A ascensão do Talibã e o entusiasmo expresso por grupos terroristas colocam duas situações opostas e interessantes para Israel. Artigo de Marcos Susskind, publicado pela Gazeta do Povo:
As rápidas mudanças no mundo Islâmico colocam questões importantes a respeito das consequências sobre Israel.
Quais são estas mudanças?
No
Irã há um novo presidente, Ebrahim Raisi, um protegido do líder
supremo, Aiatolá Ali Khamenei. Sua posse dá aos radicais o controle de
todas as partes do governo iraniano praticamente tirando de cena os
poucos moderados e reformistas que ainda detinham alguma influência.
Raisi foi o líder do judiciário iraniano, acusado de violações dos
direitos humanos, que ordenou a execução de 5.000 dissidentes políticos
em 1988. É considerado de linha dura e analistas estimam que colocará
sérias exigências para a permanência do Irã no acordo sobre
desenvolvimento de armas nucleares.
No
Líbano a situação econômica crítica leva a conflitos de interesses
entre as diversas facções. Lideranças Cristãs exigem que o governo
central assuma o controle do Sul do país, hoje em mãos do grupo
terrorista xiita Hezbollah; os drusos se dividem entre apoiadores e
opositores ao Hezbollah e os sunitas se sentem abandonados por sua
liderança. O ambiente de caos é bem explorado pelo Hezbollah apoiado
pelo Irã.
A
Faixa de Gaza segue dominada pelo também terrorista Hamas, grupo que se
identifica com a perigosa Irmandade Muçulmana, inimigos figadais da OLP
— Organização de Libertação da Palestina — que domina a área denominada
por uns como Margem Ocidental e por outros como Judeia e Samária.
Depois da guerra civil em que o Hamas derrotou a Fatah (principal grupo
da OLP), a situação em Gaza se deteriorou. Hoje o nível de desemprego
atinge 44%, sendo que na faixa de jovens até 27 anos o desemprego atinge
70% — terreno fértil para recrutamento de terroristas tanto pelo Hamas
como por outros inúmeros grupos que atuam na região tais como Jihad
Islâmica, FPLP, PRC, BMAA e outros menores. As diversas guerras levaram à
destruição de grande parte da infraestrutura de Gaza, porém, ao invés
de recuperar a infraestrutura, o Hamas investe pesado no fortalecimento
de sua estrutura militar e redes de túneis para confrontos futuros com
Israel.
Na
Síria, em guerra civil há mais de uma década, o esfacelamento político e
a interferência de potências estrangeiras não permitem visualizar
estabilização. Estão presentes na Síria tropas iranianas, turcas,
norte-americanas e russas, cada qual aliada a outro grupo tal como
Alauitas, Sunitas, Curdos etc. O caos interno não permite ao governo
qualquer manobra no campo das relações internacionais.
No
Iraque a situação não é muito diferente. Turquia luta contra os curdos
do PKK, iranianos e americanos se confrontam, o governo central não
conta com apoio popular, grupos terroristas do ISIS disparam foguetes e
enviam homens bomba contra seus oponentes.
Neste
caldo de ódio e confronto os olhos se voltam para o Afeganistão e a
recente tomada de poder pelo Talibã. É a segunda vez que o Talibã assume
o controle do Afeganistão. Na primeira vez, o país se tornou o paraíso
dos mais diversos movimentos terroristas Islâmicos. O Talibã permitiu as
bases de treinamento, os lugares de refúgio, a proteção e a liberdade
de ação. Isto poderia significar um alento e crescimento de movimentos
terroristas tais como Al Qaeda, Boko Haram, Jihad Islâmica, Hamas,
Houthis, Al Shabaab. Estes grupos podem inflamar o Oriente Médio, o
Norte da África bem como voltar a executar grandes atos terroristas em
todo o ocidente.
Os
países identificados com o Ocidente e aliados dos EUA no Oriente Médio
têm muito o que temer. Bahrein, Marrocos, Sudão, Arábia Saudita,
Emirados Árabes bem como grupos de países em confronto como os curdos no
Iraque e na Síria estão analisando os riscos que correm caso os EUA
retirem seu apoio tal como fizeram no Afeganistão.
E o que ocorre com Israel neste caldo?
A ascensão do Talibã e o entusiasmo expresso por grupos terroristas colocam duas situações opostas e interessantes para Israel.
No
campo interno, Israel precisa reforçar seus serviços de inteligência
para um eventual recrudescimento do terrorismo. O Talibã é o grupo
terrorista mais rico do mundo. Antes da tomada do poder, sua renda anual
era estimada em US$ 1,25 bilhão e deve crescer ainda mais. O controle
sobre o comércio de heroína e outros derivados do ópio que já era
fenomenal, passa a ser quase absoluto. A eventual liberdade de ação aos
grupos islâmicos coloca grande pressão sobre a segurança de Israel.
No
campo externo a situação se inverte. Os países do Oriente Médio
alinhados com o Ocidente têm muito o que temer. A saída rápida e a
consequente queda do Afeganistão em mãos de extremistas islâmicos
assusta todos os países que assinaram o chamado Pacto de Abraham e
também outros, que não o assinaram mas seguem sendo aliados aos
norte-americanos como Arabia Saudita, Omã, Jordânia, Egito e outros.
Para a maioria destes países, Israel se torna mais confiável que os EUA
e também melhor preparado para enfrentar os grupos terroristas tanto
por sua altíssima capacidade de coleta e análise de dados como a
capacidade de prevenção e reação a ataques. Assim, é grande a
probabilidade de aumento significativo de cooperação na área de
segurança entre estes países.
Os
acordos de Abraham já trazem inúmeros frutos econômicos e financeiros
para os Emirados, o Bahrein, o Marrocos e o Sudão. A troca de tecnologia
caminha a passos largos, as joint ventures proliferam, o turismo tem
imenso potencial, acordos entre universidades e hospitais e a cooperação
em segurança traz tranquilidade frente aos avanços do problemático Irã.
Não será diferente frente às ameaças terroristas. Assim, países como a
Arábia Saudita que ainda não estabeleceram acordo de paz com Israel
provavelmente buscarão cooperação na área de segurança, ainda que de
forma discreta frente ao público.
Esta
aproximação e cooperação pode se transformar em progresso também frente
aos palestinos. Depois de mais de uma década sem contatos, o novo
governo Israelense mostra uma discreta aproximação com as lideranças
Palestinas. Assim, o presidente de Israel, Herzog, telefonou a Mahmoud
Abbas, presidente da Autoridade Palestina e já conversaram em duas
oportunidades. O Ministro da Segurança Pública de Israel, Omer Bar Lev,
ligou a Abbas para desejar um feliz Eid El Adha, a festa religiosa mais
importante para os muçulmanos. A Autoridade Palestina enviou quatro
caminhões e um grupo de bombeiros que se juntou a 1500 bombeiros
israelenses lutando contra o imenso fogo nas montanhas de Jerusalém. O
Ministro da Defesa, Ganz, telefonou e agradeceu a Abbas ressaltando que
vivemos na mesma área e a cooperação é necessária.
Ministros
israelenses de diversas áreas vêm conversando por telefone com seus
pares na Autoridade Palestina. Tanto Bennet como Lapid visitaram a
Jordânia, um importante parceiro da Autoridade Palestina e o
Primeiro-Ministro de Israel deverá visitar o Egito.
Ainda
estamos distantes de conversas em volta de uma mesa. Mas depois de
muitos anos, as relações começam a se ajeitar e a pesada locomotiva da
paz parece se preparar para iniciar sua jornada.
Marcos L. Susskind, administrador e colaborador da StandWithUs Brasil.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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