BLOG ORLANDO TAMBOSI
Muito do aumento ocorreu entre jovens progressistas ou da extrema-esquerda”, comenta o pesquisador. O sinal de motivação política está especialmente entre jovens brancos e com educação superior. Entre americanos com menos de 30 anos, 25% dos progressistas se dizem LGBT, comparados a 9% dos conservadores. Eli Vieira para a Gazeta do Povo:
Uma
pesquisa do instituto Gallup publicada em fevereiro, indicando que
quase 21% dos adultos mais jovens nos Estados Unidos se identificam como
LGBT, o dobro desde 2017, levantou suspeitas
de que está havendo um contágio social dessas autoidentificações nessa
faixa etária, desacopladas de elementos genuínos espontâneos de sua
intimidade. Agora, essas suspeitas ganharam corroboração de uma nova
análise feita por Eric Kauffman, professor de ciência política no
Birkbeck College, Universidade de Londres, e membro do conselho
executivo do Centro de Estudo do Partidarismo e Ideologia (CSPI), onde a
análise foi publicada na segunda-feira (30).
O
fenômeno data da última década. Na população americana em geral, os
LGBT saltaram de 5,6% em 2020 para 7,1% em 2021. O número é o dobro do
aferido em 2012. Uma fonte alternativa de alta qualidade, a Pesquisa
Social Geral (GSS), concorda com as descobertas do Gallup: LGBTs
americanos foram de 4% em 2012 a 7,6% em 2021; com 19,8% dos adultos
mais jovens se dizendo LGBT. A ciência ainda não tem uma resposta
completa de qual seria a proporção esperada sem influências sociais, mas
um grande artigo de 2016 sugere que a estimativa de 5% de
não-heterossexuais na população em geral seria “generosa”. Entre jovens
universitários, especificamente, a Fundação pelos Direitos Individuais
na Educação (FIRE) indica que os autointitulados LGBT chegaram a mais de
um quarto deles em 2021.
Eric Kauffman considera três hipóteses em seu relatório:
1. Ser LGBT, assim como ser canhoto, é uma expressão da diversidade fisiológica humana que até recentemente havia sido reprimida por normas sociais. O aumento vem do relaxamento dessas normas.2. O aumento vem de experimentação de jovens, é apenas uma fase e eles vão voltar à identificação anterior quando envelhecerem.3. Identidades sexuais alternativas estão aumentando por contágio social (uma imitação que acontece por incentivos sociais diversos), que ocorre especialmente pela internet com participação de instituições educacionais e médicas.
As
hipóteses 1 e 3 são favorecidas pela análise. Para entendê-las, é
preciso diferenciar comportamento LGBT de identidades LGBT, pois as
imitações dizem mais respeito às autoidentificações que ao comportamento
sexual de fato.
Evidências do contágio social e influência de ideologia
O
carro-chefe do contágio é a autoidentificação bissexual entre jovens
mulheres: 12% se dizem bissexuais e 5% lésbicas. Porém, a coisa muda de
figura quando se investiga o comportamento. Somente 7% delas tiveram uma
experiência com alguém do mesmo sexo no ano anterior. Quase 60% das
ditas lésbicas ou bissexuais só tiveram homens como parceiros sexuais
nos 12 meses que precederam a pesquisa. Entre os rapazes que se dizem
gays ou bissexuais, este número é 38%, aumentando de 20% na década
anterior. Se fosse só uma questão de “sair do armário”, o número de
rapazes que se dizem gays ou bissexuais que só fizeram sexo com mulheres
no ano anterior teria caído, não aumentado dessa forma. Até entre
homens, portanto, está havendo um desacoplamento entre o comportamento e
a autoidentificação.
“Muito
do aumento ocorreu entre jovens muito progressistas ou da
extrema-esquerda”, comenta o pesquisador. O sinal de motivação política
está especialmente entre jovens brancos e com educação superior. Entre
americanos com menos de 30 anos, 25% dos progressistas se dizem LGBT,
comparados a 9% dos conservadores. Nos dados da FIRE, 49% dos
universitários ‘muito progressistas’ se dizem LGBT, em comparação a 5%
dos ‘muito conservadores’.
Já
a onda de “transgêneros”, que na última década tem aumentos alarmantes
que vão de mil porcento nos Estados Unidos a 1500% na Suécia e até 4000%
no Reino Unido, concentrados em jovens do sexo feminino (ao contrário
do que era no passado, em que maioria dos transexuais eram do sexo
masculino) parece ter caído entre 2020 e 2021. Mas é digno de nota que
muitos desses jovens não entendem o “T” como “transexual” (pessoas com
diagnóstico de disforia que buscam mudar sua expressão para o sexo
oposto), mas como “transgênero”, termo que aceita invencionices teóricas
pós-modernas e até místicas. Um jovem transgênero observado em consulta
com a psicóloga transexual Erica Anderson pelo jornal Los Angeles Times
diz que o gênero tem “múltiplas dimensões” e que tem um amigo que se
identifica com as “vibrações caóticas de um guaxinim na caçamba de
lixo”. Sites sérios na internet fazem listas gigantescas de “identidades
de gênero” como “gênero praia” e “gênero fofo”, cada uma com sua
bandeira. O abandono do aspecto “sexo” a favor de “gênero” muitas vezes
vem com um paradoxal pedido desses jovens para tomar hormônios sexuais, o
que contradiz sua pressuposta distinção entre sexo e gênero.
No mês passado, pela primeira vez o IBGE publicou uma estimativa
da frequência de lésbicas, gays, bissexuais e transexuais no Brasil:
menos de 2%. O número está dentro ou um pouco abaixo do esperado de
acordo com pesquisas anteriores em diversos países, o que indica que uma
fração das minorias de sexualidade no Brasil continua não se
identificando publicamente como tal. Por aqui, portanto, se está havendo
contágio social de identidades LGBT, deve estar mais concentrado em
bolsões culturais de jovens de mais escolaridade e afluentes, mais em
contato com a cultura falante do inglês.
Uganda ameaça matar gays, mas pede por evidências
Em
2009, a Uganda, país da África, fez manchetes internacionais por uma
proposta de lei que endurecia a criminalização da homossexualidade. O
projeto de lei, chamado Ato Anti-Homossexualidade, previa prisão
perpétua e até pena de morte para o que chamava de “homossexualidade
agravada”, que consistia em ter relações sexuais com indivíduos abaixo
de 18 anos do mesmo sexo, entre outros agravantes como estar infectado
com HIV.
Em
dezembro de 2013, depois de modificações que removiam a pena de morte,
mas mantinham a prisão perpétua, o Ato Anti-Homossexualidade foi
aprovado no parlamento. O presidente Yoweri Museveni, que governa o país
desde 1986, aprovou a lei em fevereiro de 2014. Os Estados Unidos
impuseram sanções à Uganda em junho daquele ano por causa da lei, e o
Banco Mundial adiou um empréstimo de 90 milhões de dólares. Muitos
cristãos, inclusive o Arcebispo da Cantuária da Igreja Anglicana, da
qual Museveni é fiel, se opuseram ao ato. Depois que a Corte
Constitucional do país derrubou a lei em agosto de 2014 por ter sido
aprovada na ausência de um quórum mínimo, o próprio Museveni teria
instruído seus apoiadores a não fazer apelações por causa da retaliação
internacional. A homossexualidade continua ilegal na Uganda.
Dez
dias antes de sancionar a lei, Museveni anunciou que a aprovaria pois
ouviu “especialistas médicos” que disseram que “a homossexualidade não é
genética, mas um comportamento social”. Dias depois, retirou o que
disse após uma crítica do ex-presidente Barack Obama e pediu conselho de
cientistas americanos.
Em pronunciamento
publicado em 22 de fevereiro de 2014, o presidente de Uganda diz que
concorda que a promoção da homossexualidade “deve ser criminalizada
porque os britânicos [colonizadores] já haviam feito isso”, mas que tem
um ponto de discordância com alguns dos parlamentares “sobre as pessoas
que eu acho que nasceram homossexuais”. “Eu, portanto, estimulo o
governo dos EUA a nos ajudar trabalhando com os nossos cientistas que
estudam se, de fato, há pessoas que nasceram homossexuais. Quando isso
for provado, podemos rever essa legislação”, conclui Museveni.
Em resposta a Museveni, mais de 200 cientistas assinaram uma declaração
que diz que, enquanto as causas da homossexualidade são só parcialmente
entendidas, “a orientação sexual não é uma matéria de escolha”, nem uma
doença mental; e que emerge espontaneamente, tem correlatos
neurobiológicos e é observada em outras espécies, como ovelhas.
Um
dos signatários, o psicólogo e geneticista do comportamento J. Michael
Bailey, que leciona na Universidade do Noroeste nos EUA, é o primeiro
autor de uma resposta mais detalhada publicada em 2016 na revista
Psychological Science in the Public Interest.
Não há contágio social de atração
O
artigo de Bailey e colaboradores chama a atenção não só pelo
detalhamento, mas também pela ausência de retórica inflamada. As crenças
populares compartilhadas por Museveni, como a de que a homossexualidade
pode ser passada por “recrutamento” de menores, são analisadas com
seriedade.
“A
controvérsia mais significativa através dos tempos e lugares trata de a
que medida a homossexualidade é influenciada socialmente e, mais
especificamente, se pode ou não se espalhar como resultado de contágio e
tolerância social”, diz o artigo. “Não há boas evidências de que
qualquer uma das duas coisas [contágio ou tolerância] aumenta a
incidência da orientação homossexual, embora a tolerância possa
facilitar a expressão comportamental do desejo homossexual”. Ou seja, os
cientistas não têm evidências convincentes de que o desejo espontâneo
por pessoas do mesmo sexo possa mudar conforme influência externa,
inclusive contágio social.
O
contágio social de identidades e autoidentificações LGBT que agora se
observa é parte de um novo fenômeno, e sua consideração não deve ser
confundida com antigas crenças preconceituosas sobre a origem dos
homossexuais. É, na verdade, fruto de um sucesso excessivo na defesa do
grupo, pois atrai para ele jovens que não têm elementos íntimos
espontâneos que os fariam LGBTs genuínos — que têm uma combinação
complexa de variantes genéticas e influências hormonais no
desenvolvimento com influências ambientais não escolhidas —, criando um
novo problema de inautenticidade similar ao antigo armário — um estado
de afastamento da realidade do que realmente se é, pouco condutivo à
felicidade.
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