BLOG ORLANDO TAMBOSI
Concordo com quase tudo que Ramaswamy vem dizendo sobre a agenda ESG, a nova trincheira do globalismo. Luciano Trigo para a Gazeta do Povo:
“A
‘censura do ponto de vista’ se estende além da internet e permeia nossa
economia. Mas, da mesma forma que não se pode demitir alguém por ser
negro, gay ou muçulmano, tampouco deveria ser permitido demitir alguém
em função do seu discurso político. Trabalharei com o Congresso para
consagrar a expressão política como um direito civil americano e
aplicarei as leis de direitos civis existentes para proteger os
trabalhadores da odiosa discriminação de ponto de vista. Aliás, a norma
federal de discriminação religiosa proíbe os empregadores de forçar os
funcionários a se curvar a qualquer religião, incluindo as religiões
seculares, conforme já foi definido pela Suprema Corte”.
O
texto acima faz parte do programa de governo do empresário e ativista
Vivek Ramaswamy, que nesta semana se lançou oficialmente pré-candidato à
presidência dos Estados Unidos pelo Partido Republicano. Já escrevi
sobre ele meu último artigo, “O lado sombrio da agenda ESG”.
Na
terça-feira passada, Ramaswamy publicou no Wall Street Journal um longo
artigo intitulado “Por que estou concorrendo a presidente – A América
perdeu de vista os ideais que a tornaram grande: liberdade e mérito
acima de tudo”. Concordo com o subtítulo.
Não
acredito que Ramaswamy tenha chances reais de superar Donald Trump e o
governador da Flórida, Ron DeSantis, na corrida pela vaga republicana em
2024.
Mas
sua candidatura servirá, seguramente, como uma catapulta para
projetá-lo como uma liderança nacional nos próximos meses. Com apenas 37
anos, ele ainda tem um longo futuro político pela frente, podendo até
se tornar um candidato com chances reais de vitória em 2028 ou 2032.
Concordo
com quase tudo que Ramaswamy vem dizendo sobre a agenda ESG, a nova
trincheira do globalismo, principalmente sobre sua denúncia bem
fundamentada dos interesses econômicos ocultos dessa agenda, disfarçados
de bom-mocismo lacrador e preocupação virtuosa com o meio-ambiente.
Mas
não posso dizer o mesmo em relação à sua proposta de governo para
combater a “censura do ponto-de-vista”. À primeira vista, o que
Ramaswamy está defendendo é legítimo.
Obviamente,
ninguém deveria poder ser prejudicado profissionalmente por sua opinião
política, ou por declarar voto em tal ou qual candidato ou partido – da
mesma maneira que ninguém pode ser prejudicado profissionalmente por
questões étnicas ou religiosas.
O
problema é que, quando o Estado proíbe um empresário de demitir todo e
qualquer funcionário por uma dessas razões, abre-se uma avenida para uma
situação igualmente absurda: por mais incompetente, relapso e
preguiçoso que seja, todo funcionário que professe determinada crença,
que pertença a determinada etnia ou que seja um militante político pode
passar a usar isso como pretexto para se tornar indemissível.
Medidas
assim, evidentemente, não têm como dar certo a longo prazo. Empresas
que não podem demitir funcionários incompetentes – seja qual for a sua
raça, religião ou inclinação política – se tornam fatalmente menos
competitivas e estão condenadas a fechar as portas, por ineficiência. É
assim que uma economia funciona no capitalismo
Outro
efeito colateral previsível dessa proposta de criação de estabilidade
em empresas privadas é que os empresários simplesmente deixarão de
contratar aquelas pessoas que se tornarão potencialmente indemissíveis.
A
consequência não prevista de uma proposta aparentemente boa é que, em
vez de proteger determinados grupos, ela acabará por prejudicá-los.
Estamos assistindo a este filme já há algum tempo no Brasil, em
diferentes áreas, e a tendência é piorar.
Em
tese, na hora de escolher qual candidato a uma vaga irá contratar, um
empresário inteligente opta pelo mais qualificado e capaz, sem
considerar a etnia, o sexo, a orientação sexual, a identidade de gênero e
a ideologia política.
Escrevi
“em tese” porque existem, é claro, empresários burros e
preconceituosos, mas estes, invariavelmente, acabam sendo punidos pelo
próprio mercado – e fecham as portas.
Se
o Estado interfere nessa dinâmica, determinando quais funcionários o
empresário poderá ou não contratar ou demitir, por meio de cotas e
outros mecanismos de compensação, um efeito potencial disso é que os
empresários inteligentes passarão a se comportar como se burros fossem –
porque, para evitar problemas futuros e garantir a viabilidade do seu
negócio, eles podem passar a preterir aqueles candidatos que eles
normalmente contratariam, mas que a norma tornou indemissíveis.
Curiosamente,
a proposta contraria a própria agenda que vem sendo defendida por
Ramaswamy, que enfatiza a liberdade econômica e a meritocracia,
historicamente dois pilares da sociedade americana.
E
este é apenas um exemplo banal do que pode acontecer quando o Estado
intervém na vida dos indivíduos e nas empresas, restringindo a sua
liberdade.
Por
melhores que sejam as intenções – mas é claro que as intenções nem
sempre são boas –, cada medida intervencionista traz em seu bojo efeitos
colaterais e consequências imprevistas que, no final do dia, acabam
piorando a vida das pessoas. Simples assim.
Postado há 2 days ago por Orlando Tambosi
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