BLOG ORLANDO TAMBOSI
Hoje, entre o café da manhã e o da tarde, não é raro que Scruton e Peterson apareçam nas mesas dos brasileiros médios; agora não será mais tanto surpresa assim se nos depararmos com um jovem lendo Thomas Sowell no metrô de São Paulo. Pedro Henrique Alves para a Gazeta do Povo:
O
ano de 2022, ao menos no campo editorial, foi verdadeiramente favorável
aos liberais e conservadores. Com lançamentos inéditos dignos de
aplausos e reedições de obras raras que há muito não se via no país,
podemos confortavelmente dizer que, se politicamente os conservadores e
liberais foram escanteados, no âmbito editorial, ao menos, eles foram
elevados. Hoje ao menos quatro competentes editoras lançam livros
voltados quase que exclusivamente ao público liberal-conservador, LVM,
Vide Editorial, É realizações e Faro editorial ‒ esta última sob o selo
Avis Rara. E, como bem ensinou Ludwig von Mises, economista austríaco
editado no Brasil pela LVM, se há oferta é porque também há demanda.
Segundo o levantamento da Nielsen Book do Brasil para o Sindicato Nacional dos Editores de Livros,
até o dia 7 de novembro, cerca de 47,65 milhões de livros tinham sido
vendidos no Brasil, uma alta de 4% em relação ao ano anterior, ano esse
que já havia sido melhor que 2020. Se levarmos em conta ainda que o
preço médio do livro subiu 4,35% em relação a 2021, podemos concluir que
o brasileiro vem gastando mais com livros e que a alta do papel
influenciou menos na venda final do que muitos negativamente supunham. A
conclusão é óbvia, o brasileiro vem consumindo mais livros nos últimos
três anos, e, longe de querer romantizar estatísticas já que, como
sempre afirmo, ler muito não significa ler bem, todavia é fato que esses
são sim números a serem comemorados pelas editoras e editores
brasileiros.
Como
editor de livros, posso afirmar que tais resultados são instigantes e
verdadeiramente alentadores, pois, no ramo das ciências sociais, no qual
atuo, bestsellers são mais difíceis de encontrar e emplacar, fazendo
com que a média de consumo seja tão importante quanto o destacar isolado
de uma obra. No entanto, é fato que nomes como Ludwig von Mises, Roger
Scruton, Thomas Sowell, Olavo de Carvalho e Jordan Peterson já vêm com
uma certeza de público cativo para seus escritos. Hoje, no Brasil
pode-se dizer que faz todo sentido que haja editoras especializadas em
produzir e traduzir obras de cunho conservador e liberal, pois há também
uma base sólida de entusiastas e estudiosos prontos para consumir e
divulgar tais textos. Atualmente, livros como 'As seis lições' de Ludwig
von Mises e 'O Imbecil Coletivo' de Olavo de Carvalho são bestsellers
em um país onde, há dez ou 15 anos, era pecado grave se dizer “de
direita”. Hoje, entre o café da manhã e o da tarde, não é raro que
Scruton e Peterson apareçam nas mesas dos brasileiros médios; agora não
será mais tanto surpresa assim se nos depararmos com um jovem lendo
Thomas Sowell no metrô de São Paulo.
Assim
sendo, eu separei os 12 melhores livros liberais e conservadores
lançados ‒ ou relançados ‒ no ano de 2022. Espero que a lista agrade e
que ela seja uma daquelas portas que alguém abre para que muitos passem.
1-
Contra a Corrente: as melhores colunas, críticas e comentários de Roger
Scruton - Roger Scruton e Mark Dooley Org. (Edições 70)
Há
muito tempo é lugar comum afirmar que o filósofo britânico Roger
Scruton foi o maior teorizador da filosofia conservadora da modernidade ‒
junto a Russell Kirk. Sua morte, em 2020, deixou um vácuo acadêmico e
cultural no conservadorismo que ainda está por ser plenamente
preenchido; sua produção filosófica e política é um marco raro do
conservadorismo contemporâneo, não poucas vezes fez com que até mesmo
seus adversários ideológicos se dobrassem ante a genialidade de seus
textos. Em 'Contra a corrente', Mark Dooley, seu agente literário e, por
vezes, editor, seleciona seus melhores textos ‒ alguns ainda inéditos ‒
e oferta aos seus leitores como o espólio das últimas produções do
filósofo conservador. Como se já não fosse suficiente o fato da obra
conter os principais escritos e alguns de seus textos finais, ele
carrega também a preciosidade de trazer um Roger Scruton ainda pouco
conhecido no Brasil, isto é, um ensaísta de escrita livre em suas
críticas políticas, e também um polemista de primeira ordem ao tratar de
assuntos culturais ainda hoje atuais.
Como
já é do feitio das Edições 70 ‒ selo de cultura da Edições Almedina ‒ a
tradução é ótima e sua edição completamente competente. O livro saiu no
Brasil com um preço extremamente acessível, o que é uma surpresa dado
que as Edições 70 são tão conhecidas pela qualidade editorial quanto
pelo alto preço de seus fascículos. Vale a pena tê-lo o quanto antes.
2-
Falso positivo: Um ano de erro, omissão, e o politicamente correto no
New England Journal of Medicine - Theodore Dalrymple (É realizações)
Theodore
Dalrymple ‒ pseudônimo de Anthony Daniels ‒ já é um velho conhecido dos
brasileiros, seus livros já são largamente consumidos em todo o país.
Recentemente, debatendo com Rodrigo Constantino, concordávamos que o
psiquiatra e ensaísta britânico é hoje um dos maiores pensadores
conservadores vivos. De escrita ensaística envolvente, Dalrymple é muito
mais que um polemista conservador, como muitos o pintam, é antes um
erudito completo; seus ensaios vagam da crítica social e médica até a
análise musical e poética, ele é atualmente o principal reavivador dos
escritos de Samuel Johnson na Europa.
Em
'Falso positivo', ele elabora uma das críticas mais incômodas e
profundas à atuação do New England Journal, revista científica que, para
alguns, é praticamente incontestável. Tal crítica diz respeito à baliza
quase que moral da atuação científica ‒ ou pseudocientífica ‒ da
conceituada revista; revista essa que se tornou o fundamento de muitas
atividades políticas no Reino Unido e em toda Europa. É o famoso “se
saiu no New England Journal então é verdade”.
Ora,
não é de espantar que tais ensaios de Dalrymple tenham recebido uma
enxurrada de críticas negativas na Grã-Bretanha. Lançado em 25 de junho
de 2019, o livro traz um ano de análise de artigos e ensaios acadêmicos
publicado por aquela revista, e, entre conclusões politicamente corretas
e afirmações categoricamente anticientíficas dos articulistas e da
própria revista, o autor elabora uma das suas críticas sociais mais
profundas. Para ele, os britânicos não abandonaram Deus, apenas
reajustaram suas crenças na fé científica e política que atualmente lhes
convêm.
A
edição é muito bem feita e também competente na arte de não inventar.
Trata-se, por fim, de um livro agudo e profundamente consternador se
você ergue altares para a ciência, pois a dita a ciência europeia pode
ter se enamorado definitivamente pela irracional política identitária ‒ e
Dalrymple pode te provar isso.
3- O Caminho da Servidão - Friedrich August von Hayek (LVM Editora)
Entre
os relançamentos a serem destacados, não poderia deixar passar a 2ª
edição de 'O caminho da servidão', considerado um dos 100 livros mais
importantes do século XX pela lista da Martin Seymour-Smith e, nada mais
nada menos, que um dos textos que mais influenciaram Margareth Thatcher
e seu governo. Dificilmente alguém conseguirá escrever um livro tão bom
na arte de desmontar as teses socialistas “de um tapa só” como
conseguiu Hayek nessa obra.
A
tese central do livro, como o estatismo e a planificação central
socialista sempre tenderão ao despotismo, é sem dúvida uma das sete
maravilhas das ciências sociais liberais. Nessa nova edição ainda há
textos extras que compõem o escrito de Hayek: o proêmio de George Orwell
‒ profundo admirador do economista austríaco ‒, o prólogo de Milton
Friedman à edição americana de 1994, os prefácios do próprio autor às
edições de 1944 e 1956, além disso, há um belíssimo posfácio do
acadêmico da escola austríaca, Peter J. Boettke ‒ um dos melhores
ensaios sobre a obra de Hayek que já tive a oportunidade de ler.
'O
caminho da servidão', com certeza, merecia uma edição primorosa como
essa, e, como editor dessa segunda edição, posso garantir o cuidado
textual que foi dispensado ao escrito em todas as etapas editoriais,
posso de fato atestar como cada detalhe estético foi pensado com
cuidado, como algo que foi feito para durar.
4- A mente cativa - Czesław Milosz (Editora Âyiné)
Dono
de uma das prosas mais profundas do século XX, Czesław Milosz é um
daqueles autores que nos forçam a refletir sobre o motivo do
desconhecimento geral do público brasileiro ante os seus escritos.
Czesław Milosz foi Prêmio Nobel de literatura em 1980, ano que estava
escondido do Partido Comunista Polonês após desertar do comunismo e ter
sua cabeça colocada a prêmio. Em 'A mente cativa' Milosz disseca com
rara felicidade como intelectuais, outrora orgulhosos de suas
independências, aos poucos cedem e se achegam às imposições ideológicas
dos diversos totalitarismos ‒ mas, nessa obra em específico, ao
comunismo soviético.
O
empalidecer da independência, o apagar contínuo e angustiante da
autonomia intelectual humana e a supressão cada vez mais despótica da
liberdade poética, esses são os alvos dos ensaios que compõem essa obra
ímpar, dotada de uma coragem visceral daquelas que realmente são raras
de serem encontradas em dias de totalitarismo.
'A
mente cativa' é também uma nova edição, pois já havia uma tradução
corrente em português, feita pela editora Novo Século; todavia, como
aponta a tradutora Denise Bottmann, do blog Não gosto de plágio, a
tradução da Novo Século não é diretamente do polonês como fora anunciado
pela referida editora, mas sim do inglês. A nova edição, da editora
mineira Âyiné, por sua vez, foi sim traduzida do original polonês pela
Eneida Favre, e, como é padrão nessa editora, o tratamento textual
dispensado ao livro é realmente de primeira.
Essa
é uma das obras que um homem com certeza precisa ler a fim de buscar a
maturidade intelectual e humana. Um livro que nenhum indivíduo deveria
morrer sem ler.
5- A crise da política identitária – Antonio Risério Org. (Topbooks)
Depois
do bombástico 'Sobre o relativismo pós-moderno e a fantasia fascista da
esquerda identitária', poucos acreditavam que o sociólogo socialista
Antonio Risério continuaria sua cruzada pessoal contra aquilo que ele
denominou de “fascismo identitário”. Se você apostou no acovardamento do
sociólogo baiano, você perdeu. Risério tem aquela verve
intelectualmente corajosa e independente que encontramos nos mais
destacados socialistas esclarecidos do século XX e XXI, de George Orwell
a Mark Lilla, aqueles que não abrem mão de suas convicções sociais, mas
também não abandonam as suas sanidades intelectuais em nome da tribo.
Atualmente, aqueles que se encontram entre esses poucos socialistas
autônimos são persona non grata do esquerdismo moderno.
Em
A crise da política identitária, Risério chamou os pensadores e
ensaístas brasileiros mais competentes quando se trata de análise do
identitarismo; são 22 ensaios que abrangem desde uma visão mais
progressista até o neoconservadorismo. As análises são preciosas e tocam
características e pontos de vista praticamente inéditos na crítica às
teses identitárias; destaco especialmente os textos de Eli Vieira
(editor da Gazeta do Povo) e de Raphael Tsavkko Garcia.
No
Brasil, ainda são pouquíssimos os autores que se debruçaram com
seriedade sobre o problema do identitarismo. Existem, na verdade dois
movimentos paralelos: o histerismo pseudoconservador, que busca em
demônios e conspirações globais fantasmagóricas os porquês das teses
identitárias; e há também a esquerda entorpecida, que justifica a
sandice identitária como sendo uma espécie superevolução intelectual
quase que inconteste, uma religião.
Risério
rompe esses movimentos e se dedica a uma contestação fundamentada e
séria das teses identitárias. O livro também traz uma entrevista que
realizei com o autor para a revista Oeste, em que ele esclarece suas
ideias políticas, rebate críticas e fala da censura sofrida na Folha de
S. Paulo. Essa é uma das obras que merecem ser lidas o quanto antes.
6- Também eu vivi no comunismo - Ioana Pârvulescu Org. (Academia Monergista)
Esse
é, com certeza, um dos livros que mais me prenderam neste ano; aliando
contos e ensaios rápidos, 'Também eu vivi o comunismo' é uma coletânea
de textos diversos que relatam cruamente o que é viver num ambiente
comunista romeno do século XX. Como a própria organizadora afirma, o
livro não pretende ser uma apologia ou uma crítica ao comunismo, mas sim
um amontoado organizado de impressões cotidianas daqueles que viveram
sob o regime estafante do sovietismo e de seus satélites. Ainda que a
intenção não tenha sido uma crítica ao comunismo, dificilmente um leitor
lerá o livro sem que um calafrio de medo e angústia, aliado a um
romantismo ideológico e transloucado, atravesse sua alma e o faça
repensar politicamente tal regime.
Tal
obra nos faz facilmente lembrar outros textos que se assemelham ‒ ainda
que não totalmente ‒ ao projeto de Pârvulescu, tal como o de Svetlana
Aleksiévitch, 'Vozes de Tchernóbil: crônica do futuro', ou 'A acusação:
histórias proibidas vindas da Coreia do Norte', de Bandi; o trunfo de
'Também eu vivi o comunismo, com certeza, é o fato da abrangência e a
característica literária dos textos. A estética da escrita, aqui, vale
tanto ou até mais que quaisquer denúncias e raciocínio filosóficos.
A
edição é muito bem feita, com tradução do ótimo Elpídio Mário Dantas
Fonseca, 'Também eu vivi no comunismo' se destaca entre aqueles livros
que trazem uma imersão nos dias de comunismo soviético, dado que os
textos foram escritos por pessoas comuns, médicos, engenheiros e
trabalhadores comuns que viveram sob o regime vermelho. Eis um livro
para ser lido e absorvido sem pressa e, não há dúvida, um dos melhores
lançamentos de 2022.
7- Thomas Sowell: a biografia - Jason L. Riley (Avis Rara)
Livro
essencial para entender a mente do maior intelectual liberal vivo.
Thomas Sowell é com certeza um dos mais lúcidos críticos políticos da
modernidade. Tendo nascido em uma época dura para os negros americanos,
sobrevivido e se dedicado ao ponto de se tornar um dos teóricos liberais
de maior abrangência nos dias atuais, não conhecer a sua história se
torna quase uma heresia da parte dos liberais e conservadores modernos.
Recheado
de detalhes inéditos e com uma prosa envolvente, Jason L. Riley
conseguiu fazer da biografia intelectual de Sowell um convite à
erudição; por isso mesmo indico esse livro especialmente aos jovens e
adolescentes, pois, Thomas Sowell é a prova de que as condições sociais
contrárias e as injustiças políticas de momento raramente podem parar
uma mente centrada, um espírito resoluto, um homem dedicado.
Você
não encontrará na história de Thomas Sowell uma visão vitimista ‒ ainda
que, se ele a tivesse feito, seria totalmente compreensível ‒,
encontrará antes uma capacidade ímpar de desobstruir seu caminho social e
acadêmico com inteligência e vontade, a fim de prosperar e entender o
mundo que o cerca.
Aqui
compreenderemos os conceitos-chave para abarcar as ideias do economista
liberal do Harlem, bem como entenderemos os eventos de sua história que
moldaram suas escolhas e ideias maduras. Aliando, assim, uma biografia
tradicional a uma história das ideias, Riley conseguiu reunir em um só
livro o necessário para compreendermos a mente e a vida de Thomas
Sowell. Indispensável para os amantes do pensador liberal
norte-americano, necessário para aqueles que querem conhecer um liberal
raiz em dias de liberalismos duvidosos.
8- O fenômeno Pitesti - Virgil Ierunca (Vide Editorial)
Um
dos livros mais angustiantes e bizarros que li em 2022. 'O fenômeno
Pitesti' é um relato real do que se passou na prisão de Pitesti,
Romênia, um experimento médico-psíquico conduzido pelo Partido Comunista
Romeno ainda hoje desconhecido de boa parte do Ocidente.
O
autor, Virgil Ierunca, é um competente jornalista que conseguiu reunir
relatos de quem viveu ou colaborou naquele pandemônio, dando-nos um
quadro competente do contexto de tal experimento demoníaco. O
experimento consistia em buscar um método psicológico de obediência
total dos dissidentes do comunismo; três etapas compunham o experimento
1) a confissão dos supostos atos subversivos e conspirações abarcados
pelo preso, na grande maioria dos casos, tais confissões eram tiradas a
partir de torturas inimagináveis e, por isso mesmo, mentirosas, pois
visavam apenas cessar a tortura; 2) os torturados eram obrigados a
revelar nomes de pessoas próximas que supostamente participaram das
conspirações ou que tinham inclinações contra o partido; 3) os presos
eram forçados a se denunciar e denunciarem publicamente terceiros e, ao
assumirem seus erros ao público, muitos deles ‒ principalmente clérigos ‒
eram obrigados a blasfemarem contra símbolos do cristianismo e a se
fantasiarem de Jesus Cristo enquanto eram torturados ante a familiares,
amigos e estranhos.
Livro
relativamente curto ‒ 96 páginas ‒, mas que dá conta de um dos
experimentos políticos mais brutais do século XX, experimento esse ainda
pouco divulgado e praticamente esquecido pelo Ocidente contemporâneo.
Repito: com certeza é um dos textos mais inquietantes que li em 2022, e,
se me perguntassem por que deveríamos lê-lo, a resposta mais certa
seria que os horrores do passado devem ficar vivos em nossas memórias
para que não corramos o risco de ficarmos tentados a repeti-los na
realidade.
9- A guerra contra o Ocidente - Douglas Murray (Avis Rara)
Se
me perguntassem qual livro é preciso ser lido hoje para entendermos os
problemas políticos na modernidade, com certeza eu indicaria 'A guerra
contra o Ocidente'.
Para
quem ainda não conhece Douglas Murray, ele é dono de uma crítica
conservadora rara e profunda, talvez por ser um jornalista, a sua
capacidade de escrever sobre assuntos normalmente complicados com uma
facilidade extrema é de longe seu maior trunfo.
Ele
é o autor do ótimo livro 'A loucura das massas: gênero, raça e
identidade', texto que expõe os erros lógicos, históricos e políticos do
identitarismo contemporâneo. No livro que indicamos, ele vai mais fundo
e expõe como a birra progressista, na verdade, não é contra tradições
específicas, ou valores determinados, mas sim contra a própria estrutura
filosófica e religiosa do Ocidente. Ele mostra como a narrativa
midiática, as políticas dos burocratas da ONU, as cartilhas de
institutos e instituições são todas construídas com um fim determinado:
minar os valores ocidentais e, assim, abrir espaço para uma reengenharia
social em massa.
O
caso, no entanto, é que é muito difícil chamar Murray de conservador
conspiracionista, pois lembre-se do que disse acima: ele é tarado em
fundamentar seus argumentos em documentos e fontes primárias.
Douglas
Murray, ao lado de Jonah Goldberg e Theodore Dalrymple, são hoje os
maiores críticos conservadores da contemporaneidade, tais livros de
estilo ensaístico e fundamentação robusta são padrão na crítica
contemporânea ao progressismo. A presente edição brasileira de 'A guerra
contra o Ocidente' tem uma boa tradução e diagramação padrão, todavia a
grandeza da obra fica por conta da profundidade do próprio autor e sua
crítica.
10- Liderança Segundo Margaret Thatcher: lições para os empreendedores de hoje - Nile Gardiner e Stephen Thompson (LVM Editora)
Livro
que inicialmente foi lançado pelo Clube Ludovico para seus assinantes
em 2021, em agosto de 2022 teve a sua versão brochura lançada para o
grande público. Trata-se de uma análise acurada de dois críticos
políticos sobre a atuação de Margaret Thatcher e as lições práticas de
seu governo e biografia aos indivíduos comuns de nossos dias. Prático e
lotado de paralelos na atuação da própria Dama de Ferro, o livro é
prazeroso e indica o caminho do empreendedorismo intelectual, financeiro
e político para os conservadores.
Gardiner
e Thompson, munidos de um amplo conhecimento histórico sobre a vida de
Thatcher, conseguem correlacionar os desafios da época de
primeira-ministra aos desafios contemporâneos dos homens comuns,
mostrando como o modus operandi de coragem, estratégia e análise
contextual dos adversários ‒ postura constante de Thatcher a frente de
seu governo e vida pessoal ‒ podem compor um ponto de partida seguro
para aqueles que querem empreender no mercado, reajustar sua vida
privada ou até mesmo reordenar sua família.
Com
insights poderosos e um texto límpido, esse livro soa como um convite
aos estudos sobre Thatcher, bem como uma conversa amigável sobre como a
senhorita de Grantham se tornou a Dama de Ferro do Reino Unido. Se
querem uma leitura prazerosa para um fim de tarde, eis o livro ideal
para isso.
11- Os ungidos - Thomas Sowell (LVM Editora)
Ainda
que lançado originalmente em 1995, nos Estados Unidos, se, por algum
erro editorial bizarro, 'Os ungidos' constasse com o lançamento em 2022,
não estranharíamos nada, tamanha a atualidade da crítica de Sowell ao
sistema judiciário americano ‒ mas que cabe perfeitamente ao judiciário
brasileiro.
O
economista e crítico político americano ‒ um dos últimos cavaleiros
liberais-raiz norte-americano ‒ traz fundamentação filosófica e jurídica
profundas ao problema do avanço cada dia mais tirânico do judiciário
sobre as demais instituições da nação e liberdades individuais. Para
ele, há uma crença filosófica enraizada nos produtores de direito que
lhe dizem ser lícito que, na ausência de legislação ou atuação
coordenada da sociedade sobre determinados temas, as cortes ratifiquem
decisões e até mesmo decidam sobre temáticas morais e políticas à
revelia das instituições e vontades populares; seriam esses os
“ungidos”, aqueles que estão acima do bem e do mal no sistema
democrático de direito pois, em última instância, eles são o sistema
democrático.
Tal
percepção jurídica, dizia ele em 1995, tende a avançar e instaurar um
novo sistema de tirania sob o véu da democracia e do ordenamento
jurídico; sob uma retórica de legalismo e justificativas políticas pouco
convincentes, aos juízes seriam entregues os direitos de serem
ditadores, pois poderiam agir como qualquer outro poder de Estado sem
que haja nenhuma instância legal para poder pará-los ‒ a não ser eles
próprios. Alguma semelhança, brasileiros de 2022?
Esse
também é um antigo livro do Clube Ludovico, que agora sai para o grande
público brasileiro. Arrisco-me a dizer que, da lista de livros que
indiquei, de longe esse é o mais urgente de ser compreendido e absorvido
pela mentalidade comum nacional.
12 - Uma nação, Duas culturas - Gertrude Himmelfarb (É realizações)
Gertrude
Himmelfarb é uma das analistas políticas e historiadoras mais
competentes que os Estados Unidos produziram nos últimos 100 anos.
Apesar de ser relativamente pouco conhecida, a sua capacidade de
percepção estrutural da sociedade é algo assombroso. De sua análise das
diversas facetas do iluminismo em 'Os caminhos para a modernidade', até o
seu magistral estudo de Lord Acton, 'Lord Acton: a study of conscience
and politics', Himmelfarb jamais decaiu na seriedade e na criteriosidade
de suas conclusões e demais afirmações.
De
inclinações claramente conservadoras, em 'Uma nação, duas culturas',
Himmelfarb analisa a situação paradoxal dos Estados Unidos, onde a
cultura de base predominante é o conservadorismo familiar cristão e a
livre iniciativa liberal, todavia, a partir da década de 1950, a
contracultura progressista marxista dominou a produção acadêmica e
midiática, fazendo com que, hoje, os Estados Unidos encontrem-se em
plena corrosão moral, dividida entre dois modelos de cultura, a
conservadora e a progressista.
Com
sua capacidade de perscrutar o interior dos movimentos culturais e
retirar dali a radiografia dos seus motores filosóficos, ela nos entrega
uma dissecação cuidadosa das ideias e estratégias que compõe aquilo que
hoje chamamos de “progressismo cultural”. Outro livro que, apesar de
ter sido escrito em 1999, facilmente poderia ter sido lançado ontem. A
edição da É realizações é primorosa e direta, entrega o que se espera em
qualidade de conteúdo, estética e materiais.
Pedro Henrique Alves é editor-chefe e preparador textual da Editora LVM e do Clube Ludovico
Postado há 1 hour ago por Orlando Tambosi
Nenhum comentário:
Postar um comentário