Vinte anos de prisão é o castigo reservado para a mulher que era apaixonada pelo pedófilo Jeffrey Epstein - e se tornou seu instrumento. Vilma Gryzinski:
“Eu não era nada além de um brinquedo sexual com pulso e alma para entreter Epstein, Maxwell e outros”.
“Depois
de atraírem a mim e a outras com uma falsa sensação de segurança e
conforto, eles nos enredavam em seu mundo pervertido de estupro, estupro
e mais estupro”.
Estes
são alguns trechos do depoimento dado por Sarah Ransome nas audiências
que precederam a sentença de Ghislaine Maxwell – serão vinte anos de
prisão para a socialite inglesa que se tornou cúmplice no aliciamento de
adolescentes para servir sexualmente o pedófilo milionário Jeffrey
Epstein, que se suicidou na cadeia em 2019, num caso escandaloso que até
hoje provoca suspeitas.
Sarah,
hoje com 37 anos, foi uma das centenas de adolescentes, em muitos casos
inseguras ou com problemas familiares, manipuladas por Ghislaine para
manter o constante suprimento de meninas lindas convencidas a fazer
massagens e prestar outros serviços sexuais para Maxwell e sua rede de
amigos importantes. No caso dela, um dos argumentos usados foi que era
“excepcionalmente inteligente” e poderia se tornar uma pessoa destacada;
bastava seguir suas orientações.
Além
de “caçar” e atrair as meninas, até em portas de escolas, Ghislaine
ensinava-as a fazer as massagens como “Jeff gosta” e participava de
sessões de sexo coletivo, usando vibradores.
Virginia
Roberts Giuffre, promovida a “primeira namorada” na época dos abusos,
disse que Ghislaine a violentou dessa maneira em inúmeras ocasiões. Ela é
a mais conhecida das vítimas do casal maligno por causa da denúncia de
ter sido “emprestada” ao príncipe Andrews, amigo de Epstein, em três
ocasiões. O filho da rainha Elizabeth II resolveu a ação indenizatória
com um pagamento de 15 milhões de dólares antes que o caso fosse a
julgamento.
Por
que uma mulher adulta, com experiência nas mais altas esferas da
sociedade, adere ao mundo de degradação e crime criado por Epstein – e
protegido pelas barreiras que só o dinheiro pode propiciar?
Obviamente,
amor. Ela era totalmente apaixonada por ele e acreditava que um dia
iriam se casar, segundo uma amiga. “No começo, tiveram um envolvimento
romântico”, depôs Lawrence Paul Visoski, um dos pilotos do avião
particular de Epstein, apelidado de “Expresso Lolita”.
Pois
é, Epstein queria as Lolitas, não uma mulher adulta como Ghislaine.
Circulava com ela como se fossem um casal, aproveitando as portas que
lhe abria – inclusive para o príncipe Andrew, de quem Ghislaine tinha
sido amiga de juventude.
Um
milionário sedutor e abusivo era exatamente o mesmo perfil do pai dela,
Robert Maxwell, que também se suicidou em circunstâncias suspeitas
depois de perder seu império de mídia.
Amor
ou paixão são os sentimentos que movem um fenômeno relativamente novo, o
de mulheres que se transformam elas mesmas em abusadoras de crianças e
adolescentes, seguindo os caprichos perversos do homem a quem querem
agradar.
Ou
da mulher. Na Inglaterra, um dos casos recentes é o de Frankie Smith,
condenada a a doze anos de prisão por ter sido cúmplice no assassinato
de sua própria filhinha, Star, de apenas um ano e quatro meses.
Sua
companheira Savannah Brockhill, boxeadora amadora que trabalhava como
guarda de segurança, matou a menininha a murros ou chutes, depois de
meses de abusos bárbaros. Os ferimentos sofridos pela criança foram
comparados aos de um acidente de automóvel. Nesse período, às vezes a
vestiam de menino. A assassina pegou 25 anos de prisão. A pena inicial
da mãe, de oito anos, foi considerada branda demais e ampliada.
Vanessa
George tinha um homem com quem nunca havia se encontrado fisicamente a
quem queria agradar. Tinham se conhecido pelo Facebook. Vanessa usou sua
posição como funcionária de uma creche Plymouth para aceder aos desejos
de Colin Blanchard, que tinha outra mulher na rede de perversidades.
Tirou
mais de cem fotografias enquanto abusava de criancinhas na hora da
troca de fraldas. Usava vibradores e outros objetos, incluindo até um
brinquedo. Dezenas de pais assistiram seu julgamento, em prantos – e
atormentados por uma dúvida que nunca irão elucidar: nas fotos, os
rostos das crianças não apareciam, impossibilitando sua identificação.
Foram pelo menos trinta pequenas vítimas, embora se suspeitasse que até
300 pudessem ter sido abusadas durante os dois anos em que Vanessa
trabalhou na creche.
“Eu
culpava a mim mesma por ter acreditado que aqueles predadores queriam
realmente me ajudar”, disse Annie Farmer, uma das vítima de Epstein e
Ghislaine. A irmã dela, Maria, também foi abusada, com “efeitos
devastadores para ela e nossa família”. Entre outros tormentos,
Ghislaine convenceu Maria que podia ser morta andando em qualquer rua de
Nova York.
“De maneira simplificada, Ghislaine Maxwell é um monstro”, desabafou outra vítima, Juliette Bryant.
Mais
uma: “Eu testemunhei o impulso incansável e insaciável que ela tinha de
atender as necessidades sexuais de Epstein a qualquer custo para as
meninas e mulheres vulneráveis que caçava e dava a Epstein e outros
homens poderosos, a quem queria agradar”.
“Para
mim e para tantas outras, você abriu as portas do inferno”, resumiu
Virginia Giuffre, que foi “caçada” por Ghislaine quando tinha apenas
quinze anos.
“Como mulher, eu acho que você entendia o mal que estava causando – o preço que estava fazendo que nós, as vítimas, pagássemos”.
Mesmo
no mundo de cafetinas experientes, existem regras sobre a exploração de
menores. Como Ghislaine fechou tanto os olhos não só aos abusos, mas a
suas consequências na justiça?
Existem
ainda outras perguntas: como nenhum dos outros homens, mais ou menos
importantes, que desfrutavam dos “presentes” de Epstein, foi levado à
justiça criminal? E onde estão os vídeos que, segundo convicção
generalizada, o pedófilo fazia dos encontros sexuais dos poderosos a
quem cultivava?
Aos 60 anos, com duas décadas de cadeia garantida pela frente, Ghislaine Maxwell continuará em silêncio sobre eles?
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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