O ocaso do caudilho: "aos 72 anos de idade, Lula não pode se candidatar
agora e nem nas próximas cinco eleições presidenciais. Estará fora das
urnas até os 92 anos". Artigo de José Casado, publicado pelo jornal O Globo:
Ele passou os últimos 36 anos no palanque. Foi candidato a governador
de São Paulo, a deputado na Constituinte e a presidente. Falava
namorando microfones, spots e câmeras. Quando vencia, discursava três
vezes ao dia, de olho na próxima eleição. Na insônia das derrotas, fugia
da cama na madrugada, ia até a cozinha, abria a geladeira e, sob a luz
fria, fazia seu breve e secreto “comício” — ele descreveu a cena
inúmeras vezes em praças públicas.
Lula candidato, de novo, só em 2038. Não se fala sobre isso no PT nem
nos partidos adversários, mas o “fato concreto”, como ele dizia, é o
seguinte: ao confirmar a validade da Lei da Ficha Limpa para todos, a
Justiça Eleitoral declarou o ex-presidente inelegível pelos próximos 20
anos.
Em janeiro, ele foi condenado a 12 anos e um mês de prisão pelos
crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A sentença do
tribunal (TRF-4) foi reconhecida em duas instâncias superiores (STJ e
Supremo).
Na madrugada de sábado, foi enquadrado na lei (n° 135, de 2010)
aprovada no Congresso por unanimidade, celebrada pelo PT e sancionada
pelo próprio Lula, sem vetos. Ela determina que a inelegibilidade vai
“desde a condenação até o transcurso do prazo de oito anos após o
cumprimento da pena” (artigo 1º, inciso I, alínea E).
Resultado: aos 72 anos de idade, Lula não pode se candidatar agora e
nem nas próximas cinco eleições presidenciais. Estará fora das urnas até
os 92 anos.
É o principal personagem dessa safra de políticos punidos na Operação
Lava-Jato com o rigor das novas normas anticorrupção. Há outros na
mesma situação, como o ex-governador Sérgio Cabral e o ex-presidente da
Câmara Eduardo Cunha, antigos chefes do MDB do Rio.
Estão inelegíveis até 2040. Cabral já foi sentenciado a mais de um
século de prisão. A exemplo de Cunha e Lula, por enquanto, só teve uma
sentença confirmada em segunda instância judicial.
Lula candidato foi uma constante na vida política de 81 milhões de
brasileiros desde 1989, no primeiro voto direto para presidente depois
da ditadura. Hoje, eles compõem a fatia de 56% do eleitorado que vai às
urnas em outubro.
No ocaso do caudilho abre-se um novo ciclo na política brasileira.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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