MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

Adeus, meu livro!, de Kenzaburo Oe, Prêmio Nobel de Literatura 1994, é o primeiro livro da Estação Liberdade em 2023

 

Adeus, meu livro!, de Kenzaburo Oe, Prêmio Nobel de Literatura 1994, é o primeiro livro da Estação Liberdade em 2023

O romance integra uma trilogia do autor, da qual também faz parte

A substituição ou As regras do Tagame, publicado pela casa no ano passado

Kogito Choko, alter ego do próprio Kenzaburo Oe e protagonista de A substituição ou As regras do Tagame, está de volta. Agora mais velho e convalescente depois de ter sido ferido, recebe no hospital a visita de Shigeru Tsubaki, um amigo de infância com quem vai morar, após a alta, numa propriedade de veraneio próxima a Tóquio.

A partir do reencontro e de muito diálogo entre os dois personagens, Oe, que é mestre na arte de permear a literatura com experiências de sua vida pessoal, oferece aos leitores uma vasta gama de assuntos que, sendo caras ao autor, tal como são postas, são também de interesse da humanidade. Fala-se de literatura, arquitetura, cinema, música; fala-se de política, de guerras; de suicídio, envelhecimento; fala-se das relações familiares, do Japão e do mundo.

A dinâmica de duplos não se limita a Kogito e Shigeru. Há espelhamento nas relações de outros personagens. Espelhamento também entre vivos e mortos. Ocidente e Oriente. E, no fundo, talvez o mais significativo: entre externo e interno. Kogito, adepto de longa data do pacifismo, encontra-se num dilema: participar ou não de um ato violento para garantir dos danos o menor, ao invés de tentar evitá-lo de todo. A decisão terá que ser tomada ou por sua parte exterior, social e pacifista, através da qual ele é reconhecido, ou pela interior e recôndita, que guarda segredos dos mais inesperados.

O título Adeus, meu livro! é tomado do parágrafo que encerra O dom, de Vladimir Nabokov. T. S. Eliot também está presente, citado e debatido. Também é trazido à baila Yukio Mishima, contemporâneo a Oe mas que se suicidou aos 45 anos em ato apoteótico. Kenzaburo Oe perscruta algumas de suas ideias políticas que visavam romper com a ordem e instigar os militares a um golpe de Estado…

O AUTOR

Kenzaburo Oe nasceu em 1935, em Ose, vilarejo das florestas de Shikoku, a menor das quatro principais ilhas do Japão. Oe tinha seis anos quando estourou a Segunda Guerra Mundial, durante a qual seu pai morreria. Uma de suas avós era contadora de histórias e carregava assim os mitos e as tradições do clã Oe, impactando o jovem Kenzaburo.

Com a derrota do Japão na guerra, ocorreram enormes mudanças no país, inclusive onde cresceu Oe. Os alunos nas escolas passaram a receber uma educação diferente, aprendendo princípios ocidentalizados, ao que Oe manifestaria reservas.

Aos dezoito anos, pegou pela primeira vez o trem até a capital do país e, um ano depois, estudava literatura francesa na Universidade de Tóquio. Através da influência do realismo grotesco de Rabelais, passou a reinterpretar a história de seu povoado e a sua própria.

Começou a escrever em 1957. Compôs um poderoso ensaio sobre o bombardeio atômico de Hiroshima e o terrível legado da catástrofe, além de uma extensa lista de ficção que se utiliza bastante do Japão pós-guerra para retratar uma geração marcada por tanta tragédia. Assume então uma posição pacifista e antimilitarista que marcaria fortemente sua atuação cívica.

A vida e a carreira literária de Oe entraram em crise com o nascimento de seu primeiro filho, Hikari, portador de uma deformidade craniana que lhe resultou em comprometimento cognitivo. Apesar disso e mesmo por causa disso, Oe adquiriu novo fôlego e nova perspectiva sobre a vida e a escrita, em que Hikari tomaria uma posição central.

No Brasil, já foram publicadas as obras Uma questão pessoal (2003), Jovens de um tempo novo, despertai (2006), 14 contos de Kenzaburo Oe (2011) e Morte na água (2021), todas pela Companhia das Letras, e A substituição ou As regras do Tagame (2022), pela Estação Liberdade. Recebeu os mais importantes prêmios literários do Japão, incluindo o Akutagawa, o Tanizaki e o Yomiuri; em 1994 foi premiado com o Nobel de Literatura.

Atualmente vive com a mulher e o filho Hikari em Setagaya, bairro de artistas e intelectuais nos arredores de Tóquio.

TRECHOS

— Assim, Goro criticava a maneira como você, Kogi, lia poesia. Era também uma crítica premonitória sobre sua vida. Não era o que Goro dizia? Por não ter ido à guerra e não ter participado das lutas revolucionárias, ele afirmava que você desistira de si mesmo quando era estudante colegial. Não seria um problema se daquele momento em diante você se deixasse levar pela vergonha de uma vida questionável. No entanto, você ficou fascinado apenas pelas ideias filosóficas maravilhosamente expressas, como acontece agora em relação à sua afeição por Eliot. Com o sentimento de viver das lembranças do passado. [p. 90]

— Mishima levava a sério a ideia de um golpe de Estado das Forças de Autodefesa? Ou seja, ele o idealizou como um programa com possibilidades positivas de se concretizar? O que Mishima pretendia ao iniciar o movimento da Tate no kai, a Sociedade do Escudo? Tendo-a como base, ele incitou, em última análise, as Forças de Autodefesa a darem o golpe de Estado. No entanto, como a ideia não foi aceita, ele acabou se suicidando por esventramento. Se ele tinha de cor uma última sentença imaginando essa possibilidade, pode-se imaginar o quanto seria mórbido. [p. 105]

A narração detalhada das etapas preparatórias de sua derradeira grande empreitada constitui a terceira parte a ser redigida pelo escritor. Na etapa atual, eu ainda nada poderia afirmar sobre a dimensão da grande empreitada. Bem, a fronteira entre o romance e a realidade é tênue, mas admita que reside nela justamente a sua técnica, Kogi. Isso porque, caso nos lancemos de fato à luta, todo tipo de erro tolo pode acontecer. Algo com a escala de uma provável destruição do centro de Tóquio talvez acabe apenas como fogos de artifício soltos por crianças em um bairro residencial. [p. 139]

— Não comentarei o que ou como faremos, Kogi, apenas espere pela surpresa e pela excitação quando o momento enfim chegar. Temos ainda bastante tempo pela frente! Restringindo-nos ao momento atual, gostaria que você guardasse no peito a estrofe de Eliot: Que não me falem da sabedoria dos velhos, mas antes de seu delírio. [p. 147]

No torso do jovem, nu e liso como uma prancha, viam-se tatuagens tênues e simétricas. O que causava forte impressão eram os olhos muito negros que devolviam para a câmera um olhar repleto de melancolia e desconfiança e os lábios repletos de uma ingenuidade provocante. A foto ao lado era a de um japonês quase chegando aos quarenta anos, vestindo uma camiseta com um logo dos que se costuma encontrar à venda nos centros acadêmicos das universidades. A força encantadora de seus olhos e lábios era semelhante à do outro retrato. [p. 273]

Contatos da assessoria

Angel Bojadsen – Diretor editorial / Douglas Bianchi – Gerente comercial /

Luis Campagnoli – Imprensa / Andreia Felisbino – Marketing

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