Uma
bancada brilhante de analistas reuniu Aldo Rebelo, Christian Lohbauer e
Cláudio Couto sob a coordenação de Marcelo d’Angelo domingo na
BandNews.
“O
Brasil mostrou, nesta eleição, que é um país capaz de corrigir seus
próprios erros”. Do confronto entre os equívocos da direita e os
equívocos da esquerda de 2018 que empurrou o resultado para fora da
política, voltou-se para o centro com a derrota de todos os extremos, e
para a reafirmação da certeza de que não há salvação fora da política.
É
perfeito! Mas faltou encarar finalmente a evidência, velha como a
tragédia brasileira, de que dentro DESSA POLÍTICA nossa também não há
salvação.
A
coragem para dar esse salto para fora do nosso sistema deformado e
confronta-lo com os fundamentos básicos da democracia é o que está
faltando, não direi aos eruditos do nosso mar de siglas que interpretam
suas interações esotéricas que também têm o seu lugar no debate
nacional, mas ao menos à elite deles como esta que deu voos mais altos
no encontro de domingo à noite na BandNews.
Os
equívocos de 2018, tanto quanto o de 2002, foram erros conscientes de
sua condição de erro, cometidos no desespero depois de anos de
resistência, que o eleitorado finalmente se arriscou a cometer depois de
esgotar todas as alternativas oferecidas pelo Sistema estreito por onde
se esgueira. (Felizmente os erros pela direita levam menos tempo para
serem corrigidos).
O
que é preciso, agora, é construir um sistema onde as correções possam
acontecer mais rápido e com maior frequência. E para isso é preciso
escancarar as portas de entrada e tirar a pauta e a agenda da política
das mãos dos políticos e entregá-las ao povo.
Só
o povo tem legitimidade para dizer o quê e quando é preciso que os
políticos processem. A políticos que representem parcelas identificáveis
da população e do eleitorado nacional deve caber negociar em que doses,
em que velocidade e com que nuances deve ser executado o que o povo lhe
determinar que precisa ser feito.
Só
isso será capaz de restabelecer na boa direção a cadeia das lealdades,
redirecionar dos grupos em disputa pelo poder para o País Real os
projetos nacionais e, no limite, “despetrificar” o país e liberta-lo do
compromisso com os “erros” acertados pela privilegiatura.
Ninguém
do establishment quer pôr esse bode na sala por razões óbvias mas ele
está prestes a entrar triunfalmente nela. O que está eleição também
mostrou de forma irrefutável é que não há mais nenhuma bandeira crível
no baralho da velha política e nenhum partido vai ganhar o Brasil
vendendo sexo, drogas e revolución…
Chegou
a vez do “Poder para o povo” não só porque nenhuma outra moeda na
história da humanidade tem tanto poder de compra, faltando apenas quem
queira vendê-la com a credibilidade de quem pretende realmente
entregá-la ao único agente do Sistema que ainda não tem nenhum, mas
porque, ainda por cima, este é o único remédio fulminante conhecido para
a corrupção, a doença que se nós não controlarmos JÁ, acaba com o
Brasil.
É
isso que está por trás não mais da ideia, mas da história vivida do
voto distrital com recall, primeiro elo da cadeia desse círculo
virtuoso. Quem resumir primeiro essa receita para o eleitorado corre
imenso risco de se tornar o próximo dono do Brasil.
Postas as conclusões deles misturadas com as minhas, prossigo com uma “tradução livre” do que mais foi dito lá:
Bolsonaro
– um cara que ele mesmo não “é” nada, apenas um sindicalista de
fardados – está naquela clássica situação do sujeito com um santo numa
orelha e um diabo na outra, sussurrando sem parar:
“Se você continuar a gastança não termina o mandato”.
“Se você não continuar a gastança não termina o mandato”.
O resultado é o imobilismo.
E
é desse abismo que pende o destino do Brasil, um país exausto, paciente
de altíssimo risco para sobreviver a qualquer tipo de morbidade
adicional que venha a acomete-lo.
2018 foi o confronto de dois equívocos: o equívoco da direita versus o equívoco da esquerda.
Quem
vai liderar a reformulação da política para 2022? O melhor da velha
política já foi. Está na porta de saída. E a nova ainda não chegou.
Pela
esquerda o que surgiu foram dois lobos em pele de cordeiro: o Boulos da
eleição não era o Boulos real, da antipolítica e das ocupações; a
Manoela da eleição não era a Manoela real, da militância identitária das
redes sociais.
O
PSOL teve só 2 milhões de votos, elegeu 5 prefeitos e 88 vereadores no
país inteiro. É uma criança momentaneamente encantando crianças. É a
antipolítica pela esquerda. Não tem consistência programática nem
quadros.
Já a esquerda tradicional, PT, PC do B, foram os grandes derrotados da eleição.
Pelo
centro, as fraturas são visíveis. Há o João Doria do discurso de apoio a
si mesmo na vitória de Bruno Covas e há o discurso sem João Doria de
Bruno Covas e a performance do PSDB nas urnas, com destaque para Eduardo
Leite no RGS. Nada está garantido sobre com quem ficará a força da
social-democracia em 2022.
Pela
direita o DEM, esse animal estranho com pretensões programáticas no SE
mas com outra cara no NE, que cresceu muito na eleição, talvez seja um
eterno condenado a atuar somente no Congresso onde não assume jamais um
perfil sectário, o que o torna o grande fator de equilíbrio nos
bastidores das decisões mais importantes do país.
A
“bolha urbanóide” e a ignorância de tudo que está fora dela, no Grande
Brasil, é a explicação para o ambientalismo delirante que persiste por
aí.
***
Ao contrário dos Estados Unidos, o Brasil escreve sua história pelo que não deu certo; só cultua o que deu errado.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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