Festa foi considerada patrimônio imaterial da Bahia em dezembro de 2008.
Celebração é feita há mais de 300 anos no estado.
Homenagem a Santa Bárbara em Salvador (Foto: Brenda Coelho/ G1BA)
Dona Aida exibe a imagem da santa que mantém na sala de casa. Todos os anos a aposentada faz o tradicional caruru para homenagear a padroeira dos bombeiros (Foto: Eric Luis Carvalho/Arquivo Pessoal)Histórias como a de Bárbara e Dona Aida reforçam a importância da festa de Santa Bárbara na Bahia, especialmente em Salvador. Para o professor e pesquisador Jaime Sodré, a festa da santa católica, padroeira dos bombeiros, possui elementos do catolicismo que são aproveitados e transformados em manifestações da religião de matriz afro-brasileira. “Essa festa é uma marca católica, que é o culto à Santa Bárbara, parte do estoque de santas femininas da igreja. É importante dizer que esse rito foi complementado e ganhou a proporção que tem hoje por causa dos fiéis do candomblé. O próprio rito católico passou a incrementar elementos do candomblé”, relata Sodré. A culinária típica adotada na celebração para Santa Bárbara carrega uma forte influência da religião de matriz africana e, entre outras semelhanças, os devotos de Iansã e Santa Bárbara se vestem de vermelho para cultuar uma das figuras religiosas mais populares da Bahia.
Sincretismo
Apesar das semelhanças, segundo Jaime Sodré, não há possibilidade de associar a história pessoal de Santa Bárbara, que foi morta pelo pai por ser cristã, com a lenda da divindade Iansã. “Na verdade, as semelhanças são que ambas são mulheres, ambas portam uma espada, que é um dado de guerreira, e a vestimenta das duas tem a cor vermelha. As pessoas do candomblé sabem a dimensão das diferenças. O que se faz semelhante são alguns detalhes. Uma decorre do catolicismo, na Europa, e a outra na África, na religião de matriz africana, em épocas completamente distintas”, relata o especialista em história da cultura negra. Para ele, o sincretismo na verdade é uma ‘superposição’ religiosa. “A poligamia de Iansã (que, segundo a lenda, se relaciona com os orixás Xangô e Ogum) nada se assemelha à castidade de Santa Bárbara, e isso é tratado com naturalidade pelos fiéis do candomblé”, complementa o pesquisador.
Patrimônio Imaterial
A festa de Santa Bárbara foi considerada patrimônio imaterial da Bahia no dia 3 de dezembro de 2008 pelo governo do estado. O decreto que registrou a cerimônia reafirma a importância da diversidade cultural e religiosa que a festa reúne. “Santa Bárbara passa a ser uma santa cultuada dentro da religião católica, que ganhou uma versão baiana quando ela foi similarizada a Iansã. Todo rito dela passa a ter parâmetros com a religião de matriz africana”, diz o pesquisador. “Duas características principais da festa de Santa Bárbara são essencialmente do candomblé, que é a prática do transe [quando ‘filhos de santo’ manifestam Iansã na procissão] e da culinária, com o tradicional caruru”, complementa. A intensa participação do povo no dia 4 de dezembro caracteriza oficialmente a festa de Santa Bárbara como a celebração que marca o início do ciclo das festas populares da Bahia.
A festa
Realizada há mais de 300 anos, a festa de Santa Bárbara começa com uma queima de fogos, por volta das 5h, como a maior parte das comemorações religiosas. A concentração na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos marca a primeira missa celebrada às 8h e, por conta do número de fiéis, uma missa campal é realizada no Largo do Pelourinho, seguida de uma procissão com destino ao quartel do Corpo de Bombeiros, localizado no bairro da Barroquinha. Segundo a tradição, a última parada da procissão é o Mercado de Santa Bárbara, onde é distribuído um caruru para a população. Para Sodré, a festa, acima de tudo, demonstra o poder da mulher na Bahia. “É uma festa que demonstra o poderio feminino. São as mulheres consideradas retadas, ousadas, que não dependem dos homens para se manter”, conclui o pesquisador.
Serviço:
5h – Centro Histórico: Alvorada de Fogos
8h – Largo do Pelourinho: Missa e Procissão
14h – Atrações Itinerantes: Swing do Pelô, Meninos do Pelô, Tambores e Cores, Filhos de Gandhy, Bandão Jurema e Bandão Status.
14h – Largo do Pelourinho: Jorginho Comancheiro, Afoxé Kori Nagô, Banda Didá, Ara Ketu e Ilê Aiyê
15h – Terreiro de Jesus: Catadinho do Samba, Afro Detona e Viola de Doze
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