A convocação do general da reserva Walter Braga Netto, 65, para mais uma missão bolsonarista não espantou ninguém, mesmo que apoiadores ligados ao Centrão estejam rangendo os dentes. Alexandre Borges para a Gazeta do Povo:
Quem
me acompanha por aqui, na Gazeta do Povo, ou na CNN Brasil sabe que
nunca comprei a tese de que Tereza Cristina seria escolhida como vice na
chapa de Jair Bolsonaro para a reeleição. Ele não daria essa
“fraquejada”, para usar seu próprio vocabulário, num momento de
confronto direto com as instituições e com a própria democracia do país.
O roteiro foi o mesmo com Janaína Paschoal e Hamilton Mourão em 2018.
A
convocação do general da reserva Walter Braga Netto, 65, para mais uma
missão bolsonarista não espantou ninguém, mesmo que apoiadores ligados
ao Centrão estejam rangendo os dentes. Os profissionais da política
sabem que esse fiel escudeiro do presidente nunca embarcaria num
processo, mesmo que legal, de impeachment do chefe, uma mensagem
fundamental a ser passada em tempos tão turbulentos.
Braga
Netto ganhou notoriedade nacional ao chefiar a Intervenção Federal no
Estado do Rio de Janeiro em 2018, mesmo ano que elegeu Jair Bolsonaro
presidente da República numa conjunção inédita e improvável de fatores: o
auge da popularidade da Lava Jato, a prisão do líder das pesquisas, um
atentado próximo à eleição, com direito a semanas de uma convalescença
midiática que humanizou o candidato para uma parte do eleitorado.
A
intervenção no Rio não costuma ser lembrada como um fator, mas ajudou a
ressuscitar a ideia, para um determinado segmento do público mais
reacionário, de que o país vive um caos comunista e só um general
patriota, com plenos poderes, pode colocar ordem na casa.
O
governo Bolsonaro, em seu primeiro ano, sofreu com a nefasta influência
da chamada “ala ideológica”, meninos maluquinhos que colocaram todos
contra todos e instauraram o clima de polarização e radicalismo com que
infelizmente temos que lidar até hoje.
Como
nem o presidente conseguiu suportar aquela turma por muito tempo, em
2020 os militares passaram a ter um papel preponderante.
Braga
Netto assumiu a Casa Civil, o que significa na prática se tornar uma
espécie de superministro e braço direito do presidente, enquadrando e
escanteando os ideológicos. Sua função como principal nome de Bolsonaro
na política estava se iniciando oficialmente.
Foi
também em 2020 que outro general, Eduardo Pazuello, assumiu o
Ministério da Saúde. Sob sua gestão, houve uma das maiores tragédias de
saúde pública da nossa história, com picos de mais de três mil mortes
diárias, o massacre provocado pela falta de oxigênio em Manaus, a
produção em escala industrial de cloroquina, os atrasos mal explicados
na compra de vacinas Pfizer e a preferência ainda mais estranha pela
Covaxin, do laboratório indiano Bharat Biotech. Um dia, ainda
investigaremos direito essa tragédia.
Pazuello
não estava sozinho como czar da pandemia. Braga Netto não apenas deu
suporte às decisões do companheiro de farda e ministério como foi o cão
de guarda institucional do governo. É notório que os senadores não
convocaram Braga Netto para depor na CPI da Covid por se sentirem
intimidados, o que certamente conquistou ainda mais pontos com o
comandante-em-chefe.
A
figura do generalíssimo, associada a ditadores como o espanhol
Francisco Franco, está ligada a chefes de estado fardados que assumem a
função de “general dos generais”, um papel que Bolsonaro adoraria
exercer mas que sua tortuosa carreira militar e sua patente de capitão
não permitem. Braga Netto vem preencher este espaço, sendo o avatar de
Bolsonaro com quatro estrelas no uniforme.
Os
militares do atual governo acreditam, erroneamente, que servir às
agendas políticas do presidente da república, como no infame desfile de
blindados fumacentos em frente ao Congresso no dia da votação da PEC do
voto impresso, é de alguma forma servir ao país.
Não
é, mas hoje os militares verdadeiramente patriotas, que sabem que
servem à Constituição e ao país, estão infelizmente omissos ou
negligentes no seu papel vital de mostrar ao povo que as Forças Armadas
não embarcarão em aventuras antidemocráticas ou em chamar às falas seus
companheiros aloprados. O retrocesso democrático e institucional, seja
qual for o desfecho, está na conta deles.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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