquirida pela família Mendonça em 2009 tem enfrentado dois grandes desafios: reposicionar-se no mercado e reconquistar o paladar de clientes exigentes.
(Prejudicada pela crise na Europa, pelo câmbio e pela concorrência chinesa, a indústria brasileira, sobretudo a de transformação, perde dinamismo e peso na economia. O G1 publica nesta semana série sobre as estratégias de empresas que se renovaram e se mantêm competitivas.)
Para o diretor-presidente da Forno de Minas, Helder Mendonça, a principal estratégia para reerguer a empresa é seguir a mesma filosofia que impulsionou sua criação em 1990, quando a mãe dele, Dona Dalva, resolveu industrializar a receita do pão de queijo caseiro . “Desde o início, o conceito era tentar reproduzir em escala industrial o produto de qualidade que a gente tinha dentro de casa. Era um tripé de um pé só. Hoje, eu dou razão para minha mãe. Essa filosofia dela da qualidade é correta para determinados produtos, aqueles que você consome para gerar prazer”, afirma.
A multinacional General Mills, que adquiriu a marca no auge da produtividade há 13 anos, mudou a receita do sucesso – e do pão de queijo – de Dona Dalva. Para alterar a fórmula, a filosofia da qualidade foi deixada de lado, prevalecendo a matemática do menor custo. A conta era simples: se 70% do preço do pão de queijo correspondia à matéria prima que dá nome à iguaria, praticamente retirá-la da receita era igual a menos gastos. Com esta lógica, a empresa também registrou números que surpreendem, mas negativamente.
Em dez anos nas mãos da companhia norte-americana, o principal produto da empresa passou a conter somente 2% de queijo e, então, as vendas despencaram 70%, e a produção da fábrica minguou de 1,6 mil toneladas mensais para apenas 200 toneladas. Diante destes resultados, a decisão foi fechar as portas.
General Mills alterou a receita do pão de queijo e
levou a Forno de Minas ao fechamento
(Foto: Divulgação/Forno de Minas)
Reaquisiçãolevou a Forno de Minas ao fechamento
(Foto: Divulgação/Forno de Minas)
“Recebemos um telefonema da General Mills, informando que a operação da Forno de Minas ia ser fechada. Naquele momento, em 2009, estávamos no meio da crise, aquele cenário cinzento, e todo mundo estava um pouco inseguro com o que ia acontecer. Mas a gente tinha uma intuição. A gente sabia que, se a Forno Minas tivesse alguma chance de voltar, seria com a gente”, lembra o diretor-presidente.
Os valores de compra e de venda nunca foram divulgados. Hélder Mendonça, entretanto, revela que o negócio foi lucrativo. Durante a década em que esteve distante da Forno de Minas, a família continuou detentora de um laticínio – hoje também parte da marca –, fornecendo produtos, inclusive, para a General Mills. Os Mendonça também passaram a investir no setor imobiliário, principalmente na construção de shoppings em diversos locais do país.
Muitos gastos, poucas vendas
De volta à direção de Helder Mendonça, à receita de Dona Dalva e aos investimentos de Vicente Camiloti a Forno de Minas precisava sair do vermelho. Para poder retomar o crescimento, entretanto, a marca deveria, primeiramente, reposicionar-se. “A relação da Forno de Minas com os varejistas e com os supermercados ficou muito desgastada. Quando a gente estava fazendo uma pesquisa do terreno que íamos encontrar em uma possível recompra, os supermercadistas falaram que, se a gente retomasse o trabalho, com a nossa filosofia de qualidade, eles iriam nos dar apoio e nos ajudar a recuperar a marca e a reposicionar o produto, porque, apesar de tudo que a marca sofreu nesses anos todos com a General Mills, ela ainda é muito forte e tem um reconhecimento muito grande”, explica.
RAIO-X DA FORNO DE MINAS | |
---|---|
520 funcionários em fábrica situada em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. | |
Faturamento de R$ 110 milhões em 2011 | |
Diferenciais de mercado: venda de fatia da empresa para fundo de investimento; ampliação da capacidade produtiva e da linha de produtos; maior atuação no exterior via grandes varejistas |
Depois de fazer as pazes com o setor supermercadista e, pouco a pouco, voltar a cair no gosto do consumidor, a Forno de Minas preparou-se para crescer novamente. A via escolhida foi vender cerca de um terço da participação da empresa para um fundo de investimento do Rio de Janeiro. “Além do que foi gasto para a aquisição que a gente fez, do capital de giro que a gente precisava para tocar o negócio nesse início difícil que tivemos, a gente não queria comprometer o ritmo de investimentos. Então, nós vendemos 29% da participação para a Mercatto, em 2010”, conta.
Os resultados vieram em 2011: o faturamento pulou de R$ 60 milhões, em 2010, para R$ 110 no ano seguinte, uma alta de mais de 80%. Além disso, cerca de 200 funcionários foram contratados, chegando ao total de cerca de 500 empregados. Segundo Mendonça, até o fim de 2012, um ciclo estratégico, que conta com R$ 40 milhões em investimentos, será finalizado.
Cenário animador
E para continuar a expandir os números, a Forno de Minas tem a seu favor um cenário animador, apesar de índices que apontam retração de boa parte da produção industrial brasileira. De acordo com o gerente do Departamento de Economia e Estatística da Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação, Amílcar Almeida, o ramo alimentício vive um bom momento. “O setor de alimentos está relativamente a salvo de oscilações conjunturais porque as pessoas continuam se alimentando, consumido alimentos e bebidas, e o setor continua crescendo e investindo”, comenta.
Entre 2009 e 2012, a fábrica da Forno de Minas, situada em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, foi ampliada em 3.000 m². A expansão física é um reflexo da ampliação da linha de produtos. O tradicional pão de queijo, que representou 80% das vendas da empresa em 2011, cada vez mais divide espaço com outras iguarias. De acordo com o diretor-presidente da empresa, a previsão é que estes outros produtos representem 35% das vendas em 2012, total 15% maior em comparação ao último ano.
Helder Mendonça explica que a diversificação na linha de produtos teve como um dos objetivos atender o mercado de alimentação fora do lar. “Para atender o food-service, que sempre teve uma parcela importante no nosso negócio, nós tomamos a decisão de investir em outros produtos. A nossa ideia era ter um mix completo de produtos, para podermos levar para o cliente uma solução completa”, justifica.
Desde o fim de 2011, além do pão de queijo, a Forno de Minas passou a oferecer também produtos como folhados, empanadas, empadas, pães de batata e tortinhas. Mendonça ressalta que para conseguir manter a produção e atender esta nova demanda, a empresa conta hoje com 520 funcionários, número que deve chegar a 600 até dezembro.
Forno de Minas conta atualmente com 520
funcionários (Foto: Divulgação/Forno de Minas)
Expandindo receitasfuncionários (Foto: Divulgação/Forno de Minas)
De acordo com Mendonça, a Forno de Minas possui sete filiais de venda: em Brasília, em Curitiba, em Porto Alegre, no Rio de Janeiro, em Recife, em Salvador e em São Paulo. Há cerca de um mês, a marca lançou uma nova aposta para atender paladares diversificados. Depois de levar o sabor mineiro, congelado e em saquinhos, para outros cantos do Brasil, a empresa expandiu fronteiras e trouxe o waffle para a sua linha de produtos. Foram adiquiridos equipamentos importados da Áustria, que podem produzir até 20 mil unidades por hora.
“Investimos cerca de R$ 6 milhões no maquinário e nas instalações”, destaca Hélder Mendonça. O novo produto gerou ainda a contratação de 30 funcionários. A expectativa é que, até o fim do ano, o waffle responda a 10% do faturamento total da empresa. Apesar de ter sido criado para atender o varejo, o produto também tem agradado o food-service.
Pão de queijo 'made in Brasil'
A Forno de Minas também tem apostado na retomada das importações para alcançar a meta de faturamento de R$ 160 milhões em 2012. A estratégia de crescimento no mercado exterior, entretanto, diferencia-se da adotada no mercado nacional.
Até 2014 a gente vai conseguir dobrar o volume exportado, passando de 1 mil para 2 mil toneladas, e também aumentar muito a presença em outros países"
"Nós temos uma aposta que o pão de queijo tem um potencial para se tornar um produto mundial por vários aspectos. Primeiro, porque é um produto muito inovador. Ele não tem farinha de trigo e, naturalmente, não tem glúten. E essa questão do ‘gluten free’ está muito em pautal”, diz o empresário. Por essas características da iguaria, a Forno de Minas passou a atender a rede norte-americana Whole Foods, especializada em mercadorias naturais e orgânicas. Com incremento nas vendas, cerca de 400 toneladas devem ser enviadas somente para os Estados Unidos em 2012.
“Eu tenho a expectativa de que até 2014 a gente vai conseguir dobrar este volume exportado, passando de 1 mil para 2 mil toneladas, e também aumentar muito a presença em outros países. Para isso, a gente vai continuar com a estratégia de participar de feiras internacionais e vamos manter uma pessoa exclusivamente para fazer contato com profissionais das principais redes de países que a gente acha que pode ter perfil. Em dois anos, pretendemos exportar US$ 7 milhões, o que ainda é muito pouco, mas é um início promissor. Sete pode virar 70”, avalia Mendonça.
Nenhum comentário:
Postar um comentário