Num momento ruim, em que Harry e Meghan vão causar mais escândalos, o caso da dama de companhia de Elizabeth II prejudica toda a família. Vilma Gryzinski:
Pelo
relato de Ngozi Fulani, confirmado por testemunhas, Susan Hussey fez o
oposto do que passou os últimos sessenta anos fazendo: perguntas
insistentes sobre de onde ela “realmente” era.
O
teor das perguntas dá a entender que Susan Hussey, de 83 anos, achava
que Ngozi Fulani, por ser negra e se vestir de maneira diferente, não
poderia ser britânica.
“De que lugar da África você é?”, insistiu.
Ngozi
era uma das convidadas para a primeira recepção dada pela nova rainha
consorte, Camilla, focada no combate à violência doméstica. Ela usava um
vestido tipo túnica com estampa de onça, bijuterias africanas e longos
dreadlocks. Nada que cause sequer um segundo lugar em Hackney, o bairro
de Londres onde tem um serviço para mulheres negras vítimas de violência
doméstica
Mas também nada que espantasse Susan Hussey, que durante sessenta anos acompanhou com a rainha Elizabeth II,
de quem se tornou amiga íntima, em viagens e compromissos por lugares
exóticos, aos olhos de uma inglesa, filha de conde, casada com Marmaduke
Hussey, contemplado com o título de barão.
O
casal é retratado na última temporada da série The Crown: ela pedindo
ao marido, presidente do conselho da BBC, que a emissora fizesse alguma
coisa positiva para animar a rainha, desconsolada com os problemas
conjugais dos filhos. Na realidade, a BBC estava produzindo em segredo a
escandalosa entrevista com a princesa Diana, obtida com base em
documentos inteiramente falsificados pelo jornalista Martin Bashir.
Susan
Hussey se tornou íntima da rainha e da família real como dama de
companhia, uma tradição que remonta à idade média de cercar a monarca –
seja reinante ou consorte – por mulheres da aristocracia. Com a morte
de Elizabeth, ela perdeu o posto, voluntário e não remunerado.
Para
não parecer que estava simplesmente dispensando os serviços de uma
mulher de 83 anos (e um pouco surda, alegou um colunista, para tentar
justificar as perguntas repetidamente ofensivas), o novo rei, Charles,
que a estimava a ponto de incluí-la na lista de madrinhas do herdeiro,
William, colocou-a, com outras veteranas do ramo, como voluntária para
colaborar em recepções no palácio de Buckingham.
Na
primeira dessas recepções, aconteceu o desastre. Ngozi Fulani, cuja
família é de origem caribenha e mudou o nome original, Marlene Headley,
postou no dia seguinte o relato devastador. O palácio foi rápido em
reagir, anunciando que a octogenária havia pedido demissão pelo
comportamento “inadmissível”.
Susan
Hussey, que se tornou um clone da rainha, eternamente de chapéu, colar
de pérolas, broche no ombro esquerdo, luvas e bolsa preta, circulando
entre convidados das recepções reais com conversas amáveis, para
deixá-los mais à vontade, realmente cometeu um ato deliberado de
racismo? Estaria já afetada pela idade? A interlocutora exagerou, ou até
gravou, a conversa para comprometê-la?
Em
qualquer hipótese, criou um problema tremendo para Charles e toda a
família real, à véspera da viagem dos novos príncipes de Gales, William e
Kate, aos Estados Unidos. O glamour de Kate, faiscando com um colar de
esmeraldas que foi da princesa Diana, abrandou as reações, mas mais
percalços estão desenhados no horizonte.
Nessa quinta-feira, começa o documentário serializado feito pela Netflix sobre o príncipe Harry e Meghan Markle.
Famosamente, eles acusaram um membro não identificado da família real
de racismo por especular sobre qual seria o tom de pele do primeiro
filho do casal, ainda não nascido (o menino é ruivo como o pai).
Harry
e Meghan, com todos os privilégios que têm, procuram se passar por
vítimas, uma das formas mais fáceis de conquistar simpatia em sociedades
nas quais a saudável disposição a combater discriminações pode se
transformar num instrumento para acusar críticos de racismo, sexismo e
mais uma longa lista de males.
Os
dois não vão parar: livros, séries e podcasts só são altamente
lucrativos por causa da posição única que ocupam, Harry como o segundo
filho do rei e da inesquecível Diana – o “estepe”, titulo da
autobiografia que lança em janeiro próximo -, Meghan como a atriz
americana por quem o príncipe se apaixonou.
“Apaixonado
até um pouco demais”, disse certa vez, de brincadeira, a rainha
Elizabeth, segundo o autor de um novo livro sobre ela, Gyles Brandreth.
A
rainha estava prestes a ficar viúva e já sabia que sofria de mieloma,
um câncer nos ossos, diz Brandreth, quando a entrevista escandalosa de
Harry e Meghan foi ao ar.
Quando
o marido, Philip, morreu, Elizabeth escolheu Susan Hussey como
acompanhante no trajeto até a igreja onde foi feito o serviço religioso
de corpo presente.
Ngozi
Fulani disse, no passado, que Meghan tinha sofrido violência doméstica
por parte da família do marido e afirmou que era por racismo o fato de
que ela e Harry foram excluídos de aparecer na sacada do Palácio de
Buckingham na festa dos setenta anos de reinado de Elizabeth.
Agora,
Charles e Camilla convidaram Ngozi para conversar com eles sobre o
episódio, um modo de se mostrarem antenados com o espírito reinante na
era “woke” – e uma ruptura com o lema seguido ao pé da letra por
Elizabeth toda sua vida: “Never complain, never explain”.
Não reclamar e não dar explicações é tudo que a sociedade atual não faz.
BLOG ORLANDO TAMBOSI

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