A morte de Fakhrizadeh é um sinal claro de que o seu programa nuclear está (literalmente) na mira. Luciano Coutinho para a Gazeta do Povo:
O
principal cientista nuclear iraniano morreu depois que o carro em que
viajava pelos arredores da capital Teerã foi metralhado. Mohsen
Fakhrizadeh era o Maradona do programa nuclear iraniano. Ele comandava
as pesquisas que o regime dos aiatolás considera fundamental não apenas
para sua sobrevivência, mas também para destruição do Estado de Israel.
Há 40 anos, os iranianos perseguem o sonho da bomba atômica.
Em
janeiro deste ano, a morte do general Qasem Soleimani, em um bombardeio
no Iraque, foi motivo de muito choro e ranger de dentes dos iranianos.
Analistas nos quatro cantos do planeta caíram no conto do regime que
dizia que a história seria reescrita a partir daquela tragédia militar. O
mundo não acabou.
Em
menos de um ano, o Irã perdeu seu maior general e agora seu principal
cientista. As duas peças são conectadas, pois Fakhrizadeh não dava
expediente para melhorar a vida de compatriotas gerando energia farta e
mais barata. Ele era um dos nomes mais importantes do regime teocrático
que joga com uma profecia escatológica que prevê que, para o juízo final
chegar e todos os crentes (no caso só os muçulmanos) possam gozar dos
benefícios da vida eterna, é preciso destruir Israel.
Em
1979, quando os aiatolás expulsaram o xá Reza Pahlevi e deram início a
ditadura teocrática que segue comandando o país, as obras da primeira
usina nuclear iraniana foram abandonadas. Nos anos 80, as instalações
foram bombardeadas pelo Iraque. Inviabilizada, a usina de Bushehr virou a
compulsão dos aiatolás. Era o sonho de Soleimani e uma das missões de
Fakhrizadeh. A tecnologia empregada naquela instalação produziria um
tipo de rejeito fundamental para construção da arma nuclear. Teerã então
entregou a missão para os russos que atravessaram décadas sem conseguir
fazer funcionar a usina, cujo projeto original é alemão.
Em
2007, entretanto, Teerã mudou o jogo. Em uma visita a Caracas, o então
presidente Mahmoud Ahmadinejad pediu ao venezuelano Hugo Chávez a
intermediação para conseguir na Argentina uma cópia dos projetos da
Usina de Atucha, uma usina “gêmea” a de Bushehr. Chávez prometeu ajudar.
Nunca
se provou que o governo que Cristina Kirchner traficou os segredos
nucleares para Teerã. Mas um fato temporal é perturbador. Apenas três
anos após aquele encontro entre Chávez e Ahmadinejad em Caracas, o Irã
conseguiu colocar para funcionar a instalação nuclear que nos 31 anos
anteriores era o maior desafio tecnológico para os planos atômicos dos
aiatolás.
Bem, sem o mapa do caminho os iranianos não teriam avançado em três anos o que não foram capazes de fazer em trinta.
Em
2010, em um delírio da diplomacia altiva de Celso Amorim, o governo
Lula se meteu na esparrela de tentar costurar, com a ajuda da Turquia,
um acordo nuclear com Irã. Os aiatolás estavam em plena construção de
uma usina com documentos certamente contrabandeados de Buenos Aires,
enquanto Lula achava que ganharia o Nobel da Paz negociando com os
mestres das dissimulações. Uma idiotice que tinha tudo para dar errado,
pois o que o Irã queria – e os turcos e brasileiros ajudaram – era
apenas ganhar tempo.
Naquele
ano, prestes a inaugurar Bushehr e fazendo fanfarra com a turma de Lula
e Amorim, os iranianos esperneavam para não enviarem para depósito no
exterior os 1.200 quilos de urânio pobremente enriquecido que eles
tinham em poder. Cinco anos depois, quando Barack Obama fechou o acordo
com os iranianos, os estoques de urânio já ultrapassavam as 10
toneladas. Entre a alucinação lulista e a realidade firmada por Obama, o
Irã fez seu programa prosperar nas sombras. E, claro, o enriquecimento
do urânio já havia atingido outro patamar.
Recentemente,
a Agência Internacional Atômica, que é vinculada à Organização das
Nações Unidas (ONU), revelou uma das evidências mais fortes de que os
aiatolás jamais interromperam seu programa clandestino. Segundo a
agência, o Irã tem violado sistematicamente os acordos. Fatos que são há
tempos denunciados pelos governos de Israel e dos Estados Unidos, que
na administração atual rompeu os acordos com o Irã, por considerar que
os persas jamais os cumpriram.
O
atentado que vitimou o cientista-chefe do programa nuclear iraniano tem
mais potencial para elevar a temperatura na região que a morte de Qasem
Soleimani. A morte de Fakhrizadeh é um sinal claro de que o seu
programa nuclear está (literalmente) na mira.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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