As vozes da Brasil Paralelo, da Jovem Pan e de qualquer organização ou indivíduo, à direita ou à esquerda, precisam ser preservadas a qualquer custo, sob o risco de nos transformarmos num arremedo de democracia, como em tantos casos conhecidos ao nosso redor. Carlos Alberto Di Franco para o Estadão:
Muitos
ainda acreditam que a democracia é simplesmente um sinônimo de eleições
regulares. Quase nada poderia ser mais simplista e enganoso. As
eleições são uma parte importantíssima do funcionamento democrático de
um país, mas serão apenas um instrumento de legitimação do que é
essencialmente ilegítimo se não acompanhadas por outros elementos
basilares: uma Constituição sólida, boas leis e bons juízes, três
Poderes que se complementam e se contrabalançam, liberdade econômica,
direito à propriedade e a sua defesa, direito de não ter de se submeter à
tirania de uma maioria (e muito menos de uma minoria), direito de não
ser perseguido, processado ou encarcerado sem o devido processo legal e,
também fundamental, como tão bem sacramentado na Primeira Emenda da
Constituição americana, o direito de expressar suas convicções morais,
políticas e religiosas, o direito de se reunir e se organizar com seus
concidadãos e, finalmente, o direito à liberdade de expressão e de
imprensa.
Assim,
sem perder de vista quão essenciais à democracia são as eleições
limpas, nunca podemos baixar a guarda para os que, geralmente às
sombras, trabalham incansavelmente para sabotar nossa democracia, seja
por motivos ideológicos, ou fisiológicos, mas invariavelmente para
concentrarem poder e se beneficiarem disso sem amarras legais ou morais.
O
mais recente arroubo de ataque às nossas bases democráticas veio da CPI
da Covid, ao pretender quebrar o sigilo bancário da produtora Brasil
Paralelo, da Rádio Panamericana (Jovem Pan), do canal Conexão Política e
outros veículos. Diante da repercussão negativa, Renan Calheiros
recuou. Retirou a Jovem Pan, mas manteve os demais. Demonstração de
indigência jurídica. Arbítrio pragmático e vergonhoso.
Sem
nenhum fato a fundamentar tal quebra de sigilo, a não ser a genérica e
não consubstanciada acusação de gerar fake news, o que fica explicitado é
que o único fator que reúne esses diferentes veículos de produção e
veiculação de conteúdo é o fato de terem entre seus articulistas e
jornalistas indivíduos que não subscrevem as narrativas predominantes.
O
simples fato de expressarem posições conservadoras – ou, se
preferirmos, de direita – os coloca em rota de colisão com aqueles que
querem retornar à hegemonia completa nos três Poderes para aplacarem
suas sanhas ideológicas e fisiológicas, de preferência enterrando de vez
toda a onda anticorrupção que se formou no País na última década.
Procura-se
agora iniciar uma nova frente de intimidação de vozes “inconvenientes”,
com a “cara” de uma perseguição política típica de regimes autoritários
(pois fundamentada em supostos desvios amarrados em uma denúncia
“coletiva” que não se sustenta em fatos específicos perpetrados por um
indivíduo ou organização) e escancarando, mais uma vez, agora no
Legislativo, um procedimento que inequivocamente se constitui em abuso
de autoridade, dado não haver nenhum lastro legal ou a mínima ligação da
quebra de sigilo com o objeto da própria CPI.
Recentemente,
em meu canal do YouTube, fiz uma longa entrevista com Henrique Viana,
um dos fundadores e diretor executivo da Brasil Paralelo. A pauta era
atual e pertinente: queria entender o crescimento exponencial da
iniciativa de um grupo de jovens intelectualmente inquietos e
inconformistas que, num momento de forte crise no jornalismo, é um
surpreendente caso de sucesso editorial e de audiência. Claramente um
ponto fora da curva.
A
entrevista ao vivo, com perguntas as mais variadas, minhas e do
público, rolou solta. Registro aqui, amigo leitor, elementos que, creio,
podem ajudar a construir um perfil da Brasil Paralelo.
A
empresa tem 110 funcionários. Conta com auditoria da Ernst & Young e
programa de compliance da Grant Thornton. Em cinco anos de existência
produziu centenas de horas de conteúdo, a que assistiram mais de 20
milhões de pessoas. E os números continuam crescendo. Com sua rede de
parceiros, pôs à disposição cerca de 250 cursos sobre temas como
história, filosofia, economia, ciência política, arte e música. Já
produziu mais de 60 documentários e filmes.
Ao
contrário de iniciativas bancadas com dinheiro público, e atendendo a
interesses de quem ocupa o poder, a Brasil Paralelo “nunca recebeu – e
nunca vai receber – nenhum centavo de dinheiro público”, segundo
Henrique Viana. “Somos 100% apartidários, independentes, e jamais
fizemos propaganda para nenhum político”, afirmou. Com mais de 200 mil
assinantes, e crescendo sem parar, comprometida com a busca da verdade
histórica e factual, desconstruindo narrativas ideológicas e inclemente
com políticos corruptos, a Brasil Paralelo começa a incomodar. Só isso
pode explicar a anunciada intenção investigativa da CPI.
Não
podemos deixar sucumbir a liberdade de expressão em nome de projetos de
poder, ideológicos, fisiológicos ou de qualquer outra natureza, sob
pena de vermos desmoronar os nossos alicerces democráticos. As vozes da
Brasil Paralelo, da Jovem Pan e de qualquer organização ou indivíduo, à
direita ou à esquerda, precisam ser preservadas a qualquer custo, sob o
risco de nos transformarmos num arremedo de democracia, como em tantos
casos conhecidos ao nosso redor.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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