O controle da linguagem, como sabemos, está na essência do movimento identitário. Que, além de ressentido e profundamente infeliz, é ignorante. Paulo Polzonoff via Gazeta do Povo:
Neguinho
assistiu à entrevista do ex-corredor de F1 Nelson Piquet. Neguinho
acompanhou as repercussões, sobretudo de Lewis Hamilton, que transformou
a expressão em xingamento. Neguinho leu notas e mais notas de
solidariedade a Hamilton. Neguinho até se compadeceu do cancelamento de
Piquet – de quem não gosta nem nunca gostou. Aí neguinho abriu o
computador e começou a escrever um texto sobre o assunto.
O
controle da linguagem, como sabemos, está na essência do movimento
identitário. Que, além de ressentido e profundamente infeliz, é
ignorante. Já vimos isso no caso do verbo “denegrir” e no caso do simpático móvel chamado “criado-mudo”
- que não deu um pio sobre o assunto. Sem freios que não uma
consciência carcomida pela ideologia, contudo, o movimento racialista
agora encontrou outra palavra para seu Index Prohibitorum: “neguinho”.
Não
sei se são meus ouvidos angelicais, mas sempre ouvi “neguinho” como um
termo carinhoso para se referir a alguém cujo nome na hora nos escapa.
Já sei! É característica dos nossos diminutivos, comumente identificados
até com a fala inocente das crianças (apud
José Paulo Paes, Mário Quintana, etc). Pegue um leão, tão imponente e
magnânimo que contém até aumentativo no nome, e o transforme num
leãozinho para ver o que acontece.
“Neguinho”
não tem nada, absolutamente nada, zero mesmo, – 273,15 °C a ver com a
cor da pele. Na pior das hipóteses, “neguinho” é um pronome indefinido
coloquial que pode ser usado até mesmo para fazer referências a racistas notórios
como Che Guevara. “O negro indolente e sonhador gasta seu dinheirinho
em qualquer frivolidade ou diversão”, disse neguinho. Ou “neguim”, em
sua versão ainda mais indolente.
Tom e toada
Nessa
toada, não vai demorar para os ativistas criminalizarem a palavra
“nêga”, usada Brasil afora para se referir à mulher amada,
independentemente da cor da pele. E não duvidarei nada se o movimento
negro se unir às feministas para, juntos, criminalizarem o “minha nêga” –
um clássico "possessivo" imortalizado em incontáveis músicas, de
Paulinho da Viola e Adoniran Barbosa. Por falar em música, por favor,
alguém corre para proteger “Preta Pretinha” antes que a música seja
tirada das plataformas de streaming por pressão desses energúmenos.
Ah,
Paulo, mas o problema é o tom com que Nelson Piquet fala o "neguinho" -
argumenta alguém. Verdade, ainda que meia verdade. Porque o tom é um
negócio assim meio esquivo. Incontrolável. O tom com que se ouve/lê uma
palavra nem sempre tem a ver com o tom com que se diz/escreve.
Dependendo do tom, palavras positivas como "gênio" podem se transformar
em ofensa - sem jamais se tornarem crimes, muito menos de ódio. Pegue a
afirmação "o Polzonoff é um gênio mesmo", por exemplo. É muito provável
que eu a leia como elogio, mas você a tenha escrito/dito como ofensa.
Agora,
a mágica: palavras e expressões negativas podem se transformar em
demonstrações de afeto. Como bem me ensinou o professor Élio Antunes há
longínquos 27 anos, você pode muito bem dizer a um amigo querido "vem
cá, seu efedepê, me dá um abraço!". Ou então pode receber um merecido
aumento, se virar para o chefe e dizer, sem medo de ser demitido por
justa causa: “Patrão, eu te odeio! Muito obrigado”. Há alguns anos,
aliás, teve um narrador repreendido por dizer que Lady Gaga era
“ridícula”. Detalhe, “sua ridícula” era o bordão dele para jogadas
maravilhosas no futebol americano.
Negrito
No
caso específico do “neguinho” mencionado por Nelson Piquet, a reação do
corredor/ativista Lewis Hamilton e de mais personalidades com vento na
cabeça foi equiparar a palavra ao “nigger”, termo há muitos anos
proscrito em inglês. Este é o problema de ser uma celebridade woke,
milionária e estúpida: sempre tem um assessor mal-intencionado para
soprar no ouvido de semideuses mentiras com ares de verdade que ela, a
celebridade, propagará até alcançar ouvidos perturbadoramente férteis
quando se trata de ideias daninhas.
“Neguinho”
e “nigger” são como água e azeite. O primeiro, já disse, mas não custa
repetir, tem um quê de carinhoso inerente ao diminutivo e não tem
absolutamente nada nada nada nada nada (nada!) a ver com a cor da pele.
“Neguinho” se aplica até a mim. E a índios e a pardos e a japoneses.
“Aquele neguinho branquelo” não é, em português, uma contradição em
termos. Já “nigger” traz em si uma carga muitíssimo pesada e específica
do inglês norte-americano. Tanto que o termo é praticamente
intraduzível, ainda que alguns possam optar por “criôlo” – dito e
escrito assim com o “o” fechado e sem o “u” - ou o raramente usado
"tição".
Veja
que curioso: em vez de celebrarmos o fato de nossa língua não ter um
termo pejorativo de uso amplo para se referir a uma raça específica, o
movimento negro inventa uma falsa equivalência para ampliar o abismo da
intolerância e, assim, promover sua causa. Falamos “neguinho” como
também falamos “japa” – sem nenhum traço do ódio contido, por exemplo,
na palavra inglesa “jap”. Olha só que maravilha!
E
aqui vou escrever em negrito, antes que também proíbam a marca gráfica
que nos ajuda a dar ênfase a alguma coisa: viver o pesadelo identitário,
um pesadelo
marcado por cenas de inveja, ressentimento, rancor histórico e uma
infelicidade mais profunda do que a Fossa das Marianas, é uma questão de
escolha. Que pode até ser lucrativa para os Hamiltons e Djamilas da
vida, mas que provavelmente só trará prejuízos às pessoas comuns e
normais. Por falar em normalidade, também já escrevi isso, mas não custa repetir: para sair do hospício, às vezes basta abrir a porta.
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