Persistir no que se mostrou errado não será apenas burrice, mas covardia. Artigo dos empresários Horácio Lafer Piva, Pedro Passos e Pedro Wongtschowski, publicado pelo Estadão:
A
História registra momentos substantivos, quando decisões são tomadas
para o bem ou para o mal. Por vezes eles chegam sem se anunciar, mas na
maioria dos casos uma análise mais cuidadosa mostrará com relativa
clareza a existência de antecedentes.
O
Brasil aproxima-se de algo assim. Um olhar criterioso em nossa História
recente descortina uma sucessão de erros, preconceitos, descasos, cujas
sequelas um dia afloram todas juntas e combinadas. Como já disse o
economista Marcos Lisboa, o subdesenvolvimento é um trabalho de muito
esmero.
Para
não nos prendermos a um período extenso, até por estarmos convencidos
de que o destino do País ainda aponta para um futuro de prosperidade,
fazemos aqui uma breve digressão sobre o delicado presente que nos une.
O
Brasil anda mal, muito mal. Não adianta se esconder atrás do sucesso do
agronegócio, das startups, da rica, embora maltratada, cultura e até da
ampla aceitação das vacinas contra a covid-19. O fato é que avançamos
mal em quase tudo para onde se olhe o País, revelando um desperdício
gritante de oportunidades e um desalinho criminoso diante de tantas
necessidades.
Não
há tempo a perder, tamanha a conjugação de eventos negativos antigos e
novos, seja pelo terror dos riscos incontroláveis de uma natureza que já
nos deu o que podia e agora se rebela, seja pelo avanço das
comunicações, que nos ligam a tudo e a todos o tempo inteiro num mundo
sem fronteiras digitais.
Em
pouco mais de um ano teremos eleições, que acreditamos serão livres e
democráticas, apesar das manifestações autoritárias do presidente. Há
tempo para muita coisa, inclusive coisa alguma.
Os
riscos, portanto, devem ser previstos desde já. Se não cabe serem
descritos aqui, posto que estão nos corações e mentes da maioria, devem
ao menos contar com uma pactuação refletida da parte dos brasileiros –
tanto os afortunados quanto os mais necessitados. Aos céticos propomos a
contra certeza de que mais do que nunca precisamos estar juntos.
Depois
de tantos reveses, não se concebe o Brasil jogado noutra aventura. Já
passou por dois modelos de gestão e conseguiu se dar mal em ambos. É
hora de buscarmos um novo caminho – uma alternativa de equilíbrio,
moderação e responsabilidade, com sentido de missão e foco em
resultados.
Ao
longo dos últimos tempos, estes três teimosos escribas escreveram sobre
uma série de assuntos que, longe de esgotar nossas preocupações,
buscaram provocar reflexões. Escaparam da defesa fácil do grupo a que
pertencem, apontando para a ciência e tecnologia, a educação, a
sustentabilidade, as fronteiras abertas, a redução das desigualdades, e
agora apelam para o que talvez seja o que há de mais importante no
engenho humano: a liberdade, a democracia sem sofismas e, como seu
veículo natural, a legítima atividade política.
Não
há mais espaço para visão binária. Não há mais razão para retrocesso.
Não há como negar o dito e o feito, nem aceitar a acomodação da escolha
do menos ruim, o que por si só já implica a não solução que insinua
péssimos resultados.
É
hora de zerar a contagem. Deixar para a Justiça os malfeitos. Recolher
as emoções e privilegiar a razão. Avaliar com argúcia o que se fala nas
rodas dos pretensos Poderes. Não se entregar aos malfadados benefícios
privados que aniquilam a Nação. Desconfiar de pleitos extemporâneos,
como voto impresso e mudanças na calada da noite da legislação
eleitoral. E iniciar um processo cuidadoso de avaliação das opções
políticas para 2022, entre a Presidência, o Congresso, os governos
regionais e as Assembleias estaduais.
Os
leitores deste republicano Estadão têm o papel fundamental de rechaçar
os maus políticos, repudiar o populismo, desprezar conchavos, buscar
convencer diuturnamente os hesitantes e usar sua influência para
espalhar a verdade sobre o custo que nos onera e o triste caminho que
estamos prestes a trilhar.
A
solução não está nem em Lula nem em Bolsonaro. O voto é livre e
soberano, mas, de tão sério, precisa ser exercido com alto grau de
discernimento. Ambos os aspirantes à corrida presidencial já são
personagens da História, que saberá julgá-los. Quanto a nós, é daqui
para a frente, e, por consequência, a partir de 1.º de janeiro de 2023,
que o Brasil se mostrará tanto a quem dele precisa quanto a quem dele se
quer orgulhar.
Qualquer
coisa que fuja de um verdadeiro e comprometido polo inovador e
democrático, como almejado pelos muitos grupos de discussão mais ou
menos indignados, mas majoritariamente sinceros nos propósitos e fartos
de soluções mal pensadas, será atitude homicida, quiçá, suicida.
Aos
leitores, um apelo: apliquem-se nas discussões, saiam ou não às ruas em
defesa de seus ideais, mas persigam o caminho da razão. Que é o que
melhor lidará com o nosso idiossincrático, complexo e sofrido momento.
Esse é o caminho para nos tornarmos um dos mais extraordinários países
do futuro.
Persistir
no que já se mostrou errado não será apenas burrice, será covardia. E,
se há que voltar à História, covardia é palavra vã no vocabulário do
brasileiro.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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